Em 1847, o industrial Engels, com apenas 27 anos e a viver
em Manchester, apresentou, ao jornalista radical Karl Marx, um grupo de
socialistas idealistas alemães que vivia exilado em Inglaterra. Logo aí Marx tentou
convencê-los a formar uma liga comunista. Como primeiro passo achava
fundamental a existência de um manifesto revolucionário que incitasse os
trabalhadores à ação. Algumas semanas depois, o manifesto de vinte e três
páginas lá apareceu, escrito a duas mãos: Karl Marx e Engels.
Estavam lançadas
as bases do programa político que haveria de derrubar algumas das velhas
monarquias europeias do século XIX e dividir o mundo político ao meio durante
grande parte do século XX.
O Manifesto foi publicado pela primeira vez, em alemão, a 21
de fevereiro de 1848, ou seja, há cento e setenta anos. Curiosamente, nesse
ano, por toda a europa imperava o fanatismo nacionalista e republicano. A
primeira tradução inglesa só surgiu dois anos mais tarde e logo na primeira linha
introdutória se podia ler algo de premonitório sobre o modo como esta nova
ideologia política ia ser encarada: “Um demónio assustador avança pela Europa”.
Paradoxalmente, quase dois séculos depois ainda há milhões de pessoas que assim
vê o comunismo.
«Um espectro assombra a europa – o espectro do comunismo.
Todas as potências da velha europa entraram numa santa aliança para exorcizar
este espectro: o papa e o czar, Metternicht e Guizor, [os conservadores que
lideram a Áustria e a França], os radicais franceses e os espiões polícias
alemães.
A história de toda a sociedade existente até agora e a
história da luta de classes.
O homem livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o senhor e
o servo, o mestre da guilda e o artesão, em suma, o opressor e o oprimido mantiveram-se
numa oposição constante uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora
oculta, ora aberta, que terminou sempre ou numa reconstituição da sociedade
geral, ou na destruição comum das classes em contenda.
… Os comunistas apoiam em toda a parte todos os movimentos revolucionários
contra a ordem sociopolítica existente.
Os comunistas recusam-se a ocultar as suas ideias e os seus objetivos.
Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube
forçado de todas as condições sociais existentes. Deixemos que as classes
dominantes tremam com uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a
perder, exceto as suas grilhetas. Têm um mundo a conquistar.
Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos.»
Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto Comunista, 1848.
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