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sábado, 25 de novembro de 2017

A TRAGÉDIA

          
Morava eu na Quinta da Torrinha, Ameixoeira, e muito perto havia um cinema, nas Galinheiras (800 metros em linha recta). Era um cinema construído em madeira e com telhas de zinco.
Numa noite de Inverno, preparo-me para ir ao cinema às Galinheiras e, como chovia muito, calço uns botins de borracha, meto as calças para dentro e com um guarda-chuva, meto os pés ao caminho. A distância era curta, atravessava por um atalho de um olival e em cinco minutos, punha-me lá.
Começou a sessão de cinema, a chuva não parava de cair, cada vez com mais intensidade, a tal ponto que era com dificuldade que ouvíamos o som do filme, tal era o barulho que a chuva fazia nas telhas de zinco.
Uma hora depois, o filme é interrompido por razões técnicas, a chuva começava a entrar dentro do cinema, na plateia já dava pelos tornozelos.

Venho embora, sem acabar de ver o filme, mas com a promessa de a próxima sessão ser grátis para os detentores do bilhete dessa noite.
O trajecto de volta para casa foi aterrador. De noite, só com uma lanterna, tive medo e não vim pelo atalho; por segurança, resolvi ir pela estrada até à Ameixoeira e de lá para casa.
Naquela estrada, a água dava-me pelos joelhos, já nem as botas me “safavam”. De repente, ouço um som esquisito, viro-me para trás com a lanterna e reparo que, empurrada pela enxurrada da encosta do olival, vinha uma árvore na minha direcção, ainda tentei correr, mas a única que coisa que consegui foi cair. Por sorte caí numa valeta e a árvore passou por cima, levando o guarda chuva e um bocado do meu casaco preso a um ramo.
Pensei que morria. Já sem luz, tinha perdido a lanterna na queda, a muito custo consegui chegar a casa, rasgado, encharcado e cheio de lama.
Mas que noite, pensava eu, sem imaginar a tragédia que decorria a dois quilómetros do local aonde estava.

  • No vale de Odivelas, milhares de pessoas lutavam pela vida, no meio daquele dilúvio -  era a fatídica noite de 25 de Novembro de 1967.
Naquela noite morreram mais de 500 pessoas.

 António Correia
                         

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