Acácio Lino, 1878-1956
Ainda este ano, o meu amigo Manuel de Sousa,
autor da página do Facebook Porto Desaparecido, que eu recomendo vivamente,
organizou para os meus alunos um percurso pedestre pela cidade do Porto,
Património Mundial da Humanidade. O dia estava belíssimo e o passeio, temperado
pelas intervenções brilhantes do meu colega dos bancos da faculdade, agradou. A
zona histórica da cidade é deslumbrante e recheada de segredos inesperados; foi
assim que depois da visita à estação de S. Bento, rica pelos seus painéis de
azulejo, entrámos na pastelaria Serrana. Esta visita não estava prevista no
guião mas o Manuel de Sousa insistiu, dizendo que iríamos gostar, uma vez que o
grande grupo era amarantino"tal como o autor da tela que decora este
estabelecimento."- Disse.
De facto, o belo espaço interior contrastava com a fachada do que parecia ser uma simples confeitaria da rua do Loureiro. E o seu teto absolutamente único destacava-se porque decorado por uma tela de Acácio Lino, encomendada em 1912 para a Ourivesaria Cunha, famosíssima nos inícios do séc. XX.
De facto, o belo espaço interior contrastava com a fachada do que parecia ser uma simples confeitaria da rua do Loureiro. E o seu teto absolutamente único destacava-se porque decorado por uma tela de Acácio Lino, encomendada em 1912 para a Ourivesaria Cunha, famosíssima nos inícios do séc. XX.
Tela centenária de Acácio Lino, Pastelaria Serrana,
Porto
Este nosso conterrâneo, formado
na Escola de Belas–Artes do Porto, natural de Travanca, Amarante, onde nasceu
em 1878,deixou a sua marca um pouco por todo o lado. Aluno de Marques de
Oliveira e colega naquela escola de Aurélia de Sousa e de António Carneiro,
terminou a sua formação com distinção. Viajou até Paris uma vez que havia ganho
uma bolsa com a pintura “Camões junto ao túmulo de Natércia”.
Destacado naturalista mas também
exímio na pintura histórica, podemos encontrar as suas telas no Museu Grão
Vasco, no Museu Nacional Soares dos Reis ou no Museu José Malhoa. O Palácio de
S. Bento abriga também a Sala Acácio Lino que serve de gabinete de trabalho a
um dos grupos parlamentares que acede sempre de forma solícita a que os meus
alunos a visitem, de cada vez que nos deslocamos a Lisboa.
Pintura mural, Batalha de S. Mamede,
Sala Acácio Lino, Palácio de S. Bento
O Museu Amadeo de Souza-Cardoso dedica-lhe
uma sala e a mais recente Casa Museu Acácio Lino, em Travanca, é também um
espaço de excelência onde o nosso encontro com aquele artista pode ser bastante
produtivo.
Dele aprecio sobretudo a sua faceta
naturalista. Não vou hoje dissertar sobre esta corrente ou escola. Apetece-me
apenas deixar-vos com algumas das obras deste amarantino e colori-las com
alguma poesia. Não que elas tenham amarelecido com o tempo, num desmaio inoportuno.
Apenas porque entendo que poesia combina com pintura. E porque, para mim, estes
versos de Henrique Monteiro vem a calhar: coroam as paisagens sonhadas por Lino
e transportadas em pinceladas seguras de mestre para telas inesquecíveis, que
não devemos ignorar.
Acácio Lino, Paisagem com
rio,1922,óleo s/tela
Que é
da ternura fluvial
do verão,
do entardecer das aves
de lume carregadas?
Que é
do silêncio verde
de teus olhos,
dos areais de esperança
a sul do esquecimento?
Que é
Do fulgor das naves?
Que é
do secreto vento?
Henrique Monteiro, Poemas do Rio Sem
Viagem, in Cadernos do Tâmega
Acácio Lino, Entardecer, 1916, óleo
sobre madeira
2.
Que é
desse vento,
amor,
de que falavas?
Em que
colina
acesa
em que
giesta
ardente
adormeceu?
Que é
desse vento,
amor?
Henrique Monteiro, Poemas do Rio Sem
Viagem, in Cadernos do Tâmega
(continua)
Rosa
Maria Alves da Fonseca
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