Poucos dias depois de uma
clamorosa derrota nas negociações com o Ministério da Educação, sobre a vinculação extraordinária de professores, Mário Nogueira não sente necessidade
de se explicar aos professores, mas acha necessário abrir nova frente de batalha com
o Ministério tutelado por Tiago Brandão Rogues – o modelo de gestão das
escolas.
Nogueira quer reduzir o poder dos Diretores, tornando a gestão das
escolas mais democrática. A luta de Mário Nogueira faz sentido, mas a Fenprof
vai voltar a perder. E perder tanto e em tão pouco tempo era desnecessário.
A derrota da passada semana
foi estrondosa – a FENPROF não só não conseguiu a vinculação extraordinária de
um número razoável de docentes, como viu a FNE passar-lhe a perna, ao conseguir
que os professores do privado concorram às míseras vagas que o ME vai abrir, em
igualdade de circunstâncias com os docentes do público. Usando uma expressão
popular, Nogueira foi “comido de cebolada”. Pior foi a justificação
envergonhada que deu, sugerindo que o ME o chantageou e ele não cedeu.
A vinculação extraordinária de
professores era uma peça fundamental da luta dos professores e a FENPROF perdeu
clamorosamente.
Procurando disfarçar a incómoda derrota, Mário Nogueira
lança-se em nova batalha – alterar a gestão escolar, muito centrada nos Diretores. O secretário-geral da maior associação sindical de professores diz
que este é um dos assuntos que mais preocupa os professores, a par das questões
salariais e a progressão na carreira. Mário Nogueira sabe que não é bem assim e
todos os professores também sabem.
É verdade que a progressão na
carreira e as questões salariais são fulcrais, mas isso é válido para os
professores como é para os médicos, enfermeiros, policias, funcionários judiciais
ou das finanças. Os professores não serão exceção – quando houver aumentos (e
se houver) será para todos.
Comparar a definição das regras dos concursos de
professores e a vinculação extraordinária de professores à questão da gestão
escolar, na lista de prioridades dos professores portugueses é uma piada de mau
gosto.
Além do mais, Mário Nogueira
devia saber que o PS não está nada interessado em reduzir o poder dos Diretores.
Que governos institucionalizaram a figura do Diretor por todo o país? Os
governos do PS, quando Maria de Lurdes Rodrigues era Ministra da Educação. A
ideia de um Diretor a mandar na Escola Pública assim como o atual modo da sua
eleição casa muito bem com uma certa ideia de controlo político local das
Escolas.
Não sei se Nogueira gosta de
perder, mas que faz tudo por isso, faz. Além do mais, prepara mal algumas
batalhas. Assim será cada vez mais difícil mobilizar os professores.
Mário Nogueira parece cada vez
mais o Pinto das Costa dos professores: está há tempo a mais na liderança dos
professores; traz muito a agenda da CGTP para a luta dos professores e educadores; não
tratou de preparar a sucessão; os principais problemas dos professores
continuam por resolver… e não se vislumbra argúcia para reverter a situação.
Também em relação a Mário
Nogueira é pertinente a pergunta que fiz aos Diretores – ainda se
lembra da última vez que deu aulas durante um ano inteiro?
Gabriel Vilas Boas
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