A América de Trump vive o frenesim das denúncias em catadupa
de assédios sexuais, praticados há uns anos. Tal como Emma Thompson tinha
previsto, Harvey Weinstein era só a ponto do iceberg, embora seja uma ponta
bastante extensa, dado o número de casos de assédio e violação que lhe são
imputados. Só entre os famosos, seguiu-se o realizador James Toback, o ator
Kevin Spacey (agora descrito como um predador sexual), o renomado Dustin
Hoffman (hoje mesmo acusado por Meryl Streep de lhe apalpar os seios em teste de
elenco) e mais alguns se aparecerão nos próximos tempos.
Aberta a caixa de Pandora, muitas denúncias estarão na calha, a
maioria delas ocorridas há largos anos, porque há muita raiva reprimida, muitas
contas por ajustar e, sobretudo, porque o poder mudou de mãos.
O assédio sexual, mas também o moral ou o laboral, é uma
forma ilegítima, imoral, repugnante até, de exercer o poder.
Quem assediava
sabia disso, quem era assediado também.
Podemos sempre contra-argumentar que
quem era assediado tinha o poder de denunciar. Tinha… e não tinha. Quem era
assediado estava, quase sempre, numa posição de fragilidade (económica, social,
física) e o mais normal era que a sociedade não desse crédito às suas denúncias. Bastava
apenas que não fosse bonita, para que se duvidasse da veracidade da sua
acusação. E se a isso se acrescentasse o facto de não ser famosa, então o caso
era enterrado em dias, e ela exposta ao ridículo, pelos media.
O ano passado, por esta altura do ano, o juiz do Supremo
Tribunal americano, Clarence Thomas, foi acusado pela advogada Moira Smith, de
assédio sexual em 1999. Moira, então com 23 anos, só denunciou o caso em 2016.
Na mesma altura, uma ex-funcionária do sexagenário juiz americano, Anita Hill,
confirmou a versão de Smith, dizendo que também fora vítima do assédio de Clarence
Thomas. Apesar das evidências, o juiz Thomas foi confirmado como uma dos juízes
do Supremo Tribunal americano.
O que distingue o caso do juiz Clarence Thomas, dos de
Harvey Weinstein, Toback, Spacey ou Dustin Hoffman? Anita Hill responde de
maneira elucidativa: as denunciadoras de hoje são mulheres lindas e poderosas.
Ninguém questiona que elas possam estar a mentir.
Tanto para assediar como para denunciar o assédio a questão
é sempre a mesma: PODER.
GAVB
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