Piet Mondrian, Auto-Retrato,1918
Óleo s/tela,88x71cm
Haia, Haags Gemeentemuseum
|
Nem sempre é fácil escolher um tema para conversar convosco neste encontro semanal. O mote desta vez foi dado por umas das minhas alunas, a Raquel. Interessada e atenta, fã de Pollock, de Mondrian e da arte em geral, dotada de um espírito crítico que não dá tréguas, numa das últimas aulas, trouxe-me para que eu visse, um livro sobre Mondrian que havia comprado e que recomendava.
Satisfeita porque me agrada sempre ver o interesse que os meus alunos devotam à disciplina, folheei-o com prazer. Os livros de Arte são únicos: é o toque do papel sedoso, as palavras que desvendam segredos, o cheiro, o encanto da cor. Neste que pude apreciar sem pressas, admirei as flores de Mondrian, as suas paisagens coloridas, a temática recorrente dos moinhos, as impressões noturnas em cromatismos expressivos que me surpreenderam e também deliciaram a todos. Afinal, numa viagem pelo tempo em que a autora Susanne Deicher nos transportou, observei diante de mim dois Mondrian: um, apenas holandês, guardião fiel de memórias e das cores de Rembrandt e de tantos outros, em busca constante da perfeição pictórica; o outro, envergando vestes parisienses, inovadoras, numa construção muito pessoal e peculiar, admirador de Picasso e de Braque, de quem busca o traço e a paleta quase monocromática.
Mondrian, nascido em 1872, em Amersfoort, uma cidade holandesa como tantas outras, encantada ainda com o esplendor do seu século de ouro, o séc. XVII, afirmava categoricamente querer tornar clássica a pintura moderna, para ele só comparável “à arquitetura dos gregos antigos”. Desejava combinar a tradição com o novo, fazendo da arte abstrata uma continuação da grande pintura dos séculos passados.
Interessou-se pelo tema da paisagem, na senda da tradição holandesa. As suas flores deliciavam protestantes que desejavam e pagavam por uma arte naturalista. Vincent Van Gogh serviu-lhe igualmente de inspiração, experimentando impressões noturnas, criando nas suas telas mundos novos, artificiais, distantes já da realidade envolvente.
Mas a sua partida para Paris transfigura-o. O Mondrian expressionista, simbolista e fauve, dá lentamente lugar a um dos mais radicais abstracionistas do séc. XX.
É assim que Mondrian se liberta da realidade e da figuração e conduz o cubismo até aos caminhos da abstração pura. Para trás ficam as flores de Mondrian, as paisagens, as vistas noturnas. Sobretudo, as flores, de que tanto gosto e que não resisto, aqui, a partilhar. Mas até elas sofrem contornos de modernidade à medida que Mondrian apura o seu estilo e caminha por veredas que o transportam para as desejadas vanguardas.
Piet Mondrian, Crisântemo, Aguarela sobre papel,
Nova Iorque, Coleção Sidney Janis
|
Piet Mondrian
Rosa num Copo, Aguarela sobre papel
Haia, Haags Gemeentemuseum
|
Profundo admirador de Picasso, cujas obras viu expostas em Amesterdão em 1911,e sob o impacto do Cubismo Analítico, Mondrian elabora nos tempos que se seguem um estilo a que vai chamar Neoplasticismo. Este movimento artístico holandês não se resumia à pintura. Englobava também a arquitetura, o design e a literatura, pelas mãos da revista De Stijl (O Estilo),onde Mondrian e Theo van Doesburg publicaram os seus pensamentos acerca do movimento e da Arte. Pioneiro da abstração geométrica, submete-se rapidamente à disciplina rigorosa da linguagem cubista. O Neoplasticismo, também conhecido pelo nome “De Stijl”,é abstração completa, limitação à linha e ao ângulo reto; limitação às três cores primárias -azul, amarelo e vermelho -em conjugação com as três não -cores- o branco, o cinza e o preto.
Piet Mondrian, Auto-Retrato,1918
Óleo s/tela,88x71cm
Haia, Haags Gemeentemuseum
|
A fase final da sua obra teve por cenário Nova Iorque, cidade que o tocou profundamente pela modernidade evidente da sua arquitetura e do seu traçado retilíneo e ortogonal. Deixo-vos com as telas desta fase final: Nova Iorque, Brodway Boogie-Woogie e Vitory Boogie-Woogie. Aqui, o domínio do homem sobre a Natureza é perseguido e talvez conseguido.
New York City, 1942
Óleo s/tela
Centro Georges Pompidou
|
Piet Mondrian, Broadway Boogie-Woogie, 1942
Oleo sobre tela, MoMA, Nova Iorque, EUA
|
Victory Boogie-Woogie, 1944, óleo s/tela
Coleção particular
|
Espero que gostem. Eu, devo confessar, tive de aprender a gostar. Com a idade, o gosto também se apura.
E agora, para animar um pouco a vossa leitura e trazer musicalidade à vossa fruição, fiquem com um “Boogie-Woogie”.
Rosa Maria Alves da Fonseca
Excelente texto!!! Lido ao som de Johan Blohm´s ( um "Boogie - Woogie" )! MONDRIAN, um Pintor Modernista, a sua obra continua a inspirar a Arte, o Design e a Moda. Gostei muito. Parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigada, Ana, por nos seguir atentamente.Bem haja.
ResponderEliminarTambém gostei muito do texto. E confesso-te que não tive de aprender a gostar de Mondrian... foi mesmo amor à primeira vista! Gosto desta complexidade simplificada, destes geometrismos e cores.
ResponderEliminarMas tu foste sempre muito à frente...Anabelita. Eu não o entendi de imediato...agora é diferente.
ResponderEliminar