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quinta-feira, 20 de março de 2014

RUA CARLOS AMARANTE

Carlos Amarante - arquiteto e engenheiro militar

Esta rua pretende homenagear Carlos Luís Ferreira da Cruz Amarante, nascido em Braga a 29 de Outubro de 1748. Era seu pai Manuel Ferreira da Cruz e que segundo o Dr. Albano Sardoeira (in Notícia de alguns artistas que trabalharam em Amarante) era natural de Amarante, o que terá originado o uso deste apelido no nome de seu filho.
Quando jovem, Carlos Amarante, dada a íntima relação do seu pai com a arquidiocese de Braga onde era músico, esteve destinado à vida eclesiástica, entrando no seminário aos dezassete anos, que abandonou por falta de vocação, para se dedicar à ilustração de livros religiosos e ao ensino da música.
Em 1771 casa-se com Luísa Clara Xavier, da qual teve quatro filhos.
Dois anos mais tarde foi indigitado Inspector das Obras Públicas de Braga.
Em 1783, foi nomeado porteiro da Câmara do Arcebispo D. Gaspar de Bragança, facto que lhe permitiu frequentar o Palácio dos Arcebispos e a sua biblioteca, onde de forma autodidacta, adquiriu conhecimentos de arquitectura.
Durante esses anos realizou um elevado número de obras em Braga, nomeadamente as do Santuário do Bom Jesus, que fizeram dele um dos principais arquitectos bracarenses do Século XVIII.
Com a morte de D. Gaspar de Bragança, que fora seu mecenas, Carlos Amarante inicia uma carreira militar aos 45 anos, no Corpo Real de Engenheiros.
Em 1796 foi promovido de segundo a primeiro-tenente e a partir de 1799, ficou responsável dos trabalhos de Construção de Estradas e Pontes do Reino.
Em 1801 ascende ao posto de capitão do mesmo Corpo Real de Engenheiros e trabalha na fase final da transformação urbana o Porto.
Nessa cidade passou a residir e projectou em 1802 uma ponte de um só arco, em alvenaria, com a qual propunha ligar as duas margens do Douro, entre a Porta do Sol, no Porto e o terreiro do Mosteiro da Serra do Pilar, em V.N. de Gaia. Este projecto foi preterido pelo da Ponte das Barcas datado de 1806 e também da sua autoria.
Carlos Amarante foi afastado o serviço em 1812 e vem a falecer a 22 de Janeiro de 1815.
Foi sepultado na Igreja da Trindade.
Sousa Viterbo, in “ Dicionário dos Arquitectos, vol I, pag. 25”, atribui-lhe a obra da actual Ponte de S. Gonçalo em Amarante.
O Dr. Alberto Feio ao fazer o estudo biográfico de Carlos Amarante diz: “após a nomeação ficou adstrito à secção de pontes e estradas e morava em Lisboa na rua das Trinas. Incumbiram-lhe o projecto da Ponte de Amarante, que dele deixou um magnífico desenho a aguada, ainda visto por Diogo Forjaz em 1843…”
Carlos Amarante realizou igualmente trabalhos na Igreja de S. Pedro em Amarante.

Esta rua Carlos Amarante, é uma curta artéria que liga o Largo de Stª Luzia à rua Paulino Cabral, que por sua vez é a rua paralela à linha do caminho-de-ferro e liga a Ponte seca à estação ferroviária.
Foi em tempos idos a Rua da Ordem, importante porta de entrada da Amarante medieval, para quem desde o Porto ou Guimarães demandava a nossa terra! Era uma rua de passagem obrigatória para os que acediam à “comprida rua de Amarante” que ali se iniciava e se prolongava até à ponte. E assim continuou desde os primórdios do povoamento de Amarante, até à reconstrução da vila, decorrente da destruição provocada pelos invasores franceses.
O nome Rua da Ordem, veio-lhe seguramente da importância que tiveram em Amarante os religiosos da Ordem do Hospital (Hospitalários).
A Ordem Soberana e Militar Hospitalária de S. João de Jerusalém de Rodes e de Malta foi fundada na Palestina, durante as Cruzadas. A partir de 1530 passou a designar-se como Ordem de Malta.
Esta ordem depressa chegou a território que hoje é Portugal, pois D.Teresa, mãe do nosso 1º rei de Portugal, terá concedido aos frades desta ordem o mosteiro de Leça do Balio, entre os anos de 1122 e 1128. Em 1140 D. Afonso Henriques outorgou à ordem do Hospital uma Carta de Couto e privilégios, o que atesta a sua importância desde o início da nossa nacionalidade.
Em Amarante a Ordem do Hospital existia em Fregim e segundo António de Sousa Machado in “Amarante Medieval” “… deve ser produto de doação de Dona Sancha, irmã do Rei D. Afonso III, à Ordem do Hospital que então tinha sede em Leça, e onde se manteve até se transferir para o Crato em 1240”. O mesmo autor refere que antes de em Fregim haver prelado da ordem, havia organização da mesma na Granja e refere especificamente que esta Granja era “a par de Fregim” e não a Granja ali na proximidade de Amarante.
Ora esta Ordem do Hospital já em 1220, no tempo e D. Afonso II, era possuidora de terras, casas e rendimentos em Santa Maria da Vila de Amarante e em S. Veríssimo de Amarante.
A Administração de Amarante nesta época medieva, era feita em parceria por dois juízes, sendo que um deles era eleito pelos moradores das casas da Ordem. E este juiz ia fazer o seu juramento ao provedor ou comendador da Ordem em Fregim! Aliás enquanto o juramento do juiz não fosse ratificado em Fregim, o mesmo não exercia funções!
Do papel desta Ordem na vida de Amarante é bem elucidativa uma carta de El-Rei D. João I, datada de 24 de Janeiro de 1387, em que faz saber aos homens bons do concelho de Amarante que "sendo vosso costume que quando o senhor desse lugar morre, vós deveis eleger outro, qual a vós procurar e porque ora morreu Vasco Martins de Sousa, que o daí era, elegestes, por vosso senhor, Dom Frei Álvaro Gonçalves Camelo, Cavaleiro Prior da Ordem do Hospital e nosso Marechal e pedia-nos por mercê, que vo-lo confirmássemos e vendo o dito costume e dita eleição e querendo-vos fazer mercê, temos por bem e confirma-vo-lo, como nosso senhor, em sua vida.”
Dada a importância desta Ordem na vida desta comunidade desde tempos tão remotos não admira que haja uma rua com tal nome! O que até me parece muito pouco!
António Aires

4 comentários:

  1. Grande viagem o autor nos proporcionou, desde o ilustre Carlos Amarante como arquitecto que só por si chegava para ilustrar esta página sobre historia. Porém, viajou mais além, focando outros pormenores. Amarante e pessoas que como eu que gostam de história estão lhe gratos. Pov.

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  2. É bom que não te voltes a atrasar... eheheh...

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  3. ...e o atraso foi enorme!... Causou danos irreparáveis!.... CUIDADO!...

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    1. O atraso não foi enorme. Na verdade, foram apenas breves minutos.
      Mas ficamos contentes que os leitores(as) do Dia da História acompanhem este blogue com muita atenção e carinho. É sinal que os textos do professor Aires são ansiosamente aguardados. E ainda bem!

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