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terça-feira, 15 de agosto de 2017

AS PRIMEIRAS FÉRIAS COM OS PAIS SEPARADOS


Ricardo e Catarina estavam de regresso às aulas. As férias grandes já faziam parte do passado, mas continuavam bem presentes no espírito de cada um, pois tinham sido as primeiras após a separação dos pais, que ocorrera logo no início do ano. As marcas daqueles quinze dias com o pai, no Algarve, ainda estavam bem visíveis no íntimo do sensível filho de Teresa e Filipe.
         Ricardo ainda tem presente a alegria ávida e ansiosa do pai, quando os recebeu em Lisboa, antes de rumar a sul. Durante seis meses só tinha estado com o pai aos fins-de-semana e ainda assim não tinham sido todos. Ricardo e a irmã não podiam deixar de reparar como o pai tudo fazia para lhes agradar, desde a escolha do local de férias, aos restaurantes, aos pequenos divertimentos. Sentiam-se até um pouco estranhos, mas as suas vidas tinham ficado estranhas desde a separação dos pais.
        
Nunca lhes tinha ocorrido que podiam “perder” os pais, que podiam deixar de ser uma família. Os pais discutiam como todos os pais dos amigos que ainda tinham pais casados, mas a sua preocupação estava na obtenção de uma mesada maior, de um telemóvel mais kittado, na negociação das saídas noturnas durante os fins-de- semana. Nesse entretanto, passaram-se meses, a situação entre os pais tornara-se insustentável e eles só se deram conta quando o divórcio já era irreversível.
        


Queriam agora lutar pela sua família, mas sentiam-se imponentes, cercados pelas circunstâncias e até pela educação que receberam. Os pais sempre lhes tinham ensinado a lutar lealmente pelos seus sonhos e ideais, mas também lhes mostraram como era importante respeitaras ideias e as decisões dos outros. Por outro lado, percebiam que pai começava a refazer a sua vida sentimental ao lado de outra mulher, Rita, e com ela levava o estilo de vida que sempre desejara fazer com a mãe, mas que esta sempre adiara, tão centrada que estava no trabalho, na carreira e no “futuro”. Agora o futuro já não lhes pertencia, agora o futuro era apenas um conta bancária ao dispor de três pessoas que preferiam ter outro presente. 



Pela primeira vez na vida Ricardo experimentava a perda e a culpa. Percebia agora a verdadeira grandeza do que tiveram e já não tinham. Como tinham sido gloriosas aquelas férias a quatro durante mais de dez anos; como era saborosa a presença do pai e da mãe naqueles demorados despertares em tempos de aulas, como era fantástico aquela mania que o pai tinha de jantarem sempre juntos, apesar dos atrasos da mãe por causa do trabalho no consultório. No entanto, Ricardo sentia também a culpa da sua desatenção aos problemas dos pais. E como ele e a irmã podiam ter sido decisivos e não foram. Demasiado centrados nos seus interesses e desatentos às necessidades dos outros, não se tinham dado conta como os pais caminharam para um beco sem saída.
Agora era tarde ou, no mínimo, muito mais difícil…

GAVB

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