Etiquetas

sábado, 15 de julho de 2017

O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER

Francisco Geraldes, jovem jogador de futebol do Sporting, luta há vários meses para convencer o exigente treinador Jorge Jesus a dar-lhe uma verdadeira oportunidade de se impor na primeira equipa do clube leonino.
Geraldes é talentoso, irreverente e um provocador, o que não se deve confundir com “tipo que tem manias”. 

Há uns meses foi apanhado pela objetiva de um adepto a viajar de metro, para casa, duas horas depois de se ter estreado a titular, em Alvalade, pela equipa do seu coração. Não foi Francisco Geraldes que publicou a foto no Instagram nem tão pouco se lhe ouviu um comentário sobre o assunto, apesar dos vários elogios que recebeu.

Esta semana, Geraldes foi apanhado pela câmara de um fotojornalista a ler “Ensaio Sobre A Cegueira” de José Saramago, sentado no banco dos suplentes enquanto os colegas realizavam um treino. Mais uma vez, Francisco não fez de propósito, pois quem o conhece minimamente sabe da sua paixão pela pelo futebol e pela leitura.

A atitude do jovem futebolista sportinguista escancarou de espanto a boca de alguns que sempre olharam para os futebolistas como uns broncos que mal sabem pronunciar duas frases decentemente. Pensam mais ou menos o mesmo das top models, numa demonstração de inveja e tontice que apenas merece comiseração.

Os futebolistas, tal como muitos de nós, também lêem livros por prazer, vêem filmes de culto, prestam atenção a documentários, seguem a atualidade e têm opinião formada e sustentada sobre vários assuntos da vida e do quotidiano. Quem convive com alguns mais de perto sabe que muitos deles vão muito para além do “temos de levantar a cabeça” e conseguem alinhar melhor um discurso coerente e argumentativo do que muitos dos seus detratores intelectuais dão um chuto de jeito numa bola.

Geraldes não agiu corretamente ao dedicar parte do seu treino à leitura de “Ensaio Sobre A Cegueira”, porque estava a trabalhar e do seu trabalho também faz parte prestar atenção ao jogo dos colegas para daí extrair os ensinamentos que o treinador quer passar daquele exercício técnico-tático. É possível que seja castigado, até de uma maneira demasiado severa, pelo seu treinador. No entanto, a sua saudável loucura já marcou pontos muito positivos noutras áreas.
Aquela icónica imagem do talentoso médio sportinguista a ler “O Ensaio Sobre A Cegueira” enquanto os colegas treinavam é uma inconsciente provocação ao cego preconceito de muito de nós que pensa e age por estereótipos.

GAVB

Sem comentários:

Enviar um comentário