Francisco Geraldes, jovem jogador de futebol do Sporting,
luta há vários meses para convencer o exigente treinador Jorge Jesus a dar-lhe
uma verdadeira oportunidade de se impor na primeira equipa do clube leonino.
Geraldes é talentoso, irreverente e um provocador, o que
não se deve confundir com “tipo que tem manias”.
Há uns meses foi apanhado pela
objetiva de um adepto a viajar de metro, para casa, duas horas depois de se ter
estreado a titular, em Alvalade, pela equipa do seu coração. Não foi Francisco
Geraldes que publicou a foto no Instagram nem tão pouco se lhe ouviu um
comentário sobre o assunto, apesar dos vários elogios que recebeu.
Esta semana, Geraldes foi apanhado pela câmara de um
fotojornalista a ler “Ensaio Sobre A Cegueira” de José Saramago, sentado no
banco dos suplentes enquanto os colegas realizavam um treino. Mais uma vez,
Francisco não fez de propósito, pois quem o conhece minimamente sabe da sua paixão pela pelo futebol e pela leitura.
A atitude do jovem futebolista sportinguista escancarou de
espanto a boca de alguns que sempre olharam para os futebolistas como uns
broncos que mal sabem pronunciar duas frases decentemente. Pensam mais ou menos o
mesmo das top models, numa demonstração de inveja e tontice que apenas merece
comiseração.
Os futebolistas, tal como muitos de nós, também lêem livros
por prazer, vêem filmes de culto, prestam atenção a documentários, seguem a
atualidade e têm opinião formada e sustentada sobre vários assuntos da vida e
do quotidiano. Quem convive com alguns mais de perto sabe que muitos deles vão
muito para além do “temos de levantar a cabeça” e conseguem alinhar melhor um
discurso coerente e argumentativo do que muitos dos seus detratores intelectuais
dão um chuto de jeito numa bola.
Geraldes não agiu corretamente ao dedicar parte do seu
treino à leitura de “Ensaio Sobre A Cegueira”, porque estava a trabalhar e do
seu trabalho também faz parte prestar atenção ao jogo dos colegas para daí
extrair os ensinamentos que o treinador quer passar daquele exercício
técnico-tático. É possível que seja castigado, até de uma maneira demasiado
severa, pelo seu treinador. No entanto, a sua saudável loucura já marcou pontos
muito positivos noutras áreas.
Aquela icónica imagem do talentoso médio sportinguista a
ler “O Ensaio Sobre A Cegueira” enquanto os colegas treinavam é uma inconsciente
provocação ao cego preconceito de muito de nós que pensa e age por estereótipos.
GAVB
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