Histórias de
Outro Mundo, óleo s/tela
Armanda Passos nasceu no Peso da
Régua, em 1944. Licenciou-se em Artes Plásticas, na Escola Superior de Belas
Artes do Porto, perdendo-se a conta à quantidade infinda de exposições
individuais e coletivas que protagonizou e em que participou.
Está representada na Secretaria
de Estado da Cultura, no Porto, no CAM, Fundação Calouste Gulbenkian, na
Fundação de Serralves, no Museu de Chaves, no Museu Nogueira da Silva, em Braga
e claro, no muito nosso Museu Amadeo de Souza-Cardoso.
De Armanda Passos, aprecio a
originalidade da sua obra, onde se inventa a mulher possante, a matriarca que
se impõe, que domina. Quase sempre acompanhada de pequenos monstros, em forma
de peixe, ou de pássaro, cobra ou ratazana, a lembrar as bestas de Bosch e a
simbolizar prazeres ou condenações inadiáveis, algemas ou constrições.
S/Título, óleo s/tela
Inocentes ou malvadas, estas
mulheres de rostos inconfundíveis porque quase sempre iguais ou pelo menos
semelhantes, vêm acompanhadas de um jogo violentíssimo de cor, num inusitado de
amarelos e roxos, de vermelhos rasgados de pretos ameaçadores, com uma carga
expressionista a lembrar as vanguardas de inícios do Séc. XX, mas agora num
neofigurativo pujante e avassalador. As vestes pinceladas e aturdidas, ostentatórias
e quase pecaminosas porque excessivas de pompa e luxo, não são nunca
descuradas.
Estas mulheres não são também isentas
de personalidade: umas astutas, outras perversas, algumas dóceis e inocentes,
outras muito vividas e desiludidas… como as quisermos adivinhar, interpretando
a cor, a forma, a construção do espaço pictórico.
A bidimensionalidade contraria
tratados renascentistas, e as suas personagens surgem achatadas, condenadas a
um espaço redutor, sem ponto de fuga.
O traço é inequívoco, sem rodeios,
quer nos desenhos, nos guaches ou nos
óleos que não se cansou de criar.
Das mulheres de Armanda, Miguel Cadilhe escreveu:
“Mulheres de ferro, antes quebrar
que torcer, mulheres senhoras de si próprias, soberanas entre Deus e o
Diabo (…). Mulheres grossas, semideusas, mulheres do fim do mundo, das noites de
breu, mulheres mostrengas e adamastoras, erguendo-se a voar…”
Difícil a adivinhação…porque
muitas são também “…mulheres insondáveis, mulheres de máscara: que verdade
escondes tu?”
Insondável, indecifrável,
simbólica, onírica é também toda a obra de Armanda Passos. Carregada de
significâncias, de significantes, de significados.
Da sua obra, Vasco Graça Moura
disse que “…a aparente indecifrabilidade da obra é, por vezes, a condição mesma
da sua plurivocidade. (…) Porque não havemos de ficar, e de deixá-la ficar, por
aqui?”
S/título,
óleo s/tela
Rosa Maria Alves da Fonseca
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