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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A MANZANA DE LA DISCORDIA CATALÃ



A mitologia grega ensinou-nos que a Guerra de Troia começou durante o casamento de Peleu e Tétis, por causa de… uma maçã. Não era uma maçã qualquer, era feito de ouro e foi entregue à socapa aos convivas com a seguinte inscrição: “Para a mais bela”. Obviamente foi disputada pelas três deusas mais poderosas do Olimpo: Hera, Atena e Afrodite. E como é normal sempre que o assunto envolve beleza e mulheres ninguém quis decidir quem haveria de levar a maçã dourada. Zeus fez como qualquer homem e passou a vez ao mortal Páris que se decidiu por Afrodite, pois esta tinha-lhe prometido Helena, a mais bela mulher do mundo, embora esta fosse... casada!

Em Barcelona também existe a maçã da discórdia e fica no Passeig de Grácia. 
A maçã catalã é composta por cinco maravilhosas casas do início do século XX, desenhadas por cinco monstros sagrados do modernismo catalão, que disputaram entre si (ainda disputam) o título da “mais bela de Barcelona”.
Os edifícios perfilam-se entre o Carrer de Aragon e  o Carrer Consejo de Ciento: Casa Lléo Morera, de Lluis Domènech i Montaner; La Casa Mulleras de Enric Sagnier; La Casa Bonet de Marcel lià Coquillat;  Casa Amatler de Josep Puig i Cadafalck e a Casa Batló de Antoni Gaudi.
A grande rivalidade era entre Domènech i Montaner, Puig Cadafalck e Antoni Gaudi. 
Com a Casa Batló, Gaudi desafiava os seus mestres e levava para a arquitetura um conceito… divino. 
Comecemos pela casa Lleo Morera. A guerra civil espanhola destruiu partes da estrutura, entre elas o belíssimo templete da parte superior do edifício, mas um restauro de 1992 permitiu a Lléo Morera recuperar o esplendor de uma deusa. Infelizmente não  consegui ver mais do que a sua fachada, pois não é possível visitá-la, a não ser em momentos especiais. 

Já a Casa Amatler (sim, a do famoso chocolateiro catalão Antoni Amatler) foi transformada pelo conceituado arquiteto Puig i Cadafalck num maravilhoso palácio gótico urbano, seguindo um estilo muito pessoal, onde desde a fachada aos interiores é possível observar referências arquitetónicas ao A de Antoni e de Amatler. Fiz uma visita guiada à casa e pude reparar na apoteose de artes decorativas da fachada, onde a influência da arquitetura dos palácios do norte da europa fica evidente no frontão flamengo decorado com azulejos vitrados. 

As figuras que surgem na fachada recriam criaturas fantásticas, que costumam aparecer nas construções góticas. O interior da Casa Amatler é riquíssimo: os tetos, os vitrais, o chão em mármore decorativo. A guia foi de uma enorme amabilidade, tornando a visita muito interessante. Infelizmente, os turistas não procuram a casa Amatler como a Casa Batló e não sabem o que perdem, até porque a visita termina na loja de chocolates.

Depois de ver o luxo, a arte, a beleza criadas por Domènech e Cadafalck, Gaudi fez de Afrodite e arrasou com a concorrência. 
A Casa Batló é património da humanidade, por decreto da Unesco e um das maiores referências turísticas de Barcelona.
Visitá-la é obrigatória para quem vai a Barcelona. É dinheiro e tempo que não se lamenta. 
Em 1903, Gaudi aceitou o pedido do rico empresário têxtil Batló (entusiasmado com o que Gaudi fizera em La Pedrera para o seu amigo Pére Milá i Camps) e começou a remodelar o seu palácio, pois este não podia ficar a atrás do seu vizinho, Antoni Amatler.

O trabalho de Gaudi é belíssimo e criador. Nada tinha sido feito até então de comparável. Inspirando-se em formas orgânicas da natureza, Gaudi cria uma fachada de muros ondulados, sobre os quais colocou o seu famoso trencadis (fragmentos de cerâmica e vidros quebrados), o que confere um extraordinário colorido e relvo à inovadora fachada.
Observar a Casa Batló do Passeig de Grácia é como admirar um quadro impressionista onde é possível imaginar a superfície do mar brincando com os reflexos da luz e do sol.
Ao olhar as três (ou as cinco), o visitante sente … que não deve escolher, apenas deleitar-se.

Gabriel Vilas Boas

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