Há umas semanas foi notícia a tentativa de alguns
encarregados de educação inscreverem os seus filhos em escolas públicas de
referência, recorrendo a moradas falsas. Até estavam dispostos a pagar para que
alguém atestasse falsamente que moravam onde, de facto, não residiam. Qual
virgem ofendida e incrédula, o Ministério da Educação ordenou um processo de
inquérito para abafar o processo nos media. Quando se chegar à óbvia conclusão
inconclusiva já o 1.º período estará a terminar e os alunos alvo de inquérito a
frequentar a escola que queriam.
Na política passa-se o mesmo há décadas. Irrita-me particularmente
o caso das eleições autárquicas, pois os candidatos afirmam pela sua honra e
dignidade o amor à sua terra. O mais caricato é que muitos deles andam a
candidatar-se à Junta ou à Câmara de uma freguesia ou concelho que não são os
seus, mesmo nas barbas dos eleitores.
Depois de oito ou doze anos na Junta X ou na Câmara Y
(normalmente onde residem), o vício e a dependência do poder são tão grandes
que os impele a candidatar-se à Junta K ou à Camara W, normalmente maiores ou
mais influentes. Sem pudor algum, lá vêm com a lengalenga do amor à terra, da
vontade de ajudar os seus novos conterrâneos. Onde para a honestidade
intelectual desta gente? Não era mais verdadeiro assumir o desejo de serem
políticos profissionais, hoje candidatos em Leiria, daqui a dez anos em Sobral
de Monte Agraço e daqui a vinte na Guarda? Se reparamos bem, este tipo de
político raramente está disponível para baixar de patente. Se era presidente de
uma Junta pequena quer ser de uma maior ou de uma Câmara; se era presidente de
Câmara pequena quer ter o mesmo cargo numa de maior relevância; se era
vice-presidente, quer ser presidente. Obviamente que a política para esta gente
não é servir, mas servir-se.
Para as próximas eleições autárquicas, deixo uma pequena
lista de gente ilustre que gosta tanto da terra onde reside habitualmente que vai
candidatar-se a outra a quilómetros de distância. Maria Luís Albuquerque (PSD)
candidata-se por Setúbal, apesar de ser de Braga; Ilda Figueiredo é de Aveiro,
mas apresenta-se às eleições autárquicas em Viana do Castelo; Paulo Trigo, do
PS, embora resida em Lisboa, acha melhor candidatar-se a Setúbal; Teresa Caeiro
(CDS) mora em Lisboa, mas acha melhor tentar a sua sorte na política autárquica
em Faro. Podia dar mais exemplos, inclusive no concelho onde resido há mais de
uma década, mas é desnecessário, pois os casos são do conhecimento público
local e só é enganado quem quer.
Entretanto e já que o ME é lento em processo de inquérito que
não interessam nada resolver, talvez o Ministério da Administração Interna
queira averiguar estes casos evidentes de falsas moradas nas matrículas para as
próximas autárquicas. Se calhar não quer… a ministra continua muito tão comovida
com os incêndios que não toma decisões até ao Natal.
GAVB
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