Parece que os cristãos estão a perder o medo de dizer, por
atos, o que pensam do casamento, do divórcio e do modo como a Igreja deve
encarar as relações entre as pessoas.
Desde que o Papa Francisco deu ordem para a flexibilização
da nulidade dos casamentos católicos, o número tem aumentado de ano para ano, de
forma consistente. E continuará a aumentar.
As condições para obter a nulidade são conhecidas da
generalidade das pessoas (não consumação física do casamento, incapacidade
psíquica para consentir, violência ou medo…), o que mudou foi o modo de fazer a
prova. Agora também é admissível a prova testemunhal, o que facilita bastante a
aprovação do pedido.
A Igreja pode invocar os argumentos que quiser, dizer que
não há divórcio nem anulação do casamento, mas antes que «o casamento não foi
válido», que o resultado será sempre o mesmo: duas pessoas que estavam casadas
pela Igreja deixam de o estar e podem contrair novamente matrimónio católico.
Era bem melhor que a Igreja se deixasse de eufemismos e
assumisse que o casamento católico pode acabar como o civil, quando ambas as
pessoas deixam de se amar. Invocar impotência de uma das partes ou deficiência
psíquica ou até coação psicológica de um dos cônjuges sobre o outro quando a
relação durou anos é tentar desfazer uma mentira com outra mentira.
Então essa pessoa que não consumou um casamento durante
anos, daqui a uns meses já está capaz de consumar novo casamento com outra(o)
mulher ou homem? E, se houve coação ou ameaça, como pôde ela durar tantos anos?
Como não pensar que ela pode suceder novamente?
Claro que o divórcio é a derrota do casamento, mas apenas
para «aquele» casamento e não para a instituição do casamento. Os católicos
continuam a acreditar no casamento e por isso sempre desejaram esta
flexibilidade da Igreja, que agora chega, ainda que envergonhadamente, o que é
pena.
Quando um cristão pede a anulação do seu casamento católico
está antes de mais a dizer que não quer viver uma mentira. Quem dirige a Igreja
deve perceber a mensagem que os fiéis transmitem em cada época, porque só assim
a Igreja Católica pode ser uma Igreja viva e participada.
GAVB
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