Há três décadas dizia-se que se não foi notícia, é porque
«não aconteceu», ainda que tivesse acontecido. Com isso pretendia-se atestar o
poder dos media e a importância de noticiar aquilo que ia acontecendo, caso
contrário, ninguém saberia e era como não tivesse ocorrido.
Com o advento da internet e, sobretudo das redes socais, a
realidade está posta perante uma impossibilidade: não consegue produzir
notícias que satisfaçam a necessidade voraz de milhões de utilizadores compulsivos
de net. Ver fotos, por mais belas que sejam, observar vídeos ou escutar músicas
extraordinárias pode estimular todos os nossos sentidos, mas não cria novidade.
Hoje, a novidade é o oxigénio de quem vive colado ao ecrã.
Quando a realidade se atrasa em relação aos nossos desejos,
sempre podemos criar fake news, que é como quem diz notícias falsas. No início, o facebook achou piada, mas vendo o
fenómeno generalizar-se, começa a perceber que isso dá má fama à rede e está a
tentar domar o monstro. Consegui-lo-á ou não, só o saberemos daqui por alguns
meses.
Entretanto, podemos tentar perceber o que revelam as fake
news. Se estivermos atentos ao perfil de quem as revela, acho que concluirmos duas
coisas: alguém transporta para a falsa notícia o seu desejo (consciente ou não)
ou alguém adora ver o circo arder, ou seja, um provocador nato das reações
dos outros. Por vezes, estas duas facetas juntam-se na mesma pessoa.
Não gosto de fake news. Normalmente, não sou apanhado no
seu canto de sereia, porque sempre tive o hábito de cruzar fontes de informação,
mas acho degradante que alguém se aproveite da menor informação dos outros, da
sua credulidade, do seu inconfessável desejo de ver confirmado algum anseio, para os levar a sustentar uma posição insustentável.
É verdade que vivemos um tempo em que tudo parece não ter
importância e abusar da credulidade alheia parece ser uma delas, mas ainda
assim acho preferível ser menos polémico, menos espetacular, todavia manter a
seriedade. Um facto é um facto, uma opinião uma opinião e um desejo um desejo.
GAVB
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