A facilidade com que a morte arruma e arquiva os nomes que fizeram a nossa história coletiva é revoltante!
Só esta semana, conto o ator João Ricardo, o jornalista Pedro Rolo Duarte, o empresário Belmiro de Azevedo, o guitarrista dos Xutos & Pontapés.
É impossível não lhe ter raiva, porque não nos dá sossego nem tréguas. Brutalmente apaga-nos memórias importantíssimas da nossa geografia emocional e crava bandeiras negras, onde tínhamos plantadas jardins de sonhos.
A tristeza não estilhaça a alma apenas quando a relação é pessoal. Há gente que nos construiu sem nunca ter trocado connosco uma palavra, um aperto de mão, uma conversa de circunstância. Os artistas têm esse dom.
Há uns anos, quando Manuel António Pina faleceu, deixei de procurar a última página do JN, que para mim era a primeira, por sua causa. Dificilmente voltarei a ouvir “Hotel Babilónia” com o mesmo entusiasmo e acho improvável voltar a assistir a um concerto dos Xutos. Detesto que me apaguem o mapa sem aviso prévio nem autorização. Abomino o conluio que a Morte faz com determinadas doenças e nos levam pedaços de alegria genuína.
«O Zé Pedro dos Xutos morreu!».
À sua maneira, ele ajudou a construir um grupo ímpar na música portuguesa, que soube transpor e conquistar gerações.
Ouvi-lo no carro ou na aparelhagem lá de casa é pouco e é pobre. Soa-me a requiem e não àquela força de viver que silvava da sua guitarra.
Bom, bom era assistir aos concertos, pular, sentir a adrenalina que jorrava das canções que sabíamos de cor, perceber o prazer que dava a todos um êxtase coletivo formidável.
Do último concerto que vi dos Xutos, guardo a memória de uma performance extraordinária do Zé Pedro em “Para Sempre”.
E tal como refere o início da canção, ele sabe que
O nosso amor de sempre
Brilhará para sempre
GAVB
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