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terça-feira, 18 de março de 2014

O PÚBLICO E O TEATRO

O público é um elemento essencial do Teatro, do ponto de vista económico, sociológico, motivacional, organizacional e da própria representação.
                O público é o fim último da representação teatral. Representa-se porque há público. É o público que fundamenta a existência do teatro, pois é por causa dele que o texto dramático se transforma em teatro.
                Em todas as épocas o público foi um elemento preponderante para o teatro. Na génese do teatro temos o público que se reunia para adorar/celebrar os seus deuses através de rituais. Mais tarde o público assume o papel de espectador da representação. Atualmente, o teatro volta a envolver o público, o que significa um regresso feliz à matriz do teatro grego que pressupunha que o público participasse ativamente no espetáculo. Só assim ele o sente como seu, só desse modo se suscita a reflexão e interpelação que o dramaturgo e o encenador almejam.
                O teatro realista e naturalista sentaram o público frente ao cenário e atribuíram-lhe uma função passiva. As pessoas iam assistir, iam consumir um produto cultural. Através do teatro, as elites sinalizavam o seu grau cultural e com isso pretendiam afirmar o seu estatuto social e até económico. Ia-se ao teatro também para exibir as toilettes, para conviver, para ver e ser visto, por moda, por oportunidade. O teatro tinha público e prosperava. No entanto, ao público estava vedada qualquer participação e representação. O espectador devia vibrar, chorar, rir com o que via e ouvia, mas não interferir ou interagir.


                Com o passar dos anos a situação foi mudando. Primeiro, o teatro simbolista começa por atribuir um papel secundário (mas ainda assim um papel) ao público. As peças continham elementos sugeridos, que não estavam presentes em cena e que cabia ao público decifrar, imaginar.
                Mais tarde, no século XX, o teatro do absurdo e o teatro visual trazem um novo e arrojado conceito: envolver o público diretamente na cena. Trata-se dum conceito muito exigente, pouco seguro, mas altamente desafiante. Atores e encenadores não sabem como reagirá o público nem tão pouco sabem se haverá público.
                Perdido o glamour, a áurea, o brilho que transportava consigo, o teatro perdeu imenso público para o cinema (numa primeira fase) e para a televisão e internet, em fases posteriores. Ao teatro não restava, pois, outra alternativa que não desafiar os seus fiéis, puxando-os para dentro da representação. Até porque nada é mais aliciante para o público do que atuar. E isso faz muito sentido no contexto social atual. Nunca tanto o “Eu” teve necessidade de ser admirado pelos outros. Para o espectador é altamente sedutor ser ator por uns minutos ou breves instantes.
Como o fazer?
O encenador pode alterar, até mais do que uma vez, durante a representação, o lugar da cena e do espectador. Isso torna a cena aberta e há novos e inusitados lugares de representação. Os atores movem-se e obrigam o público a mexer-se, pois a ação é transportada para a zona do público.
Outra técnica usada é recuperar a figura do narrador que, tal como fazia o coro no teatro clássico, interpela o público diretamente. Temos o exemplo claro da Comédia à la Carte, onde os atores usam e abusam da improvisação, pois vão construindo a sua atuação conforme os sinais emitidos pelo público.
Outro modo de fazer o público partilhar a representação é provocá-lo. Aqui a peça não se importa apenas em agradar ao público, mas antes em despertar sensações e sentimentos, sejam eles de repulsa, surpresa ou medo.
Em conclusão, o Teatro reinventa-se e recupera parte da sua alma chamando o público para a representação. Os gregos não o queriam apenas como espectador, desejavam que ele fosse um outro ator.
Lentamente, o público regressa ao anfiteatro para o espetáculo total.

Gabriel Vilas Boas

  

2 comentários:

  1. EXCELENTE TEXTO!!! O TEATRO PERDEU IMENSO PÚBLICO PARA O CINEMA, PARA A TELEVISÃO E INTERNET. EU ADORO TEATRO... MAS, HÁ QUANTO TEMPO, NÃO ASSISTO A UM ESPETÁCULO?! PARABÉNS GABRIEL.

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  2. Como já te disse, Ana, tens de ir ao teatro com alguma regularidade. Nem sabes o que perdes. Muito melhor do que qualquer "cineminha".

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