«Com a saúde não se brinca!»
Ouvimos repetidamente isto ao longo da vida e o adágio
popular tem servido para que os governos e os particulares gastem fortunas com os cuidados de saúde e em especial com os medicamentos.
Não é verdade que a saúde não tenha preço. Tem e, por vezes,
ele é pornográfico, pois não há nenhuma justificação comercial, material ou até
lógica para alguns valores que pagamos.
Numa entrevista dada recentemente ao DN e à TSF, o
presidente do IPO de Lisboa, Francisco Ramos, referiu que, nos tempos que correm, o governo português
não tem qualquer capacidade negocial face às farmacêuticas e que estas testam
constantemente os limites financeiros do Ministério da Saúde, aumentando os
preços dos medicamentos, sem justificação, à boleia da chantagem emocional que
sabem poder fazer, dado que a opinião pública jamais perdoaria a um governo que
recusasse comprar um medicamento para um doente oncológico, absolutamente
necessário à sua sobrevivência.
Neste momento o teto da chantagem está nos 500 mil euros por
um só medicamento, para um único doente, durante um ano. Esta chantagem é um
abuso intolerável, até porque o principal argumento da indústria farmacêutica
colhe cada vez menos – os custos da investigação.
Se estivermos atentos, verificamos que muitas das verbas
aplicadas na investigação provêm de dinheiros públicos, de doações, do apoio de
fundações (que não pagam impostos). Se dermos uma olhadela pelos relatórios e
contas das farmacêuticas, concluímos que continuam com lustrosos lucros, o que
prova que a investigação (por muito dispendiosa que seja) não carece do esbulho
feito na venda de muitos medicamentos.
O estado português deve ser firme na relação comercial que
mantêm com as farmacêuticas, impondo-lhes regras fiscais condizentes com a sua
postura de responsabilidade social. Não é verdade que elas tenham a faca o
queijo na mão. A licença para atuar em determinado país depende do Estado assim
como o próprio licenciamento dos medicamentos que circulam. Se a ganância e a
má índole persistirem ainda existe a tributação especial para quem quer fazer
fortuna à custa do infortúnio alheio.
Também era bom que a União Europeia atuasse de forma
concertada, para que nenhum país, em situação económica frágil, ficasse à mercê
deste vírus da ganância.
GAVB
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