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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

TOMATINA: UMA BRINCADEIRA QUE "VIROU" ATRAÇÃO TURÍSTICA


Há gente de todo o mundo, da Índia à Alemanha, do Brasil a Itália, da Rússia a Marrocos – a Tomatina de Bunol, em Valência (Espanha) já faz parte do mapa turístico espanhol e tem direito a figurar nas notícias de férias de verão como uma atração turística prazerosa.
Vinte mil pessoas, cento e sessenta toneladas de tomates e adultos com uma enorme vontade de brincar na lama do tomate.


Há certamente gente de todas as idades nesta icónica festa espanhola, mas as imagens trazem-nos sobretudo jovens adultos, o que deixa a entender quão presente ainda está, num homem ou mulher de trinta anos, a vontade de brincar. Libertar o instinto, deixar correr a alegria, descobrir o prazer de pregar partidas e ser alvo delas.
Acho que a Tomatina é mais que uma festa de cor, de belas fotos, de happening social, pois penso que ela revela também a criança que permanece em cada adulto. Ora, se achamos aceitável, saudável até, participar nestas brincadeiras quando somos adultos, também devemos valorizá-las nos mais pequenos.

Quantos de nós estariam disponíveis para uma Tomatina familiar ou entre amigos? Muitas vezes, penso que formatamos demasiadamente cedo os nossos filhos para as exigências do mundo adulto e torcemos o nariz quando eles querem apenas brincar. Acusamo-los de se fecharem no smartphone, mas fazemos o mesmo e sobretudo não brincamos com eles. Um adulto sanciona uma brincadeira quando participa nela. Dá-lhe estatuto e importância.

Com fotos ou sem elas, as memórias felizes de infância também se constroem com brincadeiras onde se suja muita roupa e ninguém tem medo do ridículo, nem de perder, porque nelas todos ganham aquela alegria de que são feitas as pessoas felizes.
gavb

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A MOBILIDADE DOCENTE POR DOENÇA É SEMPRE BEM APLICADA?


Dentro da mobilidade docente, a mobilidade por doença é aquela que suscita maior melindre entre os professores, porque envolve a saúde das pessoas, porque cada caso é um caso, porque suscita grande desconfiança entre colegas, ainda que muitas vezes ela não seja verbalizado.
As regras são claras e conhecidas da maior parte dos docentes e abrangem não só a doença do próprio professor como de um filho ou de um pai/mãe. Provar dependência absoluta de um pai/mãe doente não é, infelizmente, não é muito difícil para um professor.

A questão que coloco é se o uso reiterado desta exceção não introduz uma certa injustiça na colocação de professores. Infelizmente, não é comum o ME divulgar dados sobre pedidos aceites e recusados de mobilidade por doença, para podermos ter uma opinião mais sustentada sobre a dimensão da exceção. Seria interessante percebermos quais as razões mais atendíveis, mais evocadas e até as mais recusadas.
Noutra perspetiva, seria benéfico ou não, para a transparência do processo, os ME divulgar uma lista dos professores que beneficiaram deste tipo de mobilidade bem como o número de vezes que o solicitaram e obtiveram parecer positivo?
Percebo perfeitamente que ninguém goste de ver a sua situação de saúde ou dos seus exposta, mas a boa aplicação da lei não merece transparência absoluta? Não nos sentiríamos todos mais confortáveis?

GAVB

terça-feira, 29 de agosto de 2017

SÃO JUSTAS AS REIVINDICAÇÕES DOS PROFESSORES QZP?


Em minha opinião, apenas em alguns casos a luta é legítima e justa.
Antes de mais há que separar legalidade, legitimidade e justiça e perceber o que está em jogo.
O que está em jogo: muitos professores dos quadros de zona pedagógica foram “obrigados” a permanecer no seu quadro de zona pedagógica (em muitos casos a centenas de quilómetros da sua residência), pois não encontraram vaga no concurso de mobilidade interna, como pensavam obter. Isto aconteceu porque o Ministério da Educação separou temporalmente a colocação dos professores em horários completos da colocação de professores em horários incompletos. Ora, muitos professores QZP tinham a expectativa de conseguir colocação num horário perto de casa, em horário incompleto, mas com a colocação diferida dos horários completos e incompletos, essa expectativa saiu gorada e os professores QZP revoltaram-se, ao perceber que outros professores menos graduados ocuparão os lugares por eles desejados.

A opção do Ministério da Educação tem perfeita cobertura legal (a lei é omissa quanto à obrigação da saída das colocações em horário completo e incompleto simultaneamente) e é legítima, pois faz sentido que o ME não queira desperdiçar dinheiro e por isso tente atribuir todos os horários completos a quem tem a obrigação de lhe pagar o ordenado completo (professores do quadro) e deixe os horários incompletos para os contratados (sempre o elo mais fraco, sempre aqueles que ficam a perder em todo o processo).

O problema e também a relativa injustiça deste processo é que o ME sabe que alguns/muitos horários incompletos se tornarão completos nos primeiros dias de Setembro, quando neles forem inseridos alguns cargos ou, por exemplo, o Desporto Escolar. Nesses casos (e não são tão poucos assim), faz sentido a revolta dos professores do QZP. Também faz sentido, à luz de uma certa lealdade processual. Os professores QZP executaram a sua candidatura no pressuposto de que os procedimentos do ME quanto à colocação dos professores do quadro em horário completo e incompleto seria em simultâneo, já que tinha sido essa a prática em anos anteriores. Por isso, muitos deles sentem-se injustiçados e traídos pelo ME.
Muitos colegas dirão que os professores QZP quiseram beneficiar de algo a que não tinham direito e que o tiro lhes saiu pela culatra. Em muitos casos, isso parece-me evidente, mas não em todos!  Por isso, além de cortar com as esperteza saloia, o ME tem de garantir a total justiça no processo de colocação de professores. Para tal, não há melhor método de que todos conhecerem as regras com que contam antes de submeter as suas candidaturas, nas várias fases do processo.
GAVB 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

UM PASSEIO NA RIA FORMOSA


A ideia e a oportunidade surgiram um pouco por acaso, depois de uma infrutífera tentativa de jantar no Noélia & Jerónimo, em Cabanas de Tavira. O senhor Amílcar regressava da última viagem do dia pela Ria e trazia um ar satisfeito e feliz. Precisou de poucos minutos de conversa para me convencer a um passeio no seu barco, no dia seguinte, pela ria mais formosa do país.

Tinha-me comprometido a levar mais duas pessoas, mas, no dia seguinte, apareci com três e ele com mais três. À hora marcada, o barco do Amílcar deslizou sorrateiramente pela Ria Formosa, em direção a Olhão. A água límpida e calma parecia um manto de veludo onde o barco estendia o corpo enquanto nós recebíamos o afago do sol e deliciávamos o olhar com o belo recorte com que a natureza findou Portugal.

Foi então que o guia decidiu parar o barco, parar as explicações sobre a formação da Ria e as várias espécies animais que a habitam, para apreciarmos melhor o voo das aves, o doce baloiçar da embarcação, o silêncio da Ria, cada carinho que os raios de sol faziam nos nossos corpos preguiçosos. Permanecemos alguns minutos ainda, observando a profundidade das águas, conversando sobre a vida das gentes que vivem à custa do que a Ria Formosa lhes dá. Ao longe, um par de jovens fazia vela, outros barcos percorria apressados a Ria e um veleiro, com bandeira francesa, fazia uma viagem descontraída em busca da primeira saída para o Oceano.

Apeteceu-me ficar mais tempo, mas o senhor Amílcar tinha mais belas reentrâncias da Ria para nos mostrar. Antes de chegarmos perto dos flamingos, que habitam um lugar da Ria mesmo frente a Tavira, conduzi a conversa para outros lugares icónicos da água doce em Portugal: a Ria de Aveiro e o rio Douro. O senhor Amílcar já conhecia a terra e a ria dos ovos-moles de ginjeira, mas nunca tinha feito a subida do Douro. Fizemos-lhe o convite em forma de desafio.

Entretanto, chegamos à zona dos flamingos. Tínhamos de os ver de perto. Em silêncio, com alguma distância, porque a beleza e a elegância gostam pouco de ser importunadas. Depois empreendemos a viagem de regresso, entrecortada por mais algumas pausas, para mais uma conversa, para fazer umas fotos com mais calma, para apanhar ostras. Como num passo de mágica, o barqueiro presenteou-nos com algumas ostras, capturas naquele momento e subtraídas à Ria para que o nosso jantar tivesse algo de diferente.
Quando o passeio terminou, o sol já dava sinais de cansaço e todos estavam muito satisfeitos com aquela tarde diferente sobre o suave ondear de águas tão formosas.

Cheguei a Cabanas poucos minutos antes da cozinha da dona Noélia abrir. Às 19 horas já não havia mesas disponíveis. Alguns minutos depois comecei a perceber o porquê de tanta fama, sobretudo no que ao peixe diz respeito. A noite ainda traria outras agradáveis surpresas, mas a memória da beleza da Ria era ainda tão intensa!

GAVB

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

UMA DESGRAÇADA HERANÇA PORTUGUESA


Collor de Mello, Dilma, Temer, Lula… - o desfile no Palácio do Planalto sucede-se e a doença da corrupção parece cancerígena. Não é um problema da presidência, porque muitos outros políticos brasileiros sofrem do mesmo problema de pele. Diria até que não é um problema dos políticos brasileiros, pois eles são eleitos democraticamente, escolhidos pelo povo e muitos regressam a cargos públicos, porque voltam a ter a confiança da população. O problema está, obviamente, no povo brasileiro que é muito tolerante com aquilo que é intolerável.

A corrupção é intolerável, visto que é uma traição absoluta à Confiança
O argumento que o outro faz igual, que todos fazem o mesmo é um péssimo argumento, porque não resolve o problema e ainda por cima é mentiroso.
A corrupção será sempre um atraso civilizacional e um forte travão ao desenvolvimento económico de um país. Não há nenhum país rico e poderoso que tenha na corrupção um problema estrutural.
De nada vale investir em infraestruturas, saúde ou educação se não destruirmos uma mentalidade alicerçada no favorzinho.

Saímos do Brasil e chegamos a Angola e temos o mesmo problema. Angola podia ser isto e aquilo, mas na verdade é apenas um país subdesenvolvido, poluído de ricos que sugaram os vastos recursos naturais do país e preferem gastar o seu excessivo dinheiro em compras no Chiado e na Avenida da Liberdade.
Cabo Verde e São Tomé poucas ruas alcatroadas têm, as suas crianças andam descalças e o sistema de saúde e educação são rudimentares, no entanto são países independentes há mais de quarenta anos e lá ficam alguns dos resorts mais procurados pela elite portuguesa. A Guiné-Bissau é, provavelmente, a mais importante plataforma africana de tráfico de pessoas, droga e diamantes. Uma autêntica offshore do crime a céu aberto.

O que é que há de comum nesta desgraça africana e sul-americana? Portugal. Pior do que um fraco desenvolvimento económico e social, pior que uma desorganização congénita, foi esta mentalidade pobre e desgraçada que tolera a corrupção, que deixamos como herança.

É verdade que disfarçamos melhor quer os brasileiros ou os angolanos, mas é só isso. Os anos passam e pouco muda. Também é por causa disto que os mais capacitados dos jovens portugueses almejam mostrar competências no estrangeiro; também é por causa disto que há pouco investimento estrangeiro em Portugal. 
GAVB

terça-feira, 22 de agosto de 2017

A MODA DAS MORADAS FALSAS NAS AUTÁRQUICAS


Há umas semanas foi notícia a tentativa de alguns encarregados de educação inscreverem os seus filhos em escolas públicas de referência, recorrendo a moradas falsas. Até estavam dispostos a pagar para que alguém atestasse falsamente que moravam onde, de facto, não residiam. Qual virgem ofendida e incrédula, o Ministério da Educação ordenou um processo de inquérito para abafar o processo nos media. Quando se chegar à óbvia conclusão inconclusiva já o 1.º período estará a terminar e os alunos alvo de inquérito a frequentar a escola que queriam.

Na política passa-se o mesmo há décadas. Irrita-me particularmente o caso das eleições autárquicas, pois os candidatos afirmam pela sua honra e dignidade o amor à sua terra. O mais caricato é que muitos deles andam a candidatar-se à Junta ou à Câmara de uma freguesia ou concelho que não são os seus, mesmo nas barbas dos eleitores.

Depois de oito ou doze anos na Junta X ou na Câmara Y (normalmente onde residem), o vício e a dependência do poder são tão grandes que os impele a candidatar-se à Junta K ou à Camara W, normalmente maiores ou mais influentes. Sem pudor algum, lá vêm com a lengalenga do amor à terra, da vontade de ajudar os seus novos conterrâneos. Onde para a honestidade intelectual desta gente? Não era mais verdadeiro assumir o desejo de serem políticos profissionais, hoje candidatos em Leiria, daqui a dez anos em Sobral de Monte Agraço e daqui a vinte na Guarda? Se reparamos bem, este tipo de político raramente está disponível para baixar de patente. Se era presidente de uma Junta pequena quer ser de uma maior ou de uma Câmara; se era presidente de Câmara pequena quer ter o mesmo cargo numa de maior relevância; se era vice-presidente, quer ser presidente. Obviamente que a política para esta gente não é servir, mas servir-se.

Para as próximas eleições autárquicas, deixo uma pequena lista de gente ilustre que gosta tanto da terra onde reside habitualmente que vai candidatar-se a outra a quilómetros de distância. Maria Luís Albuquerque (PSD) candidata-se por Setúbal, apesar de ser de Braga; Ilda Figueiredo é de Aveiro, mas apresenta-se às eleições autárquicas em Viana do Castelo; Paulo Trigo, do PS, embora resida em Lisboa, acha melhor candidatar-se a Setúbal; Teresa Caeiro (CDS) mora em Lisboa, mas acha melhor tentar a sua sorte na política autárquica em Faro. Podia dar mais exemplos, inclusive no concelho onde resido há mais de uma década, mas é desnecessário, pois os casos são do conhecimento público local e só é enganado quem quer.
Entretanto e já que o ME é lento em processo de inquérito que não interessam nada resolver, talvez o Ministério da Administração Interna queira averiguar estes casos evidentes de falsas moradas nas matrículas para as próximas autárquicas. Se calhar não quer… a ministra continua muito tão comovida com os incêndios que não toma decisões até ao Natal.

GAVB        

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

DORMIR NU FAZ BEM À SAÚDE



Nu ou de pijama? As opiniões divergem, mas os estudos científicos nem por isso. Cada vez há mais estudos que mostram as vantagens, para a saúde, de dormir sem roupa.
A médica americana Jennifer Landa sustenta que a temperatura mais elevada, criada pelo uso de roupa, nas zonas íntimas, ajuda ao aparecimento de fungos e bactérias, responsáveis por algumas doenças genitais.

Outra conclusão científica, ainda que óbvia não deve deixar-se de assinalar, é que a nudez ajuda a estreitar laços. 
Outro dado a ter em conta, é o resultado de um inquérito promovido pela associação Cotton USA que refere que os casais que dormem nus são mais felizes que aqueles que dormem com pijama. Ora a felicidade conjugal é um argumento de peso que devemos ter em conta. Não é um dado científico mas confirma uma tendência…
Quem não dá crédito a estudos a estudos de opinião nem a opiniões de médicos se sente pudor ou vergonha da sua nudez sempre tem a hipótese de dormir de pijaminha.

GAVB

domingo, 20 de agosto de 2017

O TERRORISMO ESTÁ EM TOUR PELA EUROPA

14.7.2016 - Nice, França
Um tunisino, ao volante de um camião, matou oitenta a cinco pessoas, quando uma multidão assistia ao fogo-de-artificio comemorativo do dia nacional de França. O EI reivindicou o atentado.


19.12.2016 – Berlim, Alemanha
Outra um tunisino, outra vez um camião (desta vez roubado), entra, de rompante, por um mercado de Natal, e mata onze pessoas. O Ei reivindicou o atentado.

22.03.2017 – Londres, Inglaterra
Um inglês, convertido ao Islão, atropelou uma multidão, na ponte de Westminster, ao volante de um carro alugado. Depois, apunhalou um agente policial que lhe fez frente. Ao todo, morreram cinco pessoas. O EI reivindicou o atentado.

07.04.2017 – Estocolmo, Suécia
Novamente um camião, agora conduzido por uzbeque, lançou-se contra várias pessoas, numa rua para peões, da capital sueca. O atentado rendeu quatro mortos ao EI e à sua causa diabólica.



03.06.2017 – Londres, Inglaterra
Uma carrinha abalroou peões, junto a uma ponte londrina. Depois, os ocupantes correram até ao mercado de Brough, apunhalando gente na passagem. Mataram oito pessoas. O EI reivindicou o atentado.

17.08.2017 – Barcelona, Espanha
Uma carrinha branca galgou a primeira das Ramblas, percorreu 500 metros e matou 135pessoas, ferindo mais de 100, 15 dos quais em estado grave.O EI reivindicou o ataque.


O ataque de Barcelona é o sexto ataque terrorista na Europa no espaço de treze meses e o quarto dos últimos cinco meses.
O terrorismo islâmico está em tour pela Europa, qual caravana do terror, atingindo com uma precisão de sniper as principais cidades dos mais poderosos países europeus – França, Espanha, Inglaterra, Alemanha. Agride também as cidades mais turísticas, mostrando que o terror não se dirige apenas aos franceses, ingleses, espanhóis ou alemães, mas aos cidadãos de todo o mundo, porque o EI quer demonstrar a todos os que amam a liberdade, a democracia e a boa relação entre povos, quanto os odeia.


Mais do que uma questão ideológica, política ou religiosa, os atentados reivindicados pelo EI provam que há no mundo gente, com poer e dinheiro, que abomina um mundo sem medo, sem guerra, sem barreiras e onde as pessoas se entendem.
Como muito bem assinalou Merkel, o que aconteceu em Barcelona, Paris, Berlim ou Londres é um atentado a um estilo de vida livre, pacífico e ordeiro de quem sabe conviver com a diferença.


Infelizmente, o mundo desenvolveu-se acentuando as assimetrias e por isso muitos países africanos e asiáticos estão longe do desenvolvimento europeu. Há quem diga que na Rússia não acontece «disto» e que o EI deixou de ter como alvo os EUA, desde que Trump foi à Arábia Saudita selar novo entendimento económico e geopolítico.
Não é preciso infundir medo a quem já vive com ele há décadas. O que estes atentados provam é que os senhores do medo e do terror estão com receio que os povos lhes mercam o medo e abandonem a crença de que o mundo apenas avança numa dialética de ódio e guerra.
Nunca os convenceremos, mas podemos perfeitamente vencê-los.

GAVB   

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

ALEGRIA PERVERSA


Os alemães usam o termo Schadenfreude para designar a satisfação que as pessoas sentem quando o infortúnio atinge os outros. É provável que a maioria de nós já tenha sentido esta espécie de alegria perversa, mas admiti-lo é algo bem mais raro, embora haja situações mais toleráveis que outras.
Por exemplo, é perfeitamente aceitável que um adepto do Sporting fique a rir-se do falhanço europeu do rival Benfica, mas o mesmo já não acontece quando uma mulher manifesta regozijo com o falhanço da relação amorosa da colega de trabalho.

Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008, colocou duas perguntas a um conjunto alargado de pessoas: 1- aceitaria baixar o seu salário? 2- Aceitaria baixar o seu salário, na condição do seu colega ganhar menos que você? Obviamente, todos responderam «não» à primeira questão, mas surpreendentemente, a maioria respondeu «sim» à segunda.

Dan Ariely, psicólogo, acha que esta satisfação pelo insucesso alheio se deve a “razões evolutivas”, ou seja, o nosso cérebro está constantemente a estabelecer comparações para se adaptar às circunstâncias. Assim, os acontecimentos não seriam bons nem maus, mas dependeriam do contexto. Segundo Ariely são a maneira como os acontecimentos afetam os outros que dita grande parte da avaliação feita.
De facto é cada vez mais verificável que há pessoas que não ficam particularmente felizes quando o seu sucesso não é exclusivo. É o cérebro que ainda está a reconfigurar…

GAVB   

terça-feira, 15 de agosto de 2017

AS PRIMEIRAS FÉRIAS COM OS PAIS SEPARADOS


Ricardo e Catarina estavam de regresso às aulas. As férias grandes já faziam parte do passado, mas continuavam bem presentes no espírito de cada um, pois tinham sido as primeiras após a separação dos pais, que ocorrera logo no início do ano. As marcas daqueles quinze dias com o pai, no Algarve, ainda estavam bem visíveis no íntimo do sensível filho de Teresa e Filipe.
         Ricardo ainda tem presente a alegria ávida e ansiosa do pai, quando os recebeu em Lisboa, antes de rumar a sul. Durante seis meses só tinha estado com o pai aos fins-de-semana e ainda assim não tinham sido todos. Ricardo e a irmã não podiam deixar de reparar como o pai tudo fazia para lhes agradar, desde a escolha do local de férias, aos restaurantes, aos pequenos divertimentos. Sentiam-se até um pouco estranhos, mas as suas vidas tinham ficado estranhas desde a separação dos pais.
        
Nunca lhes tinha ocorrido que podiam “perder” os pais, que podiam deixar de ser uma família. Os pais discutiam como todos os pais dos amigos que ainda tinham pais casados, mas a sua preocupação estava na obtenção de uma mesada maior, de um telemóvel mais kittado, na negociação das saídas noturnas durante os fins-de- semana. Nesse entretanto, passaram-se meses, a situação entre os pais tornara-se insustentável e eles só se deram conta quando o divórcio já era irreversível.
        


Queriam agora lutar pela sua família, mas sentiam-se imponentes, cercados pelas circunstâncias e até pela educação que receberam. Os pais sempre lhes tinham ensinado a lutar lealmente pelos seus sonhos e ideais, mas também lhes mostraram como era importante respeitaras ideias e as decisões dos outros. Por outro lado, percebiam que pai começava a refazer a sua vida sentimental ao lado de outra mulher, Rita, e com ela levava o estilo de vida que sempre desejara fazer com a mãe, mas que esta sempre adiara, tão centrada que estava no trabalho, na carreira e no “futuro”. Agora o futuro já não lhes pertencia, agora o futuro era apenas um conta bancária ao dispor de três pessoas que preferiam ter outro presente. 



Pela primeira vez na vida Ricardo experimentava a perda e a culpa. Percebia agora a verdadeira grandeza do que tiveram e já não tinham. Como tinham sido gloriosas aquelas férias a quatro durante mais de dez anos; como era saborosa a presença do pai e da mãe naqueles demorados despertares em tempos de aulas, como era fantástico aquela mania que o pai tinha de jantarem sempre juntos, apesar dos atrasos da mãe por causa do trabalho no consultório. No entanto, Ricardo sentia também a culpa da sua desatenção aos problemas dos pais. E como ele e a irmã podiam ter sido decisivos e não foram. Demasiado centrados nos seus interesses e desatentos às necessidades dos outros, não se tinham dado conta como os pais caminharam para um beco sem saída.
Agora era tarde ou, no mínimo, muito mais difícil…

GAVB

domingo, 13 de agosto de 2017

CAMPEÕES EUROPEUS DA PIROMANIA


Há um ano, Portugal rejubilava com o primeiro Campeonato Europeu de futebol ganho por uma seleção portuguesa. Um título há muito desejado e que encheu de orgulho toda a nação. Infelizmente há outras áreas em que somos campeões europeus (e, quem sabe, campeões do mundo...) - a dos incêndios florestais é a mais evidente.
Ontem, um amigo brasileiro procurava, estupefacto, um comentário meu acerca da seguinte notícia: https://www.sapo.pt/noticias/economia/ja-arderam-122-mil-hectares-desde-janeiro-30-_5979f880d112255733dd2648.

 Não sabia que lhe responder, mas senti uma grande vergonha. «Um terço!!!»  Como é possível!?, tendo em conta a pequenez do nosso território no contexto europeu, as muitas autoestradas que temos no território nacional, os propalados brandos costumes portugueses.
Acho que todos nós sabemos que mais de 80% dos incêndios florestais, em Portugal, tem origem criminosa e todos temos a sensação que passam impunes. 

Sim, a prevenção é mal feita; sim, há enorme descuido e desleixo na limpeza das matas públicas e privadas; sim, a proteção civil é ineficaz; sim, a secretaria da administração interna parece uma barata tonta na coordenação; sim, faltam meios aos bombeiros… tudo isto e mais alguma coisa são causas verdadeiras dos muitos incêndios que existem em Portugal e da enorme área ardida no território nacional, desde que haja uns dias de calor e vento, mas não a causa principal. 

A causa principal é que existe cada vez gente absolutamente doente, que não ama o seu país e tem verdadeiro prazer em vê-lo arder. Essa gente é portuguesa, vive no meio de nós e até é capaz de cantar o hino e chorar com os golos do Ronaldo, mas quando chega o Verão não tem pejo nenhum em destruir mais de 120 000 campos de futebol de floresta; não lhe dói a aflição dos vizinhos que perdem o magro pecúlio angariado durante uma vida, que perdem meios de subsistência, casa e outros haveres; não lhes pesa as mortes nem o sofrimento.
Como diria o meu amigo brasileiro, infelizmente, Portugal tem muitos portugueses que não gostam do seu país e até são capazes de o pôr arder.

GAVB

sábado, 12 de agosto de 2017

BONS SONS POR CEM SOLDOS

Cem Soldos é uma espécie de aldeia de irredutíveis gauleses, que há mais de uma década insiste em organiza,r com irresistível bom gosto e parcos recursos, um festival de música portuguesa, de excelente qualidade.
Caro amigo Hugo Toscano Cunha, não me esqueci que o “Bons Sons” também privilegia a lusofonia e muito tem feito pela divulgação de músicos e grupos oriundos dos vários países que falam português. Mais do que qualquer outra localidade, Cem Soldos merecem uma vénia de reconhecimento e agradecimento pela organização cuidada de um festival que durante quatro dias (neste ano de 11 a 14 de Agosto) propõe mais de 40 concertos, distribuídos por sete palcos, situados em vários pontos da pequena aldeia de Tomar.
Cem Soldos é uma aldeia singular, profundamente cívica e cultural, Com cerca de seiscentos habitantes põe em pé há 11 anos um festival de música que foge à lógica comercial dos festivais de verão em Portugal, mas não cede quanto à qualidade. Por isso, fazem parte da edição deste ano nomes como Capitão Fausto, Virgem Sutra, Né Ladeiras, Mão Morta, Samuel Úria, Frankie Chaves, Rodrigo Leão Paulo Bragança, entre outros.

O Bons Sons não é mais um festival de verão. Há tempo e espaço para as famílias, para fazer das crianças parceiro fundamental do festival, para recriar ligações intergeracionais. Além da música, há cinema, artes performativas, jogos tradicionais, cinema, passeios de burro...
  Quem participa no "Bons Sons" vive a atmosfera do evento e sente como Cem Soldos se envolve nele. E é essa atmosfera de partilha genuína entre quem chega e quem está, unidos pelo gosto da boa música portuguesa, que faz muita gente peregrinar até Cem Soldos. Faz bem ao ouvido, ao espírito e à alma.

GAVB

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O SOL DA CAPARICA E DA LUSOFONIA


Desde ontem até domingo, decorre em Almada, a quarta edição do Sol da Caparica, um festival de música que faz da lusofonia a sua força motriz.
Nestes quatro dias, passam, pelos palcos Sol da Caparica, nomes como Mariza, HMB, Carlão, António Zambujo, Trovante, Manel Cruz, Teresa Salgueiro, Bonga, Regula, Matias Damásio.
A organização espera mais de 65 mil pessoas para celebrar a música em português.
Dos inúmeros festivais de Verão, sigo este com especial atenção, pela importância do seu desígnio. A lusofonia é um eixo fundamental da nossa história, da nossa cultura e está inscrita no código genético do nosso mundo de afetos.


Há poucos dias, Matias Damásio afirmava, numa entrevista, que sempre se sentiu em casa, quando atuava em Portugal. A comunhão de Anselmo Ralph com o público português é tão forte e genuína como a de Mariza, Tim ou Jorge Palma, embora a dimensão das carreiras seja diferente.
Estou em crer que a música e esta geração sub-40, sem as feridas nem os ressentimentos nem os complexos do processo da descolonização, podem ser o pretexto para o início de um grande projeto de lusofonia à escala mundial.



Apesar do atual Presidente da República ser a pessoa ideal para unir Portugal aos outros cantos da lusofonia, a sua atuação tem sido pouco mais que frouxa e está ainda muito por fazer. A solução não é a CPLP (que nome tão feio… bem melhor seria, por exemplo, Lusomundo), cada vez mais uma organização económica, descaracterizada e obscura. A solução é unir as pessoas através de eventos como o Sol Da Caparica, que devia ser um festival transmitido pelas televisões e rádios dos diversos países lusófonos, permitindo assim uma maior amplitude mediática, porque também é assim que se unem povos.
Tal como canta Tim em “Voar”, a lusofonia precisa de “acordar, meter os pés no chão…/ levantar, pegar no que tem mais à mão e voltar a rir… voltar a andar”, voltar a voar!

GAVB

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O EMPREGO PARA A VIDA FAZ MAL À SAÚDE


A grande ambição de um trabalhador é a estabilidade profissional, que é como quem diz um emprego a perder de vista, bem remunerado, com bons colegas e boas condições de trabalho. Obviamente que há muitas pessoas que conseguem alcançar este elixir laboral, como há pessoas que gozam férias várias vezes durante ano, mas não são a maioria.
Por outro lado, a estabilidade laboral é um pouco como o dinheiro que pensamos ter depositado no banco – não existe, mas nós acreditamos que sim e isso nos basta para vivermos descansados.

Grande parte dos funcionários públicos são-no porque acreditam que o seu emprego é para a vida. Esta é a grande vantagem do emprego público (pelo menos em teoria), mas, na realidade aplica-se só aos mais velhos e há gente que passou já metade da sua carreira como contratado do Estado.


No entanto, a questão sobre a qual quero refletir é outra: esta gente do emprego para a vida é feliz? Pensem nos professores, nos funcionários das finanças,  nos juízes, ouçam-nos a falar dos seus empregos… vão concluir que há ali muita frustração acumulada. A realização profissional não passa por ter um emprego para a vida, mas nós passamos grande parte da vida no emprego, logo é pouco provável sentirmo-nos realizado no meio de tanta frustração profissional.

Cada vez mais tenho a convicção que o emprego para a vida nos “amolece”, fazendo-nos esquecer que o trabalho também nos deve desafiar. Além disso, aceitamos de cabeça baixa que nos imponham regras absurdas, que a qualidade das relações laborais se degrade, que o salário só sofra a atualização da inflação, apenas para defender esse bem maior afinal é muitas vezes virtual) que é a estabilidade. Entretanto, a vida perde sabor e começamos a dizer mal de tudo e de todos.

Mudar de trabalho, uma ou duas vezes na vida, só nos faria bem. Seria muito importante sentirmo-nos novamente desafiados, postos à prova. Ganharíamos novos conhecimentos e forçosamente o nosso quadro social mudaria. Com ele uma nova panóplia de oportunidades e outra vida surgiria.
Hoje cada vez mais gente é obrigada a mudar. A mudança acontece mas são os outros a escolher por nós. Quando se trata da nossa vida, do nosso futuro profissional, o melhor é não deixar isso nas mãos dos outros ou do caso. Planear uma mudança profissional pode ser o melhor upgrade que fazemos à nossa vida.

GAVB

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

SUPREMA CANALHICE


Nas últimas horas, o Supremo Tribunal Grego tomou uma das suas piores decisões ao descriminalizar o não pagamento de salário.
A partir de agora, deixa de ser crime uma empresa atrasar-se no pagamento do salário ao trabalhador, a não ser que esse atraso esteja ligado a uma intenção deliberada da empresa despedir o trabalhador. Mas quem quer despedir um trabalhador que trabalhe de borla e a lei não o protege?

Um tribunal não paga salários, mas todos esperam que garanta a justiça, que é como quem diz a lei. A decisão do Supremo Tribunal Grego é uma péssima notícia, mas apenas vem legalizar aquilo que tem sido uma prática grega nas últimas décadas: não pagar. A diferença é que até aqui quem ficava sem o dinheiro eram os povos estrangeiros que emprestavam aos gregos, agora o conceito alastrou à própria sociedade grega.
Aquilo que o Supremo Tribunal helénico fez foi tornar virtual a dívida das empresas aos trabalhadores e legalizar o incumprimento. Não demorará muito tempo até que ninguém pague o que deve, tenha ou não tenha recursos para o fazer.

É verdade que as empresas gregas passam por muitas dificuldades e é-lhes difícil solver os seus compromissos, mas também é verdade que esta inexplicável descriminalização do Supremo Grego fará com que muitas empresas adiem pagamentos ou só paguem parte do que devem. Os trabalhadores terão de trabalhar como escravos, recebendo um salário em cinco ou seis que lhes são devidos, para manter a expectativa de receber aquilo que é seu por direito.
Não deixa de ser irónico que seja durante a vigência de um governo do Syriza que uma medida tão próxima do capitalismo selvático consegue penetrar no Olimpo da democracia.
Quando, hoje, olho para aquilo em que a Grécia se tornou, tenho de reconhecer que aquilo mais parece o berço da Demagogia do que a mãe da Democracia. 
O maior património que um devedor deve defender é a sua credibilidade de bom pagador. Esta decisão do Supremo Grego pareceu apenas uma suprema canalhice.

GAVB

domingo, 6 de agosto de 2017

DIVÓRCIO TRUMP


O termo nasceu após Lynn Aronberg (devota defensora de Trump) e o seu marido, Dave Aronberg (democrata convicto) se terem separado e assumido que a rutura se deveu a divergências ideológicas e políticas, que as decisões do presidente dos EUA tornaram mais evidentes.

O caso não é circunstancial mas emblemático, porque desde que o presidente dos EUA assumiu o poder tem crescido a onda de divórcios entre os americanos e tudo leva a crer que o estilo de governação de Donald Trump ajudou a muitos deles.

Um estudo recente, denominado “O Efeito Trump nas relações dos americanos”, concluiu que 29% dos inquiridos casados admite que o seu casamento tem sofrido fortes perturbações por causa das medidas defendidas e implementadas por Trump, nomeadamente no que diz respeito ao tema da imigração.
        

Acho que devemos olhar para a questão americana além da figura de Donald Trump. O seu radicalismo e xenofobia pode ser-nos muito útil, para perceber até que ponto negligenciamos as diferenças ideológicas nos relacionamentos.
         Dado o cinismo político em que a Europa vive, foi fácil fazer triunfar a lei do Amor sobre as diferenças políticas e ideológicas, por mais irreconciliáveis que elas sejam, mas quando aparece um sujeito como Donald Trump é óbvio que um casal não pode fugir a questões tão fraturantes como o que fazer com os emigrantes (especialmente qual eles são árabes, hispânicos ou negros) ou que sistemas de saúde devemos ou não proporcionar aos mais desprotegidos. É que defender as ideias de Donald Trump é vestir-lhe a pele, ser um pouco como ele, no que isso tem de asqueroso e ignóbil também.

Nas relações pessoais e afetivas, como noutros aspetos da vida, sempre gostei da diferença e ela sempre me atraiu mais que a convergência de pontos de vista. No entanto, esse prazer de desfrutar da diferença do outro foi entristecendo quando percebia que não havia reciprocidade. Adoro a diferença, mas ela só possível quando há respeito por ela.
Quando alguém se diz defensor da pluralidade de opiniões e convicções, mas não a pratica, ora querendo impor a sua ora ridicularizando a do outro, Respeito e Diferença deixaram de ser parceiros.
Talvez por isso perceba perfeitamente que não há amor ou paixão que resista a divergência ideológicas tão profundas como aquelas que Donald Trump trouxe para a discussão.
Por incrível que pareça, por vezes, é a política que nos mostra que o relacionamento amoroso bem-sucedido exige muito mais do que amor e uma cabana.

GAVB