Regresso, hoje, à pintura e a um dos meus pintores
favoritos, o flamengo Pieter Brueghel, o Velho, para apresentar o quadro JOGOS INFANTIS.
Este quadro revela uma das facetas mais vincadas em
Brueghel – o gosto por pintar cenas do quotidiano, em que as personagens
centrais são pessoas do povo, sem grande estatuto social.
Neste quadro (um óleo sobre tela de 1560), Brueghel pinta
duas centenas de crianças, praticando uma multiplicidade de jogos, alguns deles
ainda nos são hoje familiares: cabra-cega, esconde-esconde, o jogo do castelo, o
jogo de pião, a boneca, andar de cadeirinha.
As crianças, pintadas por Brueghel nesta tela de proporções
generosas (118x161cm), parecem adultos em miniatura, usando o mesmo tipo de
roupa que os seus pais levavam para o seu trabalho nos campos.
Brueghel parece
mais interessado em pintar os jogos infantis do que pormenorizar as crianças.
Interessa-lhe sobretudo a cena do quotidiano e não tanto a expressão das
figuras representadas.
As crianças preenchem toda a tela e marcam presença nos
vários espaços representados: rio, ruas, casas, jardins. As suas roupas são
coloridas, predominando vermelho e o azul, que contrasta claramente com o fundo
amarelado da composição. As diferenças fisionómicas entre as crianças são
pequenas, mas é possível perceber que as que se encontram em primeiro plano são
maiores do que aquelas que se distanciam do observador.
Brueghel quebra a possível monotonia que a composição podia
ter através da postura corporal das crianças, onde o movimento está sempre
presente, o que faz com que não haja duas crianças iguais em duzentos
exemplares.
Olhando mais pormenorizadamente o quadro, destaco o
edifício representado ao centro do quadro, ao fundo do cenário. Parece ser um
edifício importante dentro da comunidade, mas não há sinal de nenhum adulto ou
algum funcionário. Os petizes brincam descontraídos, em sítios que deviam ser
ocupados por adultos. O que quis sugerir Brueghel com isto? Talvez a
descontração com que a vida quotidiana era vivida na sua época, realçada
através da liberdade de movimentos das crianças.
Gabriel Vilas Boas
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