AO SOM DE... NEY MATOGROSSO E MANUEL FREIRE

Um fim-de-semana, dois excelentes concertos. O primeiro, sexta-feira à noite na Biblioteca Municipal de Amarante, com muita poesia à mistura, foi protagonizado por Manuel Freire, o segundo, no sábado à noite, no Coliseu do Porto com um sedutor nato, Ney Matogrosso. Pelo meio, um delicioso café no Palácio do Freixo, com uma deslumbrante vista para o Douro, ao som de um jovem violinista, qual Vanessa Mae tocando o seu violino elétrico, à espera de uns noivos que aí casariam ao final da tarde.

Dos dois músicos que se apresentaram em concerto, já todos conhecemos os dotes vocais, as convicções políticas e as preocupações sociais, mas ouvir um e outro, em registos e posturas diametralmente opostas é sempre uma experiência única e inesquecível. A língua é a mesma, as ideias coincidentes, a geração a que pertencem também, mas tudo o resto é de um antagonismo total. Manuel Freire apresenta-se como um homem sóbrio, vestido de preto, com uma guitarra nas mãos e como se estivéssemos numa conversa informal, vai-nos apresentando poetas, poemas, experiências de vida e convicções. Ney Matogrosso pelo contrário, é de uma exuberância total.

No espetáculo, intitulado Atento aos sinais, nome do seu último disco, Ney Matogrosso apresentou-se como há muito não o víamos, pois na sua última digressão, com  Beijo Bandido estava muito mais contido, cantando baladas e envergando um elegante fato cinzento e camisa branca. Ney Matogrosso provou que está em excelente forma física e vocal, pois durante uma hora e meia cantou e encantou a plateia que esgotou o coliseu. Usou e abusou da sua sensualidade, com gestos e poses que ele domina como ninguém e com os exuberantes figurinos apresentados.  A encenação foi perfeita, os efeitos de luzes, que ficam sempre a seu cargo, estiveram muito bem e os vídeos reproduzidos no fundo do palco em três faixas ao alto, foram ilustrando algumas músicas num efeito cénico de muito bom gosto. Os concertos de Ney Matogrosso são sempre muito completos pois nada é deixado ao acaso. Como ele próprio diz, ele canta, dança e representa, pois sobe ao palco como uma personagem e nunca como uma pessoa. Cada gesto, cada pausa, cada suspiro são estudados ao pormenor e só um grande artista como ele, consegue um espetáculo tão preenchido, o que faz com que tenha já um público fiel que não falha a um concerto seu. É sempre bom rever e reouvir Ney Matogrosso.

Para a semana voltarei aos compositores portugueses, mas esta semana justificava-se falar destes dois nomes da música, cada um no seu género e com o seu modo de ser, mas ambos por mim muito estimados e admirados.

Hoje, para audição proponho a Pedra Filosofal de António Gedeão com música de Manuel Freire e Todo mundo o tempo todo de Ney Matogrosso.

Margarida Assis