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domingo, 4 de fevereiro de 2018

O CANCRO DA CHANTAGEM NOS MEDICAMENTOS


«Com a saúde não se brinca!»
Ouvimos repetidamente isto ao longo da vida e o adágio popular tem servido para que os governos e os particulares gastem fortunas com os cuidados de saúde e em especial com os medicamentos.
Não é verdade que a saúde não tenha preço. Tem e, por vezes, ele é pornográfico, pois não há nenhuma justificação comercial, material ou até lógica para alguns valores que pagamos.

Numa entrevista dada recentemente ao DN e à TSF, o presidente do IPO de Lisboa, Francisco Ramos, referiu que,  nos tempos que correm, o governo português não tem qualquer capacidade negocial face às farmacêuticas e que estas testam constantemente os limites financeiros do Ministério da Saúde, aumentando os preços dos medicamentos, sem justificação, à boleia da chantagem emocional que sabem poder fazer, dado que a opinião pública jamais perdoaria a um governo que recusasse comprar um medicamento para um doente oncológico, absolutamente necessário à sua sobrevivência.

Neste momento o teto da chantagem está nos 500 mil euros por um só medicamento, para um único doente, durante um ano. Esta chantagem é um abuso intolerável, até porque o principal argumento da indústria farmacêutica colhe cada vez menos – os custos da investigação.
Se estivermos atentos, verificamos que muitas das verbas aplicadas na investigação provêm de dinheiros públicos, de doações, do apoio de fundações (que não pagam impostos). Se dermos uma olhadela pelos relatórios e contas das farmacêuticas, concluímos que continuam com lustrosos lucros, o que prova que a investigação (por muito dispendiosa que seja) não carece do esbulho feito na venda de muitos medicamentos.

O estado português deve ser firme na relação comercial que mantêm com as farmacêuticas, impondo-lhes regras fiscais condizentes com a sua postura de responsabilidade social. Não é verdade que elas tenham a faca o queijo na mão. A licença para atuar em determinado país depende do Estado assim como o próprio licenciamento dos medicamentos que circulam. Se a ganância e a má índole persistirem ainda existe a tributação especial para quem quer fazer fortuna à custa do infortúnio alheio.

Também era bom que a União Europeia atuasse de forma concertada, para que nenhum país, em situação económica frágil, ficasse à mercê deste vírus da ganância. 
GAVB

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