Etiquetas

Mostrar mensagens com a etiqueta Comunicação Social. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Comunicação Social. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

RUI RIO AINDA VAI LAMENTAR O DESPREZO QUE TEM PELA COMUNICAÇÃO SOCIAL



Agora que chega, finalmente, à presidência do PSD é que Rui Rio percebe as agruras da política. As rasteiras, as traições, os jogos de poder e cintura, a deturpação das suas palavras, as ideias que até são boas, mas não podem ser anunciadas no atual contexto, a perseguição de determinados jornais ou jornalistas… A lista é farta e só quem anda há pouco tempo no meio é que acha que pode driblar todas as armadilhas... sozinho.

Rio é daqueles políticos que acha ser suficiente ser honesto, de boas contas e medianamente corajoso para implementar medidas difíceis, para ter êxito na política. Infelizmente para ele, o mundo em que vivemos alimenta-se da imagem. 

É verdade que não é possível aguentar muito tempo uma boa imagem de um político medíocre, mas também é verdade que um bom político pode passar completamente ao lado de uma carreia pública de relevo se não souber comunicar, se não souber projetar um imagem de confiança, seriedade, empatia, realização. 
Na construção (ou destruição) dessa imagem, a comunicação social desempenha um papel relevante. E não se pode esperar que ela ajude o desajeitado político quando este passou a vida a desprezá-la ou a ignorá-la ou a criticá-la. Nem nos momentos em que se está a ser atacado injustamente.
Rui Rio é tão inábil com a comunicação social como um elefante numa loja de porcelanas. De vez em quando nem repara nas cascas de banana que lhe lançam e cai nelas alegremente.

Em comunicação “o que parece é”. 
Adianta pouco que o tempo prove que tínhamos razão ou que a justiça ou a legalidade seja reposta, se o efeito útil dessa reparação já passou.
Não é por acaso que a política era a arte preferida de Maquiavel nem que tantos políticos têm mil cuidados com as suas palavras em público e outros cultivam relações privilegiadas com jornalistas. 
Eles sabem perfeitamente que os media podem «fazer» um político, mas mais rapidamente o «desfazem».
Trazer Elina Fraga e Salvador Malheiro para a vice-presidência do PSD, quando ambos estão envolvidos em inquéritos do Ministério público, é brincar com o fogo em noite de verão e achar que nada de mal irá acontecer.

Ao fim de tantos anos na política, Rui Rio continua a desprezar o papel da comunicação social e dos fazedores de opinião. Atualmente nem os declaradamente próximos do PSD o vêem com bons olhos. Como será com os outros? Rio precisa dos jornalistas para que as suas propostas não apareçam deturpadas e não sejam prontamente combatidas pelos fazedores de opinião, o que facilitaria enormemente a vida à esquerda e desgastaria a sua liderança em três tempos.
Não foi Rui Rio que o disse, mas aquele “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas” assenta-lhe tão bem. Até Cavaco, mesmo senil, já teve a ousadia de lhe chamar teimoso…
GAVB

quinta-feira, 14 de julho de 2016

O CABELEIREIRO DO HOLLANDE


Em França o assunto do momento já não é a humilhante derrota da seleção gaulesa frente aqueles nojentos dos “Bidonville”, mas o salário do cabeleireiro do presidente Hollande: dez mil euros. Sim, dez mil euros para pentear um careca, ou melhor, a calvície de um presidente que exibe algumas melenas na cabeça. Deve ser trabalhoso ter de lavá-las, penteá-las, pintá-las e portanto dez mil euros é um ordenado perfeitamente aceitável.
O fait-divers diverte a França que se mostra indignada com o seu presidente e levou François Hollande a responder: “Fiz diminuir o orçamento do Eliseu de 109 milhões de euros para 100 milhões, desde 2012 até agora. Reduzi 10% ao efetivo do Eliseu. (…) O meu salário foi reduzido em 30% e vêm ter comigo por causa de um assunto do qual não sou o primeiro responsável? Admito qualquer crítica, mas essa não!”

Hollande esteve bem na resposta, exceto no facto de… ter respondido, não respondendo. 
Hollande respondeu com aquilo que deve ser respondido: a despesa com o pessoal do Eliseu baixou; o ordenado do presidente baixou. O resto não interessa. Se não interessa, por que se deu ao trabalho de responder? E, optando por responder, por que não respondeu ao que lhe foi perguntado? Se ele não é o responsável pelo seu cabeleireiro pessoal, quem é?

A situação é ridícula e embaraçosa, mas a melhor maneira de a enfrentar ter sido não lhe responder ou dispensar os serviços de um cabeleireiro que a careca do presidente não justifica.
A resposta do presidente a este divertido fait-divers suscita-me no entanto uma outra reflexão: Hollande não se preocupou em explicar aos franceses o anémico crescimento económico da França, os problemas com os emigrantes, os sucessivos incumprimentos do défice público, a insatisfação dos trabalhadores, mas teve necessidade de justificar o salário bruto de um cabeleireiro, para dizer que era uma tontice. Daqui se pode concluir que Hollande só responde a tontices, porque para assuntos sérios não tem resposta.

Este fenómeno não é um exclusivo do presidente francês, mas de muitos políticos um pouco por todo o mundo. São notícia pelos faits-divers, estão sempre dispostos a alimentá-los quando não a provocá-los, mas fogem a perguntas sérias e objetivas sobre os principais problemas dos povos que governam.
Esta maneira oportunista e pequenina de atuação política e gestão da informação pública é estupidamente alimentada pelos media, especialmente a imprensa, que, em busca do último caso para entalar o seu odiozinho político de estimação, gasta o tempo e a paciência das pessoas com assuntos menores e esquece de apresentar e explicar o plano governamental (ou presidencial) para as diversas áreas económicas, sociais, culturais. Graças a esta gestão show off, vários diretores, ministros, primeiros-ministros escapam ao escrutínio das suas medíocres decisões, das suas omissões, dos seus enganos.

Quando passamos a vida a discutir o superficial, obviamente o essencial fica por avaliar. Depois é fácil escolher outro porque o resultado deste foi mau. O problema é que poucos sabem dizer por que correu mal, o que teria sido possível fazer de diferente nas circunstâncias em que determinadas decisões ocorreram.
Discutir o cabeleireiro de um careca é divertido, mas não deve ocupar mais tempo que o de uma boa anedota.
Gabriel Vilas Boas