Mais importante do que discutir e legislar sobre a
eutanásia, mais necessário do que aumentar três ou quatro por cento as reformas
mais baixas, aquilo que verdadeiramente teria um impacto fortíssimo na vida dos
idosos, em Portugal, seria aumentar a rede de cuidados continuados.
Há milhares de velhos acamados, abandonados em camas de
hospitais ou lares indignos, a morrer aos bocados, percorrendo em silêncio uma
via-sacra de chagas, sem ninguém para os virar na cama, para os erguer, para os
sentar numa cadeira. Sem ninguém que os leve a uma casa de banho, lhes dê os
medicamentos na boca ou os coloque numa cadeira de rodas e os traga a uma varanda
para sentir no rosto o prazer do vento que passa.
Durante uma década acompanhei regularmente um familiar que
estava internado numa unidade de cuidados continuados. Conheço
profundamente todas as dificuldades burocráticas para se aceder a um espaço
desses e como ele é vital para o idoso e para as suas famílias, que a partir de
certo momento não têm possibilidades materiais e físicas para corresponder às
necessidades dos seus idosos.
Há um défice acentuado de camas disponíveis para quem
precisa de cuidados continuados e, por isso, esta atividade tornou-se um negócio
lucrativo. As famílias com posses, gastam entre mil a mil e quinhentos euros,
por idoso, mas a maioria não tem essa disponibilidade económica e
por isso os idosos que conseguem a proeza de aceder a uma instituição pública que
presta este tipo de cuidados entrega a totalidade das suas magras reformas e as
famílias são muitas vezes coagidas a repor o valor em falta.
Com o aumento da esperança média de vida, cada ano que passa
mais idosos precisam de cuidados permanentes. Não é um investimento barato,
especialmente a nível de infraestruturas e recursos humanos qualificados, mas
absolutamente necessário.
Se tivesse que eleger um projeto prioritário a nível de
segurança social ou até a nível autárquico, em alguns concelhos do país, não
tinha nenhuma dúvida em escolher o alargamento da rede de cuidados continuados.
É um projeto agregador e que fortalece a coesão intergeracional,
além de ser reprodutivo a nível económico, pois emprega muitos profissionais de
diversas áreas.
A aposta numa rede de cuidados continuados é o justo
agradecimento a uma geração que nos trouxe até aqui e que merece partir com o
máximo de dignidade possível.
GAVB
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