Mário Moniz Pereira era mais do que o “senhor atletismo”,
ele era um senhor, na maneira como
elevou o nível mental e cultural do desporto nacional a partir do atletismo.
Dizia repetidamente que era sócio do Sporting Clube de
Portugal e não no “Sporting Futebol Clube”, para criticar a ditadura do futebol
no seu clube, como nos media ligados ao desporto. Apesar de ligado ao
atletismo, percebia a importância das várias modalidades e defendia-as, com
paixão e sabedoria, das garras do egocentrismo do futebol, destacando os feitos
que cada uma aportava ao desporto nacional, nomeadamente por altura dos Jogos Olímpicos.
No começo da década de setenta, Moniz Pereira declarou: “Se
treinarmos como os outros, somos tão bons como eles”.
Para o antigo recordista
do triplo salto, o fado tão português do coitadinho não tinha razão de ser e o
desporto nacional tinha as mesmas hipóteses de atingir bons resultados a nível
mundial que outras seleções, se fosse exigente consigo.
Demorou apenas meia dúzia de anos a apresentar resultados,
pois em 1976, Carlos Lopes ganhava a medalha de prata dos 10.000 metros dos Jogos Olímpicos de Montreal. A glória suprema chegaria oito anos mais tarde,
quando, em Los Angeles, o seu discípulo predileto alcançou o topo ao vencer a
maratona olímpica, arrecadando a primeira medalha de ouro do olimpismo
nacional.
Pelo caminho, já Moniz Pereira tinha posto em funcionamento a linha
de montagem de diversos campeões europeus e mundiais, do fundo e meio fundo do
atletismo nacional, conduzindo o clube de Alvalade ao título europeu de
corta-mato e Domingos Castro ao segundo lugar nos campeonatos do mundo de
atletismo de Roma (1987), na prova de 5000 metros.
Moniz Pereira era uma pessoa que dava prazer ouvir, pois
cativava pela sabedoria, jovialidade, alegria, simpatia e ousadia. Era um
sportinguista adorado pelos seus e muito respeitado pelos adversários que lhe
reconheciam o desportivismo que lhe corria nas veias, já que nunca precisou de
menorizar quem quer que fosse para destacar o seu mérito.
Mário Moniz Pereira parte, no último dia de Julho, aos
noventa e cinco anos, a cinco dias do começo dos primeiros jogos Olímpicos realizados
num país de língua oficial portuguesa. A melhor homenagem que os atletas
nacionais lhe podem fazer é transformarem-se em frutos tardios da bela árvore
que embelezou o desporto nacional nas últimas quatro décadas e que ontem,
finalmente, tombou.
Gabriel Vilas Boas
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