Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade, ganhou protagonismo esta semana com mais uma tirada sobre os trabalhadores
portugueses – “As pessoas não querem trabalhar!”
A afirmação é desde logo uma afronta às dezenas de milhares
de pessoas que trabalham arduamente todos os dias, fazendo empresários como
Ferraz da Costa ganhar imenso dinheiro. É também uma afronta às dezenas de
milhares que procuram emprego há vários meses.
O homem que dirigiu a CIP durante vinte anos queria referir-se certamente a um número muito reduzido de desempregados que preferem a quase
indigência a um ordenado, mínimo que fosse, pelo seu trabalho. No entanto,
estes são poucos, apesar de haver políticos que nos queiram fazer crer que são
muitíssimos.
Todavia não é certo que Ferraz da Costa se referisse a esses
pobres de espírito. Lamentava-se o senhor engenheiro que “há falta de
mão-de-obra qualificada em diversos setores”, da agricultura ao turismo, da
indústria aos serviços, e dava como exemplo a sua situação: quisera abrir um
centro de engenharia no Porto e não encontrara recursos humanos. Esqueceu-se
foi de nos elucidar sobre um pequeno «pormaior»: que ordenados oferecia aos licenciados
em engenharia? Não era algo como 700 ou 800 euros, pois não? Eram ordenados ao
nível do que os nossos licenciados auferem em Inglaterra, Bélgica, Holanda,
França? Pois… ficamos sem saber.
Também ficamos sempre sem saber qual a relação entre o potencial do negócio e os ordenados propostos
aos candidatos.
Ferraz da Costa lamenta-se que Portugal só cresce 2,7% ao
ano, quando podia crescer 4%. É verdade, mas Portugal cresce 2,7% mantendo a
dignidade dos seus trabalhadores, cresce 2,7% depois de uma grave crise
económica e à boleia das ideias e do investimento de gente jovem, que montou o
seu próprio negócio e o fez crescer, tendo por base um modelo económico que
está nas antípodas do modelo económico que Ferraz da Costa andou a defender
durante vinte anos: salários baixos, empregados com baixas qualificações, pouco
inovação, quase nula formação profissional.
Ferraz da Costa esteve à frente da CIP durante vinte anos,
com governos de maioria absoluta e dinheiro da União Europeia a entrar a rodos.
Para onde levou a economia e a indústria portuguesas? Para a insignificância
internacional.
Caro, Pedro Ferraz da Costa, não se lamente dos
trabalhadores portugueses, mas dos empresários portugueses. Há um milhão de
portugueses altamente qualificados que trabalham no estrangeiro, onde os
patrões e empresários reconhecem o seu valor e lhes pagam justamente. Eles não
dizem que os portugueses não querem trabalhar. A questão é que eles não lhes
fazem propostas de salário indecentes. Eles não querem explorar os
trabalhadores portugueses, mas apenas contar com o seu esforço e saber.
Não são os trabalhadores portugueses que não querem
trabalhadores, mas antes os empresários portugueses que não querem investir,
que não querem remunerá-los corretamente, que não sabem que o trabalhador português
já não é o analfabeto que aceita tudo porque mal sabe assinar um contrato.
GAVB
Empresários e políticos deste país sois a causa da nossa impotência.
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