Etiquetas

sexta-feira, 14 de março de 2014

MUSEU JUDAICO DE BERLIM

Esta semana gostaria de vos falar sobre um edifício que me impressionou de uma forma tão intensa que até hoje me lembro das inúmeras sensações que senti ao percorrê-lo.
Trata-se do Museu Judaico de Berlim. Sensibilizou-me o facto desta obra, do arquiteto Daniel Libeskind (1946- ), conseguir criar emoções a todos os visitantes, não só àqueles teoricamente mais “ligados” à área da arquitetura. Este projecto marcou de tal maneira a forma como via a arquitetura, que me deu mais alento e certezas que estava no curso certo e fez ressurgir aquela paixão pela arte de idealizar, delinear e conceber os espaços.





(Museu Judaico e a sua relação com o Kollegiehouse e a envolvente)








O Museu Judaico de Berlim materializa a memória da Nação Judaica. Nele estão expostos dois milénios de História judaica e a relação entre judeus e não-judeus. No entanto a questão do Holocausto está bastante vincada, verificando-se até na atribuição de áreas próprias, como veremos a seguir. 
Há um certo sentimento de perda e angústia patente em todo o edifício.





Vistas interior do Museu. Entrada para o edifício projectado por Daniel Libeskind e sua exposição permanente





O arquiteto Daniel Libeskind, filho de judeus polacos sobreviventes do Holocausto, conseguiu projetar um espaço que explora as emoções do visitante, de maneira a criar um ambiente simbólico e sensorial.
O autor atribui o nome “Between The Lines” ao projeto, devido à relação que estabelece entre a linha sinuosa, do volume do Museu Judeu, e a linha recta “imaterializada”. Esta proporciona uma série de espaços vazios, que não são mais do que pátios que fazem a ligação com a linha sinuosa, dando origem aos “vazios” os “voids”, símbolo do desterro e da perda da cultura judaica, criados pela barbárie a que os judeus foram sujeitos no século XX.





(Croqui feito pelo arquiteto, explicando os acessos, a volumetria e o conceito do projeto. Esboço exemplificativo da desintegração da Estrela de David)


O Museu é apelidado de “Blitz”, “raio”, pela sua forma em zig-zag. A implantação do edifício remete igualmente para a Estrela de David (símbolo do povo judaico) estilhaçada. Uma conotação direta ao holocausto infligido aos judeus. Este estilhaçar do símbolo máximo judaico é representativo do aniquilamento da cultura, do desrespeito pelo valor da vida e de todo o sofrimento gerado pelos nazis.
Daniel Libeskind confere ao Museu um caráter de búnquer, de fortaleza, através do aspecto “áspero” e frio do material de revestimento, zinco, e das poucas aberturas para o exterior. Aqui também os estilhaços podem ser percepcionados. 
O arquiteto “salpica” todo o volume com os “rasgos de luz”, aparentemente ao acaso, no entanto são aberturas extremamente bem pensadas e orientadas meticulosamente para receber a luz solar, direccionando-a especificamente para um ponto ou área. É ainda atribuído aos “rasgos de luz” o significado da viagem que os judeus eram sujeitos até aos campos de concentração ou exílio, nas carruagens de comboio onde só viam o exterior através de frestas.
Os corredores intensionalmente estreitos, altos e com poucas ou nenhumas aberturas, são a forma de transmitir a sensação de repressão, opressão e impotência sentida pelos judeus.

 
(Vista de uma das fachadas, onde os estilhaços da Estrela de David, podem ser percepcionados. Vista de um dos “vazios”)

O visitante, ao chegar ao Museu, é encaminhado para o subsolo, onde começa a visita. Aqui depara-se com três corredores, que correspondem: ao “Eixo do Holocausto”, que leva à Torre do Holocausto; ao “Eixo do Exílio”, que conduz ao Jardim do Exílio; e ao “Eixo da Continuidade” que encaminha o visitante para o restante percurso do Museu.










(Esquematização dos acessos e dos eixos que definem o projeto)


O percurso do “Eixo do Holocausto”, torna-se progressivamente mais estreito e escuro, até chegar à porta da Torre, pesada e enorme que uma vez transposta cria no visitante um choque emocional, fruto de fatores arquitetónicos como a altura de vinte metros numa reduzida aérea, quase totalmente fechada, tendo apenas um pequeno feixe de luz, que passa por uma abertura num dos topos. 
Uma sensação de arrepio, medo, frio, um silêncio avassalador e ao mesmo tempo um único som toma proporções terríveis, ecoando por toda a sala.


(Vista do corredor do Eixo do Holocausto; Torre do Holocausto iluminada para melhor percepção do espaço)

O “Eixo do Exílio” conduz o visitante por um corredor que se vai estreitando, com as paredes levemente oblíquas e o chão algo irregular e inclinado produzindo uma sensação de desconforto, desequilíbrio e uma certa dificuldade em percorrê-lo. Este desemboca no “Jardim do Exílio” que fica no exterior do edifício. O “Jardim” é composto por 49 blocos de cimento (7x7 número sagrado para os judeus), encimados por plantas (simbolizando a esperança), organizados numa quadrícula, cuja área tem uma inclinação acentuada, proporcionando um sentimento de desorientação, instabilidade e, ao mesmo tempo, o facto de só se ouvir o som da cidade cria a aspiração de transpor os muros.
 Vistas do Jardim do Exílio

Por fim o “Eixo da Continuidade”: o mais extenso. Contém uma comprida e alta escadaria, atravessada por vigas de cimento que ao mesmo tempo que rasgam as paredes, são os seus suportes. Fazem lembrar por um lado, os danos sofridos pelos judeus e por outro lado simbolizam a sobrevivência da Nação Judaica e da sua cultura. Este percurso leva-nos aos andares superior onde esta patente a exposição que conta a História do Judeus no território alemão.
A exposição permanente, vai aligeirando aos poucos o ambiente pesado, vivenciado anteriormente, e mostra a parte mais leve, por vezes lúdica, ao contar o quotidiano dos judeus e as suas tradições.


                                                                
(Vistas do Eixo da Continuidade)
Chegados ao fim da visita de todo o complexo, o sentimento que fica, estranhamente, não é pesado, nem culpabilizante, talvez de tristeza. Sobretudo fica a compreensão do papel da cultura judaica na Historia da Humanidade e a precessão de que a sua cultura sobrevive e irá sobreviver apesar de todas as tentativas de destruição.
Teresa Beyer






6 comentários:

  1. Interessa-me! Nunca lá estive, um dia destes será, assim o espero, agora que fiquei ainda com mais vontade de visitar o espaço. Entretanto, posso usar as fotografias nas minhas apresentações em PowerPoint?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa tarde, desculpe só agora responder. As fotos apresentadas no artigo são uma selecção efectuada a partir de imagens da internet, por isso penso que poderá utilizar sem qualquer problema. Obrigada pelo seu comentário.

      Eliminar
  2. Edifício interessantíssimo...e muito belas as fotos. Parabéns.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Espero que tenha suscitado interesse de visita! decerto que vai gostar da experiência proporcionada. Berlim é sem duvida uma cidade a conhecer, e este museu não é como tantos outros judeus, pesarosos e aborrecidos. T.B.

      Eliminar
  3. Excelente texto e esclarecimento!!! Não conheço o Museu Judaico de Berlim, mas fiquei curiosa... o espaço interior e exterior são interessantes, dignos de visita. Parabéns.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, sem duvida, merecem uma visita! T.B.

      Eliminar