Agora que chega, finalmente, à presidência do PSD é que Rui
Rio percebe as agruras da política. As rasteiras, as traições, os jogos de
poder e cintura, a deturpação das suas palavras, as ideias que até são boas,
mas não podem ser anunciadas no atual contexto, a perseguição de determinados
jornais ou jornalistas… A lista é farta e só quem anda há pouco tempo no meio é
que acha que pode driblar todas as armadilhas... sozinho.
Rio é daqueles políticos que acha ser suficiente ser
honesto, de boas contas e medianamente corajoso para implementar medidas difíceis,
para ter êxito na política. Infelizmente para ele, o mundo em que vivemos
alimenta-se da imagem.
É verdade que não é possível aguentar muito tempo uma
boa imagem de um político medíocre, mas também é verdade que um bom político
pode passar completamente ao lado de uma carreia pública de relevo se não
souber comunicar, se não souber projetar um imagem de confiança, seriedade, empatia, realização.
Na construção (ou destruição) dessa imagem, a comunicação social desempenha um
papel relevante. E não se pode esperar que ela ajude o desajeitado político
quando este passou a vida a desprezá-la ou a ignorá-la ou a criticá-la. Nem nos
momentos em que se está a ser atacado injustamente.
Rui Rio é tão inábil com a comunicação social como um
elefante numa loja de porcelanas. De vez em quando nem repara nas cascas de
banana que lhe lançam e cai nelas alegremente.
Em comunicação “o que parece é”.
Adianta pouco que o tempo
prove que tínhamos razão ou que a justiça ou a legalidade seja reposta, se o
efeito útil dessa reparação já passou.
Não é por acaso que a política era a arte preferida de Maquiavel
nem que tantos políticos têm mil cuidados com as suas palavras em público e
outros cultivam relações privilegiadas com jornalistas.
Eles sabem
perfeitamente que os media podem «fazer»
um político, mas mais rapidamente o «desfazem».
Trazer Elina Fraga e Salvador Malheiro para a vice-presidência
do PSD, quando ambos estão envolvidos em inquéritos do Ministério público, é
brincar com o fogo em noite de verão e achar que nada de mal irá acontecer.
Ao fim de tantos anos na política, Rui Rio continua a
desprezar o papel da comunicação social e dos fazedores de opinião. Atualmente
nem os declaradamente próximos do PSD o vêem com bons olhos. Como será com os
outros? Rio precisa dos jornalistas para que as suas propostas não apareçam
deturpadas e não sejam prontamente combatidas pelos fazedores de opinião, o que
facilitaria enormemente a vida à esquerda e desgastaria a sua liderança em três
tempos.
Não foi Rui Rio que o disse, mas aquele “Eu nunca me engano
e raramente tenho dúvidas” assenta-lhe tão bem. Até Cavaco, mesmo senil, já
teve a ousadia de lhe chamar teimoso…
GAVB
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