A mitologia grega ensinou-nos que a Guerra de Troia começou
durante o casamento de Peleu e Tétis, por causa de… uma maçã. Não era uma maçã
qualquer, era feito de ouro e foi entregue à socapa aos convivas com a seguinte
inscrição: “Para a mais bela”. Obviamente foi disputada pelas três deusas mais
poderosas do Olimpo: Hera, Atena e Afrodite. E como é normal sempre que o assunto
envolve beleza e mulheres ninguém quis decidir quem haveria de levar a maçã
dourada. Zeus fez como qualquer homem e passou a vez ao mortal Páris que se
decidiu por Afrodite, pois esta tinha-lhe prometido Helena, a mais bela mulher
do mundo, embora esta fosse... casada!
Em Barcelona também existe a maçã da discórdia e fica no
Passeig de Grácia.
A maçã catalã é composta por cinco maravilhosas casas do
início do século XX, desenhadas por cinco monstros sagrados do modernismo
catalão, que disputaram entre si (ainda disputam) o título da “mais bela de
Barcelona”.
Os edifícios perfilam-se entre o Carrer de Aragon e o Carrer Consejo de
Ciento: Casa Lléo Morera, de Lluis
Domènech i Montaner; La Casa Mulleras
de Enric Sagnier; La Casa Bonet de Marcel
lià Coquillat; Casa Amatler de Josep Puig i Cadafalck e a Casa Batló de
Antoni Gaudi.
A grande rivalidade era entre Domènech i Montaner, Puig
Cadafalck e Antoni Gaudi.
Com a Casa Batló, Gaudi desafiava os seus mestres e levava para a arquitetura um conceito… divino.
Comecemos pela casa Lleo Morera. A guerra civil espanhola
destruiu partes da estrutura, entre elas o belíssimo templete da parte superior
do edifício, mas um restauro de 1992 permitiu a Lléo Morera recuperar o
esplendor de uma deusa. Infelizmente não consegui ver mais do que a sua fachada, pois não é possível
visitá-la, a não ser em momentos especiais.
Já a Casa Amatler (sim, a do famoso
chocolateiro catalão Antoni Amatler) foi transformada pelo conceituado
arquiteto Puig i Cadafalck num maravilhoso palácio gótico urbano, seguindo um
estilo muito pessoal, onde desde a fachada aos interiores é possível observar
referências arquitetónicas ao A de Antoni e de Amatler. Fiz uma visita guiada à
casa e pude reparar na apoteose de artes decorativas da fachada, onde a influência
da arquitetura dos palácios do norte da europa fica evidente no frontão
flamengo decorado com azulejos vitrados.
As figuras que surgem na fachada
recriam criaturas fantásticas, que costumam aparecer nas construções góticas. O
interior da Casa Amatler é riquíssimo: os tetos, os vitrais, o chão em mármore
decorativo. A guia foi de uma enorme amabilidade, tornando a visita muito
interessante. Infelizmente, os turistas não procuram a casa Amatler como a Casa
Batló e não sabem o que perdem, até porque a visita termina na loja de
chocolates.
Depois de ver o luxo, a arte, a beleza criadas por
Domènech e Cadafalck, Gaudi fez de Afrodite e arrasou com a concorrência.
A
Casa Batló é património da humanidade, por decreto da Unesco e um das maiores referências turísticas
de Barcelona.
Visitá-la é obrigatória para quem vai a Barcelona. É
dinheiro e tempo que não se lamenta.
Em 1903, Gaudi aceitou o pedido do rico
empresário têxtil Batló (entusiasmado com o que Gaudi fizera em La Pedrera para
o seu amigo Pére Milá i Camps) e começou a remodelar o seu palácio, pois este não
podia ficar a atrás do seu vizinho, Antoni Amatler.
O trabalho de Gaudi é belíssimo e criador. Nada tinha sido
feito até então de comparável. Inspirando-se em formas orgânicas da natureza,
Gaudi cria uma fachada de muros ondulados, sobre os quais colocou o seu famoso trencadis
(fragmentos de cerâmica e vidros quebrados), o que confere um extraordinário
colorido e relvo à inovadora fachada.
Observar a Casa Batló do Passeig de Grácia é como admirar
um quadro impressionista onde é possível imaginar a superfície do mar brincando
com os reflexos da luz e do sol.
Ao olhar as três (ou as cinco), o visitante sente … que não
deve escolher, apenas deleitar-se.
Gabriel Vilas Boas
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