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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A RENDIÇÃO DA ESPANHA MUÇULMANA



Quem alguma vez visitou Alhambra (“cidade vermelha”), em Granada, pode imaginar a dor de alma que teve o sultão Boabdil ao entregar as chaves do último reduto árabe na península ibérica aos Reis de Espanha, Isabel e Fernando, que passaram a ter o cognome de “Reis Católicos”, por causa desta conquista terrena. Foi a 2 de janeiro de 1492, um ano que se viria a revelar marcante para a História espanhola, pois também nesse ano Cristóvão Colombo descobriu a América.

Os Reis espanhóis tiveram a «honra» de receber o pedido de rendição do Boabdil, o último rei de Granada, que usava o  curioso e apropriado cognome de o «pequeno». Quando assinou os documentos de rendição, o sultão conseguiu que nele constassem princípios de coexistência pacífica e sã convivência entre católicos e muçulmanos, pois esse era a tradição que vigorara no sul de Espanha, mormente em Córdova, onde foi possível a convivência entre judeus, cristãos e árabes.
No acordo de capitulação podia ler-se algo como “Que as mesquitas permanecem tal e qual como eram no tempo do Islão”; “Que as leis sejam preservadas como antes”, “Que todos os muçulmanos que optem por viajar ou residir no seio dos cristãos se sintam perfeitamente seguros em termos de pessoas e bens”.

Na verdade, estes postulados não passaram de hipócritas intenções, por parte dos cristãos. Para Fernando e Isabel era mesmo "tanto monta". O primeiro sinal de que nada daquilo seria para cumprir deu-se ainda em 1492, quando o Decreto do Alhambra determinou a expulsão dos judeus de Espanha. Quatro anos mais tarde, a população muçulmana que ainda restava no antigo emirado foi obrigada a converter-se ao cristianismo e um século mais tarde (1609), os «mouros», como depreciativamente eram chamados os muçulmanos, foram expulsos de Espanha.
Quando hoje, um muçulmano medianamente culto ouve os ocidentais, maioritariamente cristãos, verberar a intolerância religiosa dos muçulmanos, deve abrir um largo sorriso irónico e triste, porque o que é verdadeiramente triste é usar a religião como fundamento da intolerância e da bestialidade humana.

GAVB

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