O relógio já há muito ultrapassara as 19 horas, mas a praia
estava cheia de gente a saborear um pôr-de-sol delicado e deslumbrante. Três
amigos caminham ao longo do mar. Já decidiram que não voltam para a água embora
os 24º sejam uma provocação… Trocam piadas, provocações, frases espirituosas à
espera que a conversa pegue fogo.
Filosoficamente cada um costuma falar de uma realidade que
lhe é próxima à espera que os outros entrem no jogo.
A conversa seguia agradável e ligeira, algures entre a procura
da Felicidade e a Sabedoria humana, quando resolvi provocá-los:
- Sabem, o Miguel Esteves Cardoso costumava dizer que para se
ser feliz é preciso ser-se um bocado parvo!
Ela acrescentou
em forma de resposta:
- Só um bocadinho?!
- Sim, só um bocadinho, porque se excedermos a parvoíce
conveniente, passamos a parvalhões e depois aparece alguém a dar-nos notícia da
figura que estamos a fazer e lá se vai a felicidade.
Ela voltou
à carga:
- O melhor é fingirmo-nos de parvos?
Depois
dele ter dado uma sonora gargalhada, retorqui:
- Isso é batota, não vale! Tu sabes que estás a fingir. Não
ignoras os factos, fazes é de conta que não os conheces. No entanto, já somaste
dois mais dois, já avaliaste comportamentos, já te fizestes as perguntas incómodas
que se impunham e viste a escuridão encobrir a luz.
Foi então que ele resolveu entrar na conversa.
- Não conseguimos ser só “um bocadinho parvos”!
- Nem nos tornar parvos! – Acrescentou ela.
Pois não! – Conclui. – A parvoíce sábia é uma espécie de
descanso que damos à mente; uma nota de crédito que passamos às falhas humanas
de cada dia. Mais dia menos dia também vamos precisar de um empréstimo com
spread igual.
Por momentos voltámos a ouvir o mar, o som das bolas de
borracha nas raquetes de madeira, o chapinhar de duas crianças que corriam
perto de nós.
- O vento está a ficar mais fresco! – Disse ela!
Não estava nada, mas todos concordámos convenientemente. Estávamos já a exercitar esse “novo” modo de ser feliz ou pensávamos apenas como era pequena a nossa nota de crédito?
Não estava nada, mas todos concordámos convenientemente. Estávamos já a exercitar esse “novo” modo de ser feliz ou pensávamos apenas como era pequena a nossa nota de crédito?
Gabriel Vilas Boas
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