Em 1963, Zeca Afonso escrevia “Os Vampiros”, um das suas músicas mais emblemáticas, procurando expressar, através da música, a sua revolta e indignação pelo aproveitamento material que um pequeno grupo de pessoas, ligado ao poder económico e político, fazia do trabalho de grande parte da população.
Por outras palavras, Zeca Afonso criticava a ignóbil exploração de que a população era vítima.
Por outras palavras, Zeca Afonso criticava a ignóbil exploração de que a população era vítima.
Esta sugestão de exploração é desde logo sugerida pelo título “Os Vampiros” e prossegue no refrão “Eles comem tudo / E Não Deixam Nada”
Zeca escreveu esta canção em plena ditadura salazarista e por isso teve necessidade de recorrer à alegoria dos Vampiros para expressar a sua revolta com o sofrimento, a que o povo era submetido, para sustentar os luxos de uma elite.
O clima de medo e repressão é visível em expressões como “São os mordomos / Do Universo Todo/ Senhores à força/ Mandadores sem lei” e “No chão do medo/Tombam os vencidos/Ouvem-se os gritos”.
O clima de medo e repressão é visível em expressões como “São os mordomos / Do Universo Todo/ Senhores à força/ Mandadores sem lei” e “No chão do medo/Tombam os vencidos/Ouvem-se os gritos”.
Curiosamente, o padre António Vieira já no seu famoso “Sermão de Santo António aos Peixes” havia aflorado o tema, quando na IV.ª parte repreendia os vícios dos peixes em geral, dizendo que o seu grande problema era que se comiam uns aos outros e, pior do que isso, que os grandes comiam os pequenos, de tal modo que era preciso uma grande quantidade de pequenos para sustentar um grande.
Cinquenta anos depois, o problema da exploração do «pequeno» pelo «grande» continua, com a agravante de que se faz com maior descaramento. Mesmo descoberta a exploração, denunciada a trafulhice, posto a nú o engano, os prevaricadores continuam impunes.
Ainda que a denúncia seja precisa e útil, já não me parece suficiente. A denúncia só faz mossa quando há vergonha ou medo da lei e em Portugal nenhum dos casos se verifica. Talvez a solução passe por uma lenta mudança de mentalidade. A rejeição social de tais atos, o corte afetivo com quem os pratica talvez desmotive alguns. Quando um corrupto coberto de ouro, for, aos olhos da esmagadora maioria, apenas um corrupto desprezível, talvez alguns tenha vergonha em continuar a sê-lo. Precisamos de voltar a ter coisas que não têm preço.
Gabriel Vilas Boas
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