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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

UM PASSEIO NA RIA FORMOSA


A ideia e a oportunidade surgiram um pouco por acaso, depois de uma infrutífera tentativa de jantar no Noélia & Jerónimo, em Cabanas de Tavira. O senhor Amílcar regressava da última viagem do dia pela Ria e trazia um ar satisfeito e feliz. Precisou de poucos minutos de conversa para me convencer a um passeio no seu barco, no dia seguinte, pela ria mais formosa do país.

Tinha-me comprometido a levar mais duas pessoas, mas, no dia seguinte, apareci com três e ele com mais três. À hora marcada, o barco do Amílcar deslizou sorrateiramente pela Ria Formosa, em direção a Olhão. A água límpida e calma parecia um manto de veludo onde o barco estendia o corpo enquanto nós recebíamos o afago do sol e deliciávamos o olhar com o belo recorte com que a natureza findou Portugal.

Foi então que o guia decidiu parar o barco, parar as explicações sobre a formação da Ria e as várias espécies animais que a habitam, para apreciarmos melhor o voo das aves, o doce baloiçar da embarcação, o silêncio da Ria, cada carinho que os raios de sol faziam nos nossos corpos preguiçosos. Permanecemos alguns minutos ainda, observando a profundidade das águas, conversando sobre a vida das gentes que vivem à custa do que a Ria Formosa lhes dá. Ao longe, um par de jovens fazia vela, outros barcos percorria apressados a Ria e um veleiro, com bandeira francesa, fazia uma viagem descontraída em busca da primeira saída para o Oceano.

Apeteceu-me ficar mais tempo, mas o senhor Amílcar tinha mais belas reentrâncias da Ria para nos mostrar. Antes de chegarmos perto dos flamingos, que habitam um lugar da Ria mesmo frente a Tavira, conduzi a conversa para outros lugares icónicos da água doce em Portugal: a Ria de Aveiro e o rio Douro. O senhor Amílcar já conhecia a terra e a ria dos ovos-moles de ginjeira, mas nunca tinha feito a subida do Douro. Fizemos-lhe o convite em forma de desafio.

Entretanto, chegamos à zona dos flamingos. Tínhamos de os ver de perto. Em silêncio, com alguma distância, porque a beleza e a elegância gostam pouco de ser importunadas. Depois empreendemos a viagem de regresso, entrecortada por mais algumas pausas, para mais uma conversa, para fazer umas fotos com mais calma, para apanhar ostras. Como num passo de mágica, o barqueiro presenteou-nos com algumas ostras, capturas naquele momento e subtraídas à Ria para que o nosso jantar tivesse algo de diferente.
Quando o passeio terminou, o sol já dava sinais de cansaço e todos estavam muito satisfeitos com aquela tarde diferente sobre o suave ondear de águas tão formosas.

Cheguei a Cabanas poucos minutos antes da cozinha da dona Noélia abrir. Às 19 horas já não havia mesas disponíveis. Alguns minutos depois comecei a perceber o porquê de tanta fama, sobretudo no que ao peixe diz respeito. A noite ainda traria outras agradáveis surpresas, mas a memória da beleza da Ria era ainda tão intensa!

GAVB

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