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sábado, 17 de maio de 2014

O ADVOGADO DO DIABO



"A vaidade é o defeito que mais aprecio nos homens"

O Advogado do Diabo é um filme realizado em 1997 por Taylor Hackford e tem como protagonistas os atores Keanu Reeves e Al Pacino. 

O filme permite uma extraordinária reflexão do espectador sobre o problema do livre-arbítrio no ser humano. Este é o tema principal, embora nesta película possa também observar como é fácil o ser humano ser persuadido pela vaidade (Lomax deixa-se levar pelas tentações, que lhe surgem duma forma convidativa e mascarada).

Com uma certa conotação religiosa, o filme caracteriza problemas como egocentrismo, vaidade e ganância no homem, mostrando as consequências negativas que emergem caso esses pecados sejam exercidos.

Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um jovem e brilhante advogado que nunca perdeu um caso (tinha o impressionante recorde de sessenta e quatro vitórias e nenhuma derrota), mesmo que em certos casos nem ele acredite na inocência daqueles que defende. A certa altura, Kevin Lomax recebe uma tentadora proposta por parte duma grande firma de advocacia de Nova Iorque. 


Mas o cargo que Lomax aceitou não é bem o que parece. O Diabo estava implícito nas entrelinhas. A poderosa firma de advogados era dirigida pelo misterioso John Milton (Al Pacino). Mary Ann (Charlize Theron), a mulher de Kevin, é a primeira a perceber que algo estava errado, quando tem estranhas visões demoníacas e gradualmente entra num estado de depressão, mas Kevin não se preocupa muito com isso, apenas pretende vencer caso após caso. Milton, a encarnação do Diabo, vai “ensinando” a Lomax que a advocacia é o reino onde há inúmeros casos para se vencerem... e almas para se perderem. 

Os triunfos de Lomax no tribunal sucedem-se a um ritmo vertiginoso e a sua ascensão é rápida, mas isso tem um preço: a sua alma, a sua família, a sua vida. Como o Diabo lhe diz a certo passo, “talvez tenha chegado a altura de perderes”, mas a ambição, o egocentrismo e sobretudo a vaidade (“o pior defeito do ser humano”), levam-no a perder tudo: mulher, família, vida. 

Este filme, que fala sobre Direito e Lei, insere-se numa esfera de escolhas e decisões, que é o livre-arbítrio, tão retratado em diversas situações ao longo do filme.
Somos livres quando o que fazemos resulta apenas das nossas deliberações, quando escolhemos que ação está mais de acordo com os nossos desejos e valores e quando sentimos que podíamos ter agido de modo diferente sendo as causas anteriores iguais. Sabemos também que ao agir livremente, somos moralmente responsáveis por tudo o que fazemos. Deste modo, a liberdade humana está ligada à consciência.


Na última parte do filme, predomina a luta entre o bem e o mal assim como o livre-arbítrio. Kevin perde a sua mulher e descobre toda a verdade sobre John Milton, que ele é seu pai e ao mesmo tempo um demónio. 

Milton convence Kevin de que ele próprio foi o responsável pela morte da sua esposa, pois dera-lhe oportunidades para deixar os casos e cuidar da mulher doente, porém a sua vaidade e ambição foram superiores. Kevin acusa John Milton de ter manipulado os seus sentimentos, mas o diabo responde-lhe que a preocupação consigo próprio fora a sua única preocupação. Kevin Lomax, consciente desta realidade, arrepende-se, mas, Milton não pretende o seu arrependimento, mas sim que ele tenha um filho com a sua meia-irmã, a belíssima Christabella (Connie Nielson). No entanto, a decisão de Kevin devia ser espontânea e livre. Christabella tenta seduzi-lo com a sua beleza, mas ele recusa e, de seguida, olha para o seu pai e mata-se livremente, escolhendo o único caminho após tantos erros. A sua opção resultou unicamente das suas ponderações. 

No final do filme, a cena volta ao início do filme. Numa fração de segundo Kevin tem a oportunidade de olhar-se ao espelho e vislumbrar o destino do mundo dominado pela vaidade. Aliviado por ver a esposa Mary Ann, a sua consciência estimula-o a tomar a decisão correta de desistir do caso, uma vez que ele compreendeu que estava a defender o verdadeiro culpado.

Não podemos viver sem o livre-arbítrio porque a experiência da liberdade é constitutiva da experiência de agir. Agir pressupõe o livre-arbítrio, a completa autonomia para decidir a cada momento o que pretendemos fazer ao longo da vida. Qualquer decisão tomada é da nossa inteira responsabilidade. Devemos interpretar corretamente o que nos é sugerido, porque ser livre tanto é aceitar como recusar.

Gabriel Vilas Boas

2 comentários:

  1. EXCELENTE!!! GOSTEI MUITO... PARABÉNS GABRIEL!

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  2. Obrigado, Ana. Este foi um dos filmes que mais me desafiou intelectualmente. Sempre achei que mais tarde o mais cedo haveria de falar sobre ele...

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