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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

ASSEDIAR E DENUNCIAR: UMA QUESTÃO DE PODER

A América de Trump vive o frenesim das denúncias em catadupa de assédios sexuais, praticados há uns anos. Tal como Emma Thompson tinha previsto, Harvey Weinstein era só a ponto do iceberg, embora seja uma ponta bastante extensa, dado o número de casos de assédio e violação que lhe são imputados. Só entre os famosos, seguiu-se o realizador James Toback, o ator Kevin Spacey (agora descrito como um predador sexual), o renomado Dustin Hoffman (hoje mesmo acusado por Meryl Streep de lhe apalpar os seios em teste de elenco) e mais alguns se aparecerão nos próximos tempos.


Aberta a caixa de Pandora, muitas denúncias estarão na calha, a maioria delas ocorridas há largos anos, porque há muita raiva reprimida, muitas contas por ajustar e, sobretudo, porque o poder mudou de mãos.

O assédio sexual, mas também o moral ou o laboral, é uma forma ilegítima, imoral, repugnante até, de exercer o poder. 
Quem assediava sabia disso, quem era assediado também. 
Podemos sempre contra-argumentar que quem era assediado tinha o poder de denunciar. Tinha… e não tinha. Quem era assediado estava, quase sempre, numa posição de fragilidade (económica, social, física) e o mais normal era que a sociedade não desse crédito às suas denúncias. Bastava apenas que não fosse bonita, para que se duvidasse da veracidade da sua acusação. E se a isso se acrescentasse o facto de não ser famosa, então o caso era enterrado em dias, e ela exposta ao ridículo, pelos media.

O ano passado, por esta altura do ano, o juiz do Supremo Tribunal americano, Clarence Thomas, foi acusado pela advogada Moira Smith, de assédio sexual em 1999. Moira, então com 23 anos, só denunciou o caso em 2016. Na mesma altura, uma ex-funcionária do sexagenário juiz americano, Anita Hill, confirmou a versão de Smith, dizendo que também fora vítima do assédio de Clarence Thomas. Apesar das evidências, o juiz Thomas foi confirmado como uma dos juízes do Supremo Tribunal americano.

O que distingue o caso do juiz Clarence Thomas, dos de Harvey Weinstein, Toback, Spacey ou Dustin Hoffman? Anita Hill responde de maneira elucidativa: as denunciadoras de hoje são mulheres lindas e poderosas. Ninguém questiona que elas possam estar a mentir.

Tanto para assediar como para denunciar o assédio a questão é sempre a mesma: PODER. 

GAVB

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