Thérèse Dreaming, de Balthus |
O recente escândalo sexual que envolve importantes figuras
do meio artístico norte-americano voltou a espoletar a polémica sobre a maneira
como olhamos para as obras de arte daqueles que passaram de anjos a monstros.
A obra de arte tende a endeusar o seu criador, criando-lhe
uma aura ética e moral que muitas vezes não corresponde à realidade. O
marketing dos agentes tratam de limar comportamentos, porque o público quer
artistas que sejam boas pessoas. A questão é que entre os artistas (e também
nos melhores) há pessoas de várias castas. O problema apenas surge quando algum
deles tem um comportamento ético, moral ou até legal reprovável.
Aí rapidamente o público faz o percurso inverso e transmuta
a repulsa que sente pela pessoa do artista na sua obra de arte. Aquilo que era
genial já não presta ou é altamente questionável.
Escultura "Haute Couture 04 Transport" de Inês Doujak, |
Por muito que isso nos custe, acho que devemos separar ética
de estética. Uma coisa é a obra de arte e o seu valor, outra é o comportamento
social e pessoal do seu criador. Misturar as duas coisas é ceder à cegueira das
emoções e ser injusto avaliador.
É fácil aceitar que a arte não seja moralista, que não seja
politicamente correta, mas difícil conceber uma arte sem ética, quer no seu
conteúdo quer no comportamento de quem a faz. No entanto, esse parece ser o
caminho mais correto. É possível dizer que o artista é um escroque, mas aquilo
que criou sublime.
É bom não esquecer que arte sempre foi provocadora, que
adora chocar, interrogar, desafiar. Além disso, a história da arte está cheia
de gente pouco recomendável a nível pessoal, especialmente quando falamos de
relacionamentos: Polanski, Picasso, Woody Allen, Miles Davis, Max Ernest, entre outros.
Fizeram coisas execráveis? Sim, fizeram e devemos assinalar isso, mas também
devemos analisar o que fizeram de extraordinário em prole da arte, sem tentar
manchar o bom ou justificar o mau.
Além
disso, já sabemos, desde de Fernando Pessoa, que o artista “é um fingidor! Finge
tão completamente,/ que chega a fingir que a é dor/ A que deveras sente"
GAVB
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