Quem alguma vez visitou Alhambra (“cidade vermelha”), em
Granada, pode imaginar a dor de alma que teve o sultão Boabdil ao entregar as
chaves do último reduto árabe na península ibérica aos Reis de Espanha, Isabel
e Fernando, que passaram a ter o cognome de “Reis Católicos”, por causa desta
conquista terrena. Foi a 2 de janeiro de 1492, um ano que se viria a revelar
marcante para a História espanhola, pois também nesse ano Cristóvão Colombo
descobriu a América.
Os Reis espanhóis tiveram a «honra» de receber o pedido de
rendição do Boabdil, o último rei de Granada, que usava o curioso e apropriado cognome de o
«pequeno». Quando assinou os documentos de rendição, o sultão conseguiu que
nele constassem princípios de coexistência pacífica e sã convivência entre
católicos e muçulmanos, pois esse era a tradição que vigorara no sul de
Espanha, mormente em Córdova, onde foi possível a convivência entre judeus,
cristãos e árabes.
No acordo de capitulação podia ler-se algo como “Que as
mesquitas permanecem tal e qual como eram no tempo do Islão”; “Que as leis
sejam preservadas como antes”, “Que todos os muçulmanos que optem por viajar ou
residir no seio dos cristãos se sintam perfeitamente seguros em termos de
pessoas e bens”.
Na verdade, estes postulados não passaram de hipócritas
intenções, por parte dos cristãos. Para Fernando e Isabel era mesmo "tanto monta". O primeiro sinal de que nada daquilo seria
para cumprir deu-se ainda em 1492, quando o Decreto do Alhambra determinou a
expulsão dos judeus de Espanha. Quatro anos mais tarde, a população muçulmana
que ainda restava no antigo emirado foi obrigada a converter-se ao cristianismo
e um século mais tarde (1609), os «mouros», como depreciativamente eram
chamados os muçulmanos, foram expulsos de Espanha.
Quando hoje, um muçulmano medianamente culto ouve os
ocidentais, maioritariamente cristãos, verberar a intolerância religiosa dos
muçulmanos, deve abrir um largo sorriso irónico e triste, porque o que é
verdadeiramente triste é usar a religião como fundamento da intolerância e da
bestialidade humana.
GAVB
Nem mais, Gabriel!
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