A RTP estreia, hoje, uma série sobre os amores proibidos do
rei D. João V e uma feira do Convento de Odivelas. Baseado no romance histórico
de Patrícia Müller, a produção televisiva vai centrar a sua ação naquilo que é
mais apelativo, excitante, comercial do reinado de D. João V, mas claramente o
menos significativo.
Quase toda a gente sabe que o Convento de Odivelas foi o «bordel»
real da primeira metade do século XVIII; que inúmeras histórias de sexo,
traições, luxúria aconteceram naquele espaço; é do conhecimento geral que a nobreza
que gravitava em volta do Magnânimo aproveitava as facilidades de comunicação
que o rei tinha no Convento para fazer companhia ao rei nos seus devaneios sensoriais, mas o reinado de D. João talvez merecesse uma
abordagem mais histórica aos olhos do público do século XXI.
O que não faltam são histórias de reis e rainhas com os
seus affairs proibidos nas cortes europeias. Mais freira menos amante, o guião
é fácil de construir, mas finda a série pouco fica retido de um período
histórico importantíssimo, a vários níveis, História de Portugal.
A melhor maneira de aprender História é quando ela nos
chega de surpresa, embrulhada num bom filme ou série e não é qualquer documentário
nos canais temáticos da área.
No reinado de D. João V houve um fortíssimo investimento nas artes e na cultura, que deram um salto qualitativo enorme. Relembro, por
exemplo, a construção da fabulosa Biblioteca Joanina, na Universidade de
Coimbra, a extraordinária cúpula da basílica do Convento de Mafra, a introdução
da ópera italiana na Corte.
A excelência artística
foi, para mim, o traço mais distintivo do reinado de D. João V. Construir uma
série que fizesse brilhar esse importante legado cultural do
Magnânimo em vez de centrar a ação nas conhecidas traições do rei (por mais
proibidas e excitantes que possam ser para o espetador) tinha sido uma opção
mais frutuosa, ainda que mais trabalhosa e mais cara.
GAVB
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