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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

VER BATER E NADA FAZER


Como muitos portugueses, acordei hoje com a reprodução de um vídeo chocante sobre a violenta agressão que um jovem foi vítima às mãos de outro colega, em Almada. 
Ao início, ainda pensei que a imagem estava a correr a uma velocidade duas ou três vezes superior à real, face à rapidez com que os murros e os pontapés eram desferidos sobre o pobre capaz dobrado sobre si no chão, mas rapidamente percebi que tudo aquilo era tão brutal como real.
Ainda que a brutalidade da agressão nos aperte o coração até à angústia, a razão faz-nos reparar noutra crueldade incompreensível: a conivência criminosa de quem assiste a tudo aquilo com ar divertido, sem nunca manifestar qualquer intenção de ajudar o agredido, antes permitindo-se filmar o “evento” como se de uma luta de galos se tratasse.

Rever aquelas imagens deixa qualquer um literalmente mal disposto, ofendido na sua dignidade e humanidade. Como se pode rir, filmar, deixar acontecer? Quem bate pode perder momentaneamente o controlo, deixar-se apoderar pelo raiva e pelo ódio, mas quem assiste a uma agressão criminosa daquelas e se põe a tirar fotos, a filmar, que tipo de pessoa é?
Será que os pais, os amigos, os professores destes miúdos que ficaram a ver, a aplaudir, a filmar não se devem interrogar sobre o tipo de filho, amigo, alunos que têm à sua frente?
Não é apenas indiferença ou falta de humanidade que vemos ali, mas um certo prazer em ver um ser humano a ser agredido, massacrado, torturado.
A personalidade de muitos adolescentes não é só o resultado de más influências, também fruto de várias ausências.
Gabriel Vilas Boas 

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