Se há presidente que exerce com mestria a chamada
magistratura de influência é Marcelo Rebelo de Sousa. Agora no poder, Marcelo
ampliou a influência que já exercia na sociedade portuguesa enquanto comentador
político.
António Costa não faz nada que o irrite, os ministros
procuram saber o que pensa acerca dos assuntos delicados que têm entre mãos, os
dirigentes do PSD engolem em seco as tiradas que Marcelo dirige à forma de
governar de Pedro Passos Coelho.
Hoje, o jornal «I» titulava “Costa prefere comprar guerra
com BE do que com Marcelo”, aludindo ao facto do governo não estar a pensar em
pôr fim às parcerias público-privadas como tanto quer a esquerda política em
Portugal, de molde a evitar ruturas com o Presidente.
Na semana passada, não foi o ministro da saúde que falou
aos portugueses sobre o tradicional caos das urgências hospitalares durante os
meses de dezembro e janeiro, mas sim Marcelo que deu o conselho “Não Corram
para as Urgências”.
Hoje Marcelo volta a cobrir a política do governo, ao
caucionar a intenção do governo de trazer os delicados temas da violência, sexo
e drogas para o debate escolar.
Há um mês o JN titulava, indignado, que estavam a
pôr as criancinhas de 10 anos a discutir o aborto.
Como o PSD e o PP não clamaram contra a ousadia socialista, com veemência, o tema não preencheu o espaço mediático como se esperava e,
depois da poeira assentar, Marcelo lá veio dar a sua bênção à ideia dos Ministérios da Educação e da Saúde, ao dizer: “É um absurdo achar que as pessoas
podem contactar com essas realidades no dia-a-dia, na televisão, na internet, e
não falar nisso na escola”.
Apesar de claro, Marcelo sabe amaciar o seu eleitorado mais
conversador: “Eu aí, confesso, sou um pouco conservador…” Reparem como ele
evita falar em sexo, drogas, violência, preferindo antes “essas realidades”, “falar
nisso”. Com um presidente assim, um governo sente-se muito mais confiante. Até
porque em matéria económica (onde o governo tinha muito a provar, especialmente
dentro da União Europeia), Marcelo tem sido uma guarda-chuva à prova de
intempérie. Quando ele cauciona a política do governo, ao dizer que “vamos
conseguir”, é para Bruxelas e Berlim que ele está a falar, em especial para os
seus camaradas do Partido Popular Europeu e em particular para o senhor Wolfgang
Schäuble.
Marcelo está a ir muito para além do que é pedido a um
presidente. Com o beneplácito do povo,
que tem completamente na mão, é ele que preside, que governa e orienta o
país, até em matérias de educação e costumes. Com jeitinho (que tem imenso)
marca a agenda, organiza a tática e prepara-se para chutar à baliza. Não foi
ele que disse que crescer mais não chega, temos de crescer muito mais?
Gabriel Vilas Boas
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