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quarta-feira, 7 de maio de 2014

O ROMÂNICO EM AMARANTE (IV)

(Continuação)
O Românico é o estilo arquitectónico dominante na região de Amarante, daí o nosso concelho ser quase um destino obrigatório para quem queira documentar-se sobre o românico em Portugal. Aqui podemos observar alguns dos mais significativos exemplares que esse estilo arquitectónico nos legou!
O Românico individualiza-se e distingue-se dos demais estilos, essencialmente na arquitectura que se materializa numa construção típica que é a Igreja.
Arquitetura
A construção da igreja vai andar toda, à volta de um problema a que é imperioso dar solução: Resistência! Dadas as características da cobertura do espaço com abóbadas, todo o projecto tem que ser pensado para suportar o imenso peso da cobertura, o que origina construções maciças, habitualmente reforçadas com contrafortes e com poucas aberturas.
                O exemplar mais rico da arquitectura românica em Amarante e um dos mais destacados da região do Entre-Douro e Minho, é a Igreja de Travanca
Anterior à fundação da nacionalidade portuguesa e até à consolidação definitiva das primeiras monarquias cristãs da Espanha reconquistada – Astúrias, Leão e Navarras o Mosteiro de Travanca devia ter cerca de meio século de activa e útil existência quando o Conde D. Henrique, recebendo de seu sogro o encargo de defender e dilatar a terra portucalense começou a preparar, com o precioso auxílio de D. Tareja os alicerces da pátria…” (Boletim da D.G.E.M. Nacionais – Travanca – 1939)
                Esta Igreja apresenta inconfundíveis características da arquitectura românica:

1.- A Planta - Apresenta a forma de cruz latina

2.– Apresenta três (3) naves (ver figura anterior), sendo a nave central mais alta do que as naves laterais, que se traduz numa fachada de “ corpos interrompidos” com as vertentes do telhado interceptadas por empenas que põem em evidência a altura superior da nave central relativamente às colaterais


3.-Usa igualmente o motivo da rosácea, que ilumina a nave central, apesar de a mesma se revestir de grande humildade, como se pode ver na figura anterior.
4.-O Pórtico assenta em colunas, para acentuar figurativamente o portal de acesso, já que as bases e capitéis são esculpidos.

5.-Pilares, colunas - Para sustentar a abóbada usaram-se pilares e colunas.
Os pilares recebem o peso da abóbada central, contrapondo-lhe o peso das abóbadas laterais, bem como dos arcos que correm ao longo da nave central, originando-lhe uma secção cruciforme e um aspecto de robustez. As paredes exteriores são grossas e reforçadas com contrafortes exteriores como se pode verificar na figura anterior.
Pilares de Travanca

secção de pilar
                                        
6.-Situadas à cabeceira das naves aparecem as Absides cobertas com uma abóbada de quarto de esfera. Em Travanca só as naves laterais apresentam este pormenor já que a abside da nave central foi demolida em data não apurada e substituída por um prolongamento da nave central, contudo na capela-mor ainda se podem observar os arcos cegos, únicos vestígios da primitiva abside.
                                                                            Abside norte da Igreja de Travanca

O Mosteiro de Travanca tem um claustro encostado à parede sul da igreja e que apresenta as características românicas.
8.-Galilé- Era um espaço primitivamente usado como cemitério, ou lugar onde se enterravam pessoas nobres nos conventos beneditinos.
A galilé era um recinto coberto situado defronte da porta principal da igreja, geralmente sustentado por arcos levantados nas suas faces (caso de Gatão) ou assente em colunas com vigamentos (Telões)
Este espaço destinava-se também a proteger os fiéis que não cabiam no interior e há até exemplos de terem sido usados para colocar estatuária diversa.
Das igrejas românicas de Amarante, só três apresentam ainda a Galilé-  são elas a de Gatão a de Mancelos e a de Telões.
De realçar parece-me o caso da de Telões, que também serviu à primitiva função de cemitério de gente nobre, pois ali foi sepultado Dom Mem Gundar, nobre que, com o Conde D. Henrique viera para a terra portucalense, sepultura essa ainda visível no centro da galilé e assinalada com o nome do defunto gravado no granito da respectiva tampa.


A galilé de Gatão abre-se para o exterior por três arcos de volta inteira, rematados por fechos ornamentados com carrancas.

Planta de pormenor da Galilé de Gatão
As igrejas de Freixo de Baixo e Travanca apresentam ainda vestígios de elementos de suporte das respectivas galilés.
Na igreja de Travanca e a fazer fé no que escreveu Frei Leão de S. Tomáz, cronista da Ordem Beneditina, in “Benedictina Lusitana” a galilé já desaparecida (em 1630/1650) ostentaria três naves assemelhando-se quase a um segundo templo e, refere ainda o mesmo Frei Leão “ haver alcançado no ano de 1594” alguns vestígios dessa antiga construção.
António Aires
(continua)

2 comentários:

  1. EXCELENTE TEXTO, SOBRE O ROMÂNICO EM AMARANTE!!! GOSTEI MUITO. PARABÉNS!

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  2. Fico à espera da próxima lição!

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