Horário: 10h -16.30h, com folga rotativa.
Condições iniciais: 800 euros.”
Este é o anúncio de emprego, colocado por uma clínica de Braga, que está a indignar alguns médicos, pois a maioria ainda não se tinha dado conta que o salário oferecido aos médicos mais novos já pouco ultrapassava os mil euros. O bastonário diz que é um valor inaceitável, mas a solução não pode ser apenas a indignação. Se os médicos forem por esse caminho serão trucidados rapidamente. Os enfermeiros lembrarão a sua situação, que ditou a emigração dos mais novos, sem que os médicos tivessem mexido uma palha para os segurar; os professores recordarão como a sua profissão desceu na escala social; o mesmo dirão os advogados… e por aí diante.
Os médicos chegaram tarde à conclusão de que caíram na armadilha do mercado: eles tornaram-se apenas mercadoria especializada que os grandes grupos económicos utilizarão a seu belo prazer, pagando à peça (ato médico), um valor cada vez mais baixo. Tentar a sua sorte individualmente será muito mais difícil. Quem escolherá pagar 100 euros a um especialista, no seu consultório, quando pode escolher entre vários da mesma área, a um preço quatro vezes menor, num qualquer hospital privado, com acordo com o Estado e com quase todas as seguradoras?
Talvez o bastonário não se tenha apercebido ainda, mas os médicos, no mercado, significam “apenas” uma parte do valor do seu negócio. Com o tempo essa parte será cada vez menor. É provável que daqui a dez anos o valor global a pagar aos médicos seja apenas 60% do atual. Se não querem ver ninguém a ganhar perto do ordenado mínimo nessa altura, o melhor é decidirem entre si como distribuir esse bolo global.
Até agora nunca nenhuma profissão foi por aí. É preciso muita filantropia, muito sentido de justiça e de partilha. Não creio…
De qualquer modo, enquanto pensam, sempre podem reler um pequeno texto de Martin Niemöller (resistente anti-nazi), escritas em 1933:
“Um dia vieram e levaram o meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram o outro meu vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia, vieram e levaram o meu vizinho que era católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e levaram-me a mim.
Já não havia ninguém para reclamar.”
GAVB
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