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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

CUIDADOS (DES)CONTINUADOS



Mais importante do que discutir e legislar sobre a eutanásia, mais necessário do que aumentar três ou quatro por cento as reformas mais baixas, aquilo que verdadeiramente teria um impacto fortíssimo na vida dos idosos, em Portugal, seria aumentar a rede de cuidados continuados.
Há milhares de velhos acamados, abandonados em camas de hospitais ou lares indignos, a morrer aos bocados, percorrendo em silêncio uma via-sacra de chagas, sem ninguém para os virar na cama, para os erguer, para os sentar numa cadeira. Sem ninguém que os leve a uma casa de banho, lhes dê os medicamentos na boca ou os coloque numa cadeira de rodas e os traga a uma varanda para sentir no rosto o prazer do vento que passa.

Durante uma década acompanhei regularmente um familiar que estava internado numa unidade de cuidados continuados. Conheço profundamente todas as dificuldades burocráticas para se aceder a um espaço desses e como ele é vital para o idoso e para as suas famílias, que a partir de certo momento não têm possibilidades materiais e físicas para corresponder às necessidades dos seus idosos.

Há um défice acentuado de camas disponíveis para quem precisa de cuidados continuados e, por isso, esta atividade tornou-se um negócio lucrativo. As famílias com posses, gastam entre mil a mil e quinhentos euros, por idoso, mas a maioria  não tem essa disponibilidade económica e por isso os idosos que conseguem a proeza de aceder a uma instituição pública que presta este tipo de cuidados entrega a totalidade das suas magras reformas e as famílias são muitas vezes coagidas a repor o valor em falta.
Com o aumento da esperança média de vida, cada ano que passa mais idosos precisam de cuidados permanentes. Não é um investimento barato, especialmente a nível de infraestruturas e recursos humanos qualificados, mas absolutamente necessário.

Se tivesse que eleger um projeto prioritário a nível de segurança social ou até a nível autárquico, em alguns concelhos do país, não tinha nenhuma dúvida em escolher o alargamento da rede de cuidados continuados.
É um projeto agregador e que fortalece a coesão intergeracional, além de ser reprodutivo a nível económico, pois emprega muitos profissionais de diversas áreas.
A aposta numa rede de cuidados continuados é o justo agradecimento a uma geração que nos trouxe até aqui e que merece partir com o máximo de dignidade possível.
GAVB

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