Recorrentemente quem cumpre as regras (legais, sociais, de
protocolo, de comportamento civilizado) é visto como a personificação da Regra,
muitas vezes injusta, iníqua, odiada. Perante quem não cumpre, com todas as
razões que lhe assiste, não tem defesa: ou é cobarde ou hipócrita ou um iníquo beneficiário
do sistema vigente. Não é necessariamente assim!
Quem vive em sociedade precisa de regras, leis, normas!
Mesmo o mais
anarquista há de invocar um norma qualquer que o proteja. As
normas servem para isso: proteger e regular os interesses das pessoas. Quando
deixam de cumprir esse propósito, devem ser alteradas. Às vezes, isso demora
demasiado tempo? Sim, é verdade. Mas é possível lutar pela mudança, é possível
arregimentar vontades que nos acompanhem nesse desejo de mudança.
Entretanto, enquanto procuramos a mudança, devemos ir
cumprindo, porque o que desejamos é alterar as regras e não destruir toda e
qualquer regra.
Cumprir as regras não nos torna a regra nem deve tornar.
Manter o espírito crítico é fundamental.
Por vezes, as regras são cómodas e
estamos tão confortavelmente sentados sobre elas, que nem reparamos como elas
nos comem a alma, como nos tornamos apenas numa peça da engrenagem.
Não se tornar na Regra é um desafio enorme. Estar atento
aos outros e às circunstâncias em constante mutação; ter a coragem para abdicar
de evidentes benefícios; ser determinado na luta pela mudança; assegurar a
transição, com o mínimo de danos colaterais, de um sistema para outro sistema –
é uma tarefa hercúlea, mas muito aliciante. Quando o conseguimos, a Regra faz
sentido, mas nós fazemos muito mais.
Gabriel Vilas Boas
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