D. Afonso VI (1643-1683) teve a infelicidade… de ser rei. Se
a vida tivesse tido o seu curso normal, seria D. Teodósio o rei de Portugal,
mas o príncipe morreu aos 19 anos e o impreparado irmão Afonso lá subiu ao
trono, ainda que toda a gente soubesse que estava diminuído mental e
fisicamente pela meningite que o afetou ao terceiro ano de vida.
Quando toma posse do trono, fica nas mãos de dois seres
altamente astuciosos que marcarão o seu reinado e a sua vida de forma
indelével: a mulher, D. Maria Francisca de Sabóia, e o conde de Castelo Melhor, que, na prática governava o país, dada a incapacidade do rei.
Se o conde dava o «melhor»
de si para manter o seu reizinho em pé, a fogacidade de Maria Francisca não se
compadecia de um rei frouxo na cama. Por outro lado, a ambição do irmão de
Afonso, D. Pedro, ao trono e… à cunhada crescia a olhos vistos.
Os jogos de poder entre a nobreza armaram a armadilha
perfeita ao conde de Castelo Melhor e o
fraco rei foi incapaz de o segurar, impondo-se à dupla jogada do irmão e da
mulher.
Em pouco mais de seis meses (entre setembro de 1667 e a
primavera de 1668), o rei havia de perder o trono e a mulher. Sem o conde de
Castelo Melhor por perto, D. Maria Francisca abandona o paço e queixa-se da
falta de um rei viril na sua cama, o marquês de Cascais aconselha-o a abdicar
em favor do irmão, D. Pedro invade o Paço com um grupo de nobres seus
partidários até que D. Afonso VI resolve assinar a resignação a 22 de Novembro
de 1667.
Quatro meses mais tarde (24 de Março de 1668), é pronunciada a
anulação do casamento de D. Afonso VI com D. Maria Francisca de Sabóia, que
acusou publicamente o marido de ser impotente. (“Não se agradou Vossa Majestade
de mim, não é meu marido, como Vossa Majestade bem sabe!”)
Não lhe agradava D. Afonso, mas agradava-lhe e muito o
irmão, D. Pedro, especialmente depois de ter subido ao trono. Casaram dez dias depois da anulação oficial do primeiro casamento. O enlace com D. Pedro durou
ainda 15 anos, enquanto o infeliz D. Afonso VI enlouquecia, preso, num quarto, no palácio de Sintra.
No entanto, a sua maior loucura foi tentar tocar uma viola
sem ter unhas para ela.
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