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sábado, 6 de agosto de 2016

VOCÊ TEM TODA A RAZÃO



Millôr Fernandes, o maior frasista brasileiro, costumava dizer que, por mais forte que fosse o argumento contrário, havia sempre uma resposta que calava a boca de qualquer um: você tem toda a razão.

Muitas vezes, esta é a maneira mais inteligente de terminar uma discussão que começa a ficar “feia”, manter a paz entre dois amigos ou simplesmente perceber que o outro tinha mesmo razão. Infelizmente, a última hipótese é a mais rara. 



Quando entramos numa dada discussão/debate sobre qualquer tema, raramente colocamos a hipótese (por mais académica que seja) dos nossos argumentos serem mais fracos ou de “o outro ter razão”. Ora, é tão possível termos razão como aquele com quem debatemos. Erradamente, entendemos a fraqueza dos nossos argumentos como como frouxidão pessoal e lutamos por eles como se a nossa honra estivesse em jogo. E está, mas apenas quando não somos capazes de perceber o óbvio e sinceramente dizer “Você tem toda a razão”. Claro que a troca de argumentos deixa de fazer sentido; evidentemente que o nosso interlocutor “ganhou” o debate, mas há mais debates para vencer e a conversa não conhece apenas a faceta da controvérsia. 

Normalmente só quando não somos parte envolvida, vemos que, por vezes, há mais grandiosidade no reconhecimento da vitória do outro que no consciente teimar de uma posição errónea. 

No entanto, Millôr quis chamar a nossa atenção para o lado perverso da expressão “Você tem razão”. Na maioria dos casos, ela não é o reconhecimento do mérito do outro, mas uma maneira de o menorizar, chamando a atenção dos outros para a forma cega como é incapaz de ver a razão do seu interlocutor. 
Admiravelmente, a estratégia resulta, porque a nossa vaidade excede largamente o discernimento e torna-nos motivo de chacota. Somos muito permeáveis ao elogio alheio e nem tratamos de discernir sobre a sua autenticidade. Como poderia dizer alguém que discutia connosco violentamente há segundos atrás “Você tem toda a razão”? A vaidade daquela pseudo vitória ofusca-nos o entendimento e não damos conta do logro. 

Se estivéssemos naturalmente habituados a ganhar e a perder debates, não nos sentiríamos com a nossa honra constantemente em xeque e talvez ninguém tivesse a coragem de nos desrespeitar tanto, fingindo dar-nos razão.
gavb

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