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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

MINISTÉRIO PÚBLICO PROVOCA TERRAMOTO NA JUSTIÇA PORTUGUESA

O primeiro sismo ocorreu no princípio do século com o caso Casa Pia. O Ministério Público manteve em prisão preventiva um herói do povo, Carlos Cruz, um médico conceituado, um advogado e um jovem político em ascensão. A direção do Partido Socialista sucumbiu ao escândalo e só a grande sagacidade do ex-delegado do MP e irmão João Pedroso resgatou Paulo Pedroso às garras da Justiça, mas a carreira política terminou. O caso foi longo, mas a maioria dos réus foi condenada e cumpre pena. Foi a primeira e até agora única grande vitória do Ministério Público.

Apesar do alerta, a maioria dos poderes em Portugal não perceberam a mensagem e continuar a asneirar. Já nesta década, o Ministério Público, fazendo uso dessa arma letal que é a comunicação social (em especial o Correio da Manhã), acusou o maior banqueiro português (Ricardo Salgado), um ex-primeiro-ministro (José Sócrates), um ministro em funções (Miguel Macedo), um Diretor-Geral dos Registos e Notariado (António Figueiredo), um Procurador do Ministério Público (Orlando Figueira), um vice-Presidente de Angola (Manuel Vicente), o presidente do maior clube português (Luís Filipe Vieira), um juiz desembargador (Rui Rangel) uma juiz (Fátima Galante) e eminentes advogados. Pelo caminho já conseguiu a condenação de um ex-ministro, Armando Vara.

O Ministério Público já atingiu todos os poderes em Portugal, do político ao judiciário, do económico ao desportivo e mediático. Conseguiu também que a imagem de todos os arguidos fosse violentamente atingida, mesmo antes de se saber se vão ou não a julgamento. Encurralada pela pressão mediática, os juízes têm mandado todos os casos para julgamento, mas isso não quer dizer vitória para o Ministério Público. Só no final dos vários processos em fase de julgamento ou pré-julgamento veremos o efeito destruidor e libertador desta ação. Daqui para a frente o MP só tem um caminho – ganhar ou ganhar. Qualquer empate ou derrota, trará o inevitável ajuste de contas entre magistrados e juízes. 

A parada está altíssima e já não é suficiente louvarmos a coragem do Ministério Público, porque ela já não chega. É preciso que o Ministério Público tenha sido exemplarmente competente. Se cometeu qualquer gaffe pagará amargamente, pois desta vez leva juízes da Relação ao banco dos réus, leva Magistrados do próprio Ministério Público, leva gente amada pelo povo.

Ou o Ministério Público liberta e transforma a Justiça e a sociedade portuguesas ou põe a si próprio em sérios riscos, num futuro não muito distante.
GAVB

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