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quinta-feira, 22 de maio de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DE PIET MONDRIAN

Piet Mondrian, Auto-Retrato,1918
Óleo s/tela,88x71cm
Haia, Haags Gemeentemuseum

Nem sempre é fácil escolher um tema para conversar convosco neste encontro semanal. O mote desta vez foi dado por umas das minhas alunas, a Raquel. Interessada e atenta, fã de Pollock, de Mondrian e da arte em geral, dotada de um espírito crítico que não dá tréguas, numa das últimas aulas, trouxe-me para que eu visse, um livro sobre Mondrian que havia comprado e que recomendava.
Satisfeita porque me agrada sempre ver o interesse que os meus alunos devotam à disciplina, folheei-o com prazer. Os livros de Arte são únicos: é o toque do papel sedoso, as palavras que desvendam segredos, o cheiro, o encanto da cor. Neste que pude apreciar sem pressas, admirei as flores de Mondrian, as suas paisagens coloridas, a temática recorrente dos moinhos, as impressões noturnas em cromatismos expressivos que me surpreenderam e também deliciaram a todos. Afinal, numa viagem pelo tempo em que a autora Susanne Deicher nos transportou, observei diante de mim dois Mondrian: um, apenas holandês, guardião fiel de memórias e das cores de Rembrandt e de tantos outros, em busca constante da perfeição pictórica; o outro, envergando vestes parisienses, inovadoras, numa construção muito pessoal e peculiar, admirador de Picasso e de Braque, de quem busca o traço e a paleta quase monocromática.
Mondrian, nascido em 1872, em Amersfoort, uma cidade holandesa como tantas outras, encantada ainda com o esplendor do seu século de ouro, o séc. XVII, afirmava categoricamente querer tornar clássica a pintura moderna, para ele só comparável “à arquitetura dos gregos antigos”. Desejava combinar a tradição com o novo, fazendo da arte abstrata uma continuação da grande pintura dos séculos passados.
Interessou-se pelo tema da paisagem, na senda da tradição holandesa. As suas flores deliciavam protestantes que desejavam e pagavam por uma arte naturalista. Vincent Van Gogh serviu-lhe igualmente de inspiração, experimentando impressões noturnas, criando nas suas telas mundos novos, artificiais, distantes já da realidade envolvente.
Mas a sua partida para Paris transfigura-o. O Mondrian expressionista, simbolista e fauve, dá lentamente lugar a um dos mais radicais abstracionistas do séc. XX.
É assim que Mondrian se liberta da realidade e da figuração e conduz o cubismo até aos caminhos da abstração pura. Para trás ficam as flores de Mondrian, as paisagens, as vistas noturnas. Sobretudo, as flores, de que tanto gosto e que não resisto, aqui, a partilhar. Mas até elas sofrem contornos de modernidade à medida que Mondrian apura o seu estilo e caminha por veredas que o transportam para as desejadas vanguardas.


Piet Mondrian, Crisântemo, Aguarela sobre papel,
Nova Iorque, Coleção Sidney Janis
Piet Mondrian
Rosa num Copo, Aguarela sobre papel
Haia, Haags Gemeentemuseum

Profundo admirador de Picasso, cujas obras viu expostas em Amesterdão em 1911,e sob o impacto do Cubismo Analítico, Mondrian elabora nos tempos que se seguem um estilo a que vai chamar Neoplasticismo. Este movimento artístico holandês não se resumia à pintura. Englobava também a arquitetura, o design e a literatura, pelas mãos da revista De Stijl (O Estilo),onde Mondrian e Theo van Doesburg publicaram os seus pensamentos acerca do movimento e da Arte. Pioneiro da abstração geométrica, submete-se rapidamente à disciplina rigorosa da linguagem cubista. O Neoplasticismo, também conhecido pelo nome “De Stijl”,é abstração completa, limitação à linha e ao ângulo reto; limitação às três cores primárias -azul, amarelo e vermelho -em conjugação com as três não -cores- o branco, o cinza e o preto.


Piet Mondrian, Auto-Retrato,1918
Óleo s/tela,88x71cm
Haia, Haags Gemeentemuseum


A fase final da sua obra teve por cenário Nova Iorque, cidade que o tocou profundamente pela modernidade evidente da sua arquitetura e do seu traçado retilíneo e ortogonal. Deixo-vos com as telas desta fase final: Nova Iorque, Brodway Boogie-Woogie e Vitory Boogie-Woogie. Aqui, o domínio do homem sobre a Natureza é perseguido e talvez conseguido.

New York City, 1942
Óleo s/tela
Centro Georges Pompidou


Piet Mondrian, Broadway Boogie-Woogie, 1942
Oleo sobre tela, MoMA, Nova Iorque, EUA
Victory Boogie-Woogie, 1944, óleo s/tela
Coleção particular

















 Espero que gostem. Eu, devo confessar, tive de aprender a gostar. Com a idade, o gosto também se apura.
E agora, para animar um pouco a vossa leitura e trazer musicalidade à vossa fruição, fiquem com um “Boogie-Woogie”.

Rosa Maria Alves da Fonseca


4 comentários:

  1. Excelente texto!!! Lido ao som de Johan Blohm´s ( um "Boogie - Woogie" )! MONDRIAN, um Pintor Modernista, a sua obra continua a inspirar a Arte, o Design e a Moda. Gostei muito. Parabéns.

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  2. Muito obrigada, Ana, por nos seguir atentamente.Bem haja.

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  3. Também gostei muito do texto. E confesso-te que não tive de aprender a gostar de Mondrian... foi mesmo amor à primeira vista! Gosto desta complexidade simplificada, destes geometrismos e cores.

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  4. Mas tu foste sempre muito à frente...Anabelita. Eu não o entendi de imediato...agora é diferente.

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