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quinta-feira, 15 de maio de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DE ARMANDA PASSOS

Histórias de Outro Mundo, óleo s/tela

Armanda Passos nasceu no Peso da Régua, em 1944. Licenciou-se em Artes Plásticas, na Escola Superior de Belas Artes do Porto, perdendo-se a conta à quantidade infinda de exposições individuais e coletivas que protagonizou e em que participou.
Está representada na Secretaria de Estado da Cultura, no Porto, no CAM, Fundação Calouste Gulbenkian, na Fundação de Serralves, no Museu de Chaves, no Museu Nogueira da Silva, em Braga e claro, no muito nosso Museu Amadeo de Souza-Cardoso.

De Armanda Passos, aprecio a originalidade da sua obra, onde se inventa a mulher possante, a matriarca que se impõe, que domina. Quase sempre acompanhada de pequenos monstros, em forma de peixe, ou de pássaro, cobra ou ratazana, a lembrar as bestas de Bosch e a simbolizar prazeres ou condenações inadiáveis, algemas ou constrições.
S/Título, óleo s/tela

Inocentes ou malvadas, estas mulheres de rostos inconfundíveis porque quase sempre iguais ou pelo menos semelhantes, vêm acompanhadas de um jogo violentíssimo de cor, num inusitado de amarelos e roxos, de vermelhos rasgados de pretos ameaçadores, com uma carga expressionista a lembrar as vanguardas de inícios do Séc. XX, mas agora num neofigurativo pujante e avassalador. As vestes pinceladas e aturdidas, ostentatórias e quase pecaminosas porque excessivas de pompa e luxo, não são nunca descuradas.
Estas mulheres não são também isentas de personalidade: umas astutas, outras perversas, algumas dóceis e inocentes, outras muito vividas e desiludidas… como as quisermos adivinhar, interpretando a cor, a forma, a construção do espaço pictórico.
A bidimensionalidade contraria tratados renascentistas, e as suas personagens surgem achatadas, condenadas a um espaço redutor, sem ponto de fuga.
O traço é inequívoco, sem rodeios, quer nos desenhos, nos guaches ou nos óleos que não se cansou de criar.
Das  mulheres de Armanda, Miguel Cadilhe escreveu:
“Mulheres de ferro, antes quebrar que torcer, mulheres senhoras de si próprias, soberanas entre Deus e o Diabo (…). Mulheres grossas, semideusas, mulheres do fim do mundo, das noites de breu, mulheres mostrengas e adamastoras, erguendo-se a voar…”
Difícil a adivinhação…porque muitas são também “…mulheres insondáveis, mulheres de máscara: que verdade escondes tu?”
Insondável, indecifrável, simbólica, onírica é também toda a obra de Armanda Passos. Carregada de significâncias, de significantes, de significados.
Da sua obra, Vasco Graça Moura disse que “…a aparente indecifrabilidade da obra é, por vezes, a condição mesma da sua plurivocidade. (…) Porque não havemos de ficar, e de deixá-la ficar, por aqui?”

S/título, óleo s/tela

Rosa Maria Alves da Fonseca

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