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quarta-feira, 5 de julho de 2017

MADRE PAULA


A RTP estreia, hoje, uma série sobre os amores proibidos do rei D. João V e uma feira do Convento de Odivelas. Baseado no romance histórico de Patrícia Müller, a produção televisiva vai centrar a sua ação naquilo que é mais apelativo, excitante, comercial do reinado de D. João V, mas claramente o menos significativo.


Quase toda a gente sabe que o Convento de Odivelas foi o «bordel» real da primeira metade do século XVIII; que inúmeras histórias de sexo, traições, luxúria aconteceram naquele espaço; é do conhecimento geral que a nobreza que gravitava em volta do Magnânimo aproveitava as facilidades de comunicação que o rei tinha no Convento para fazer companhia ao rei nos seus devaneios sensoriais, mas o reinado de D. João talvez merecesse uma abordagem mais histórica aos olhos do público do século XXI.  


O que não faltam são histórias de reis e rainhas com os seus affairs proibidos nas cortes europeias. Mais freira menos amante, o guião é fácil de construir, mas finda a série pouco fica retido de um período histórico importantíssimo, a vários níveis, História de Portugal.

A melhor maneira de aprender História é quando ela nos chega de surpresa, embrulhada num bom filme ou série e não é qualquer documentário nos canais temáticos da área.

No reinado de D. João V houve um fortíssimo investimento nas artes e na cultura, que deram um salto qualitativo enorme. Relembro, por exemplo, a construção da fabulosa Biblioteca Joanina, na Universidade de Coimbra, a extraordinária cúpula da basílica do Convento de Mafra, a introdução da ópera italiana na Corte.
A excelência artística foi, para mim, o traço mais distintivo do reinado de D. João V. Construir uma série que fizesse brilhar esse importante legado cultural do Magnânimo em vez de centrar a ação nas conhecidas traições do rei (por mais proibidas e excitantes que possam ser para o espetador) tinha sido uma opção mais frutuosa, ainda que mais trabalhosa e mais cara.

GAVB

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