Os portugueses gostam de dizer, orgulhosamente, que têm o
melhor jogador de futebol do mundo, o melhor vinho do mundo, das melhores paisagens
do planeta, a melhor gastronomia, mas quando a conversa chega ao patrão…
preferem deixam-se de patriotismos e só gabam o patrão se ele for
estrangeiro.
O patrão português tem todos os defeitos: paga mal; foge
aos impostos; esquece-se dos direitos do trabalhador; investe os lucros em bens
pessoais e descapitaliza a empresa; não promove a formação profissional; é
insensível aos problemas pessoais dos empregados; não premeia o mérito; é
permeável à cunha.
Por contraste, o patrão estrangeiro quase só tem virtudes.
Começa logo por ser estrangeiro, o que lhe dá imediatamente outro estatuto e outra
imagem. Fala línguas; é educado, respeitador, cumpridor; valoriza o trabalho
dos seus colaboradores.
Na verdade a diferença não é assim tão grande como o
preconceito da maioria dos portugueses. O problema é que os portugueses
detestam ter de trabalhar e ter de obedecer a outro português. Sentem-se
menorizados, quase humilhados, por haver um “tipo como eles” a ditar-lhes ordens.
Não pode ser! Ordens recebem de um alemão, um francês, ou dinamarquês, mas de
um português é que não! Tenham lá santa paciência, mas receber ordens de um
português não é para portugueses. Por isso boicotam-lhe as ordens, atrasam o
serviço, põem em causa a sua competência para mandar.
Na Alemanha, em Inglaterra ou na Holanda são uns
cordeirinhos: rápidos a cumprir as diretrizes, percebem todas as urgências do patrão,
disponibilizam-se para trabalhar horas-extra se for preciso.
Com empregados assim, um país como Portugal só há de ser bem
sucedido quando contratar patrões estrangeiros, para dirigir as nossas empresas.
Adoramos ordens em inglês ou alemão. Como se percebem pior, cumprem-se melhor.
Só pode ser isso…
Gabriel Vilas Boas
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