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terça-feira, 27 de novembro de 2018

DEPOIS



Depois de sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois de tantos desenganos
Nós nos abandonamos 

como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também


Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também



Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar





Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos 

pelos de um outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém



Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois

                                                                                                                                                                                     Marisa Monte

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

EXPLORAÇÃO NOS BASTIDORES DA TELEVISÃO PORTUGUESA

Corajosamente, a atriz Ana Sofia Martins denunciou a exploração laboral a que a equipa ténica da telenovela da TVI "Ouro Verde"é submetida pela produtora Plural.
Aproveitando so holofotes proporcionados pela conquista do Emmy, em Nova Iorque, ana sofia desabafou.

«Ganhámos um Emmy! Que sensação boa termos o nosso trabalho reconhecido. Quando digo nosso não é o das pessoas que aparecem na TV, até porque sem os técnicos não somos absolutamente nada. Técnicos esses que são explorados a nível salarial e psicológico. Trabalham doze horas po dia,  a contratos temporários, sem segurança.»

Obviamente a TVI (como a SIC ou a RTP) lavam as mãos à maneira de Pilatos, usando as produtoras como intermediários e assim eximindo-se a uma culpa que têm por omissão e conivência.
É preciso a coragem de alguns atores, para que o público conheça a péssima formação pessoal de quem comanda o glamouroso mundo da televisão porque a concentração de meios de comunicação social num ou em dois grupos económicos ergueu um muro de silêncio, sem vergonhice e impunidade, que só é quebrado quando alguém explode nas redes sociais.
GAVB 

domingo, 25 de novembro de 2018

NEM SEMPRE A HISTÓRIA SE FAZ DE VERDADE


Ontem, no Jornal de Notícias, o professor João Baptista Magalhães escrevia sobre o ensino da História, acerca uma polémica de todos os tempos, e que nos últimos meses se voltou a reacender, a prepósito dos Descobrimentos portugueses.
Muito interessante contributo e em cuja opinião me revejo, por completo.

«Ainda frequentava o ensino, quando me chegou um livro que acusava os portugueses de chamar descobrimentos à sua pirataria. Escandalizou-me a questão, mas depois li que Américo Vespúcio (1451-1512), um navegador que dera às terras do Novo Mundo o nome de América, entregou documentos ao rei D. Manuel de Portugal sobre as terras por onde passou e que mais tarde foram reivindicadas como descobertas dos portugueses, mas o rei mandou esconder e, possivelmente, destruir, esses documentos. Mais tarde li "O paraíso destruído", de Bartolomeu de Las Casas (1474 -1566), onde denunciou as cruéis atrocidades, dos chamados descobridores, contra os índios. 

Foi, então, para mim, claro que na História há sempre muitas histórias e, na luta da memória contra o esquecimento, nem todas as coisas do passado são verdade e outras são inventadas para enaltecer regimes e esconder crueldades... 

O espírito da História tem-se construído pela glorificação dos heróis, bravura dos generais, proeminência das batalhas, deslumbramento dos reis, imperadores ou governantes, por tudo o que enaltece a superioridade da força, da coragem, da raça e, sobretudo, do dinheiro. Mas a História não é o piloto de uma viagem dos poderosos, o sinaleiro da vida ao serviço da glorificação, mas o espelho das grandezas e das misérias da alma de um povo, do seu modo de ver, sentir e amar, das suas tristezas e sofrimentos, mas também das suas crueldades. E destas pouco reza a História que aprendemos, mas a História também deve ser um espaço de reflexão sobre o hediondo e não só o inventário de "glórias". 

A verdade andou sempre ligada à justiça e fez o prestígio de quem a anuncia, e, por isso, apoiamos a iniciativa do Conselho Europeu, aconselhando Portugal a repensar a narrativa dos livros de História, para que o que há de mais humano no Homem seja sempre relevante e não a glória das conveniências ou das malfeitorias
João Baptista Magalhães

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

CRIANÇAS LEEM PARA CÃES VÍTIMAS DE MAUS TRATOS




Provavelmente das melhoras e mais sensíveis iniciativas de que tive conhecimento, sobre a recuperação de animais vítimas de maus tratos.
No estado norte-americano do Missouri, a Humane Society of Missouri, recolhe animais, especialmente cachorrinhos, abandonados e vítimas de maus tratos, com o objetivo de os reabilitar e prepará-los para uma futura adoção.
De há uns anos para cá, este abrigo de cães, resolveu entregar às crianças e à leitura a tarefa de reabilitação destes animais.
As crianças com idades compreendidas entre os seis e quinze anos que queiram participar neste projeto só têm de se inscrever no Shelter Buddies Reading Program, além de doar cinco dólares e frequentar um programa de treinamento e habituação de dez horas, antes de se sentarem em frente do seu cãozinho, com um livro na mão, e começarem a lerem-lhe uma história.

O diretor do programa, Job Klepack, considera que “ouvir uma criança a ler realmente confortar estes animais muito debilitados”. 
Os resultados têm sido encorajadores e contribuíram não apenas para reabilitar os cães vítimas de maus tratos como educar as crianças do Missouri para a interação amigável com os animais.
A sensibilidade de alguns adultos e a doçura natural das crianças tornam a literatura u alimento até para a alma dos animais.
GAVB


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

PROIBIR TELEMÓVEIS NAS ESCOLAS? NINGUÉM APRENDE OU ENSINA NADA COM PROIBIÇÕES


Por princípio, sou avesso a proibições, imposições, coações. É verdade que os exageros ou os abusos levam muitos pais, educadores e professores a adotarem a famosa tática da proibição, mas tento resitir-lhe o mais que posso. 

Nos últimos meses tenho assitido a uma pequena cruzada anti-telemóveis, nas escolas portuguesas. Não pertenço ao grupo e, mais do que uma vez, já declarei que ele deve ser cada vez mais usado na sala de aula, pois é um instrumento que permite multiplas funções e interações.

Acho pobre a justificação de que «os miúdos aproveitam logo para ir a sites de diversão, fazer pesquisas indevidas, fazer um uso virado para o lazer e não orientado para o objetivo da aula». Comigo sempre aconteceu ao contrário. Sempre que autorizei o uso do telemóvel dentro da sala de aula, ele tornou-se útil a grande parte dos alunos, retirando dúvidas momentâneas, permitindo a leiura de livros ou documentos inacessíveis naquele momento, tornando a aula mais interativa e participada. 

Não sou um fundamentalista do uso do telemóvel pelos alunos, mas acho pouco inteligente tentar contrariar uma realidade que já se impôs, que é apresentada como o futuro da comunicação e do ensino, que facilita a interação entre docente e discente. 

O que é necessário é ir libertando  dependência do aluno do telemóvel quando tal não o beneficia de todo: no convívio inter pares, na relação com os pais, quando assitem a espetáculos artísticos ou desportivos. E mesmo aí sem proibir. Fazê-los perceber que há que disfrutar a companhia dos colegas, dos pais, dos irmãos e dos amigos. É o que tenho feito com os meus e tem resultado. 
Obviamente haverá sempre quem se mantenha terrivelmente obcecado e precise de uma intervenção mais enérgica e assertiva, mas esses não são a maioria. 

Entretanto seria interessante que as escolas ganhassem espaços e divertimentos, onde os alunos pudessem usar a sua criatividade e capacidade de interagir com os colegas offline. Muitas escolas ou agrupamentos de escolas investeram zero em material, equipamentos ou atividades que ocupem os tempos livres dos alunos. 
É confrangedor que em 2018, mil e tal alunos tenham umas mesas de ping-pong sem rede, uns matrecos avariados e uma sala enorme com três ou quatro mesas redondas e uma dúzia de cadeiras numa enorme salão vazio, sombrio, e sem graça para se divertirem nos intervalos, há mais de vinte anos, sem que nenhum responsável (professor, direção,  associação de pais, autarquia) toma a iniciativa de o melhorar o panorama. 
É sempre mais fácil culpar o telemóvel.
GAVB


 

domingo, 18 de novembro de 2018

D. SANCHO II, FRACO NO TRONO E FRACO NA CAMA


D. Sancho II, o quarto rei Português, foi um dos mais injustiçados, infelizes e traídos reis da História de Portugal.
Apesar de ter subido o trono ainda adolescente (1223) e de ter conquistado vários castelos e cidades aos Mouros, nunca foi amado pela Nobreza ou pelo Clero e acabou traído, de forma ignóbil, pela mulher.

O maior pecado de D. Sancho II foi ter dedicado demasiado tempo e energia à tarefa da Reconquista, desprezando as lutas e intrigas da nobreza e, sobretudo, o governo do reino, especialmente no que à administração da  Justiça dizia respeito.
Clero e Nobreza queixaram-se várias vezes ao Papa do rei «não fazer jusiça nenhuma», deixando o país entregue a bandos de salteadores, que raramente eram punidos devidamente. As constantes queixas junto do papado haviam de produzir os seus efeitos em 1245, quando o Papa Inocêncio IV o declarou «rex inutilis», dispensando os portugueses de lhe prestar vassalagem, transferindo essa honra para o seu irmão, D. Afonso, o «Bolonhês». 

Embora a traição do irmão e de grande parte da nobreza fosse dificil de engolir, D. Sancho II não se ficou e Portugal esteve envolvido numa guerra civil, entre o verão do 1245 e o estio de 1246.
Mais do que a traição do irmão, aquilo que derrubou o ânimo do infeliz rei português foi a traição da mulher - Dona Mécia Lopes de Haro. 
A bela viúva espanhola, por quem se perdeu de amores e a quem presenteou copiosamente, fazendo-a senhora de Abrantes, Torres Vedras, Sintra, Celorico de Basto ou Vila Nova de Cerveira, acabou por se conluiar com os seus adversários. 

Em 1246, aparentemente, Dona Mécia é raptada por umgrupo de apoiantes de D. Afonso e levada, como refém, para o castelo de Ourém. De imediato, D. Sancho II reuniu um pequeno exército para a libertar, mas esta recusou voltar para o marido, aderindo ao partido do cunhado. 
O escândalo foi enorme, até porque a ausência de descendência rela fez alastar o boato de que o rei seria impotente. 
Vergado ao peso da vergonha, D. Sancho II partiu para o exílio, em Castela, onde viria a falaecer a 4 de Janeiro de 1248, sob a fama de mau rei, governante incapaz e marido enganado e impotente.

sábado, 17 de novembro de 2018

AS CRIANÇAS PRECISAM DE SER FELIZES, NÃO PERFEITAS




As primeiras idades são fundamentais para todos os seres humanos, a necessidade de proteção, a dependência dos seus cuidadores, a sede de amor e a satisfação dos seus objetivos é o que determinará, em grande medida, como se desenvolverão em suas vidas como adultos. 

A maioria das culturas deixa de lado as principais necessidades das crianças e o propósito da vida como tal, para colocá-los numa corrida para a qual elas nem estão preparadas, argumentando competitividade, qualidades de liderança, independência, encorajamento e atitudes que as ajudam a destacarem-se, superando as habilidades dos outros. 

As crianças, como boas esponjas, absorvem tudo o que suas principais fontes de influência lhes oferecem - ideias e crenças básicas que as acompanharão durante a maior parte de suas vidas. Somente quando o adulto questiona essas crenças ele é capaz de transformá-las em favor. 



Frequentemente, nós, adultos, pressionamos uma criança a destacar-se num desporto, sacrificando a recreação tão necessária a qualquer criança, provavelmente para cumprir os nossos caprichos ou sonhos frustrados. 

Se ensinarmos as crianças a ouvir, a fazer o que gostam, a pensar, a administrar suas emoções, certamente lhes daremos ferramentas para que possam escolher suas próprias opções, mesmo desde a infância. 



É sempre útil uma orientação, alguma sugestão, mas a imposição não deve ser um recurso. Infelizmente, muitas vezes, os presentes das crianças não se desenvolvem para encorajá-los a realizar qualquer outra atividade que consideremos ser a melhor para eles. 

É preciso que os adultos percebam que a melhor coisa para as crianças é manter a sua essência, o que lhes permite ter o equilíbrio que perderá rapidamente se estabelecermos, por elas, prioridades erradas, desde a infância. 




A contribuição mais valiosa que podemos oferecer aos nossos filhos é o amor, o respeito pelos seus tempos, pelos seus gostos, pelas suas preferências, pelo tempo de qualidade que oferecemos, pelo interesse que mostramos nas suas coisas, mesmo que os vejamos muito pequenos. 

É isso que definirá sua segurança, sua autoconfiança, seu amor próprio, seu senso de pertencimento. O que deve ser encorajado é o impulso de ser melhor que eles mesmos, de fazer de si mesmos, dia após dia, sua melhor versão, não importando o que o irmão, o colega de classe ou o filho do vizinho faça. 



Cada ser é único e tem todo o direito de ser feliz, rodeado de pessoas que valorizam o que é, quem o guia sem forçá-lo. 

Toda a criança merece crescer e ser formado por ser amado, por quem o rodeia e aprender todos os dias a gostar de si também. Quando essas bases são bem fundamentadas, haverá poucas hipóteses de ele não estar alinhado com sua felicidade e certamente se destacará, mas não porque procure competir, mas porque saberá o que quer, o que o faz feliz. 

Não será perfeito, mas será mais claro do que muitos o propósito da vida, que não é outro senão: ser feliz! 

Sara Espejo

terça-feira, 13 de novembro de 2018

PLÁCIDO DOMINGO E JOSÉ CARRERAS: UMA AMIZADE ARRANCADA À RIVALIDADE E AO ÓDIO


A rivalidade. Desde sempre existiu e muitos acham que ela pode trazer o melhor de cada um à tona. Isso é verdade, mas não é o que acontece mais vezes. Aquilo que frequentemente acontece é a rivalidade exponenciar o ódio, a incompreensão, o desrespeito pelo rival. Muitas vezes a rivalidade é imposta exteriormente e não resulta de nenhuma animosidade entre as partes. Acontece assim entre adversários políticos e clubísticos, entre pessoas de duas cidades, ou entre povos próximos ou historicamente «inimigos».
Normalmente são as agruras da vida a dar-nos a lição que não soubemos aprender com os diversos momentos da História.
É conhecida de todos a rivalidade entre Barcelona e Madrid, dentro da sociedade espanhola. Esta rivalidade, muitas vezes levada a extremos doentios, é alimentada por diversos artistas, infelizmente.
Na música clássica, os tenores Plácido Domingo (madrileno) e José Carreras (catalão) são justamente considerados dos melhores intérpretes a nível mundial e as suas vozes são muito apreciadas. Acontece que, por razões políticas, eles tornaram a sua rivalidade em inimizade feroz a partir de 1984, de tal forma que costumavam exigir nos seus contratos de atuação que o «inimigo» não pudesse atuar no mesmo evento.   


No entanto, em 1987, foi diagnosticado a José Carreras uma terrível leucemia que o obrigou a dispendiosos tratamentos nos EUA. Carreras tinha de viajar todos os meses para a América e teve de se submeter a um transplante de medula óssea e a diversas transfusões de sangue. A sua imensa fortuna consumiu-se em pouco tempo, até porque Carreras deixara de poder trabalhar e assim cobrar os altos cachês a que estava habituado.
Já sem recursos financeiros para continuar os tratamentos, José Carreras teve conhecimento que em Madrid havia uma fundação, a Hermosa, cujo objetivo era apoiar o tratamento de doentes com leucemia. Graças ao apoio da Hermosa, Carreras conseguiu concluir os tratamentos, vencer a leucemia e voltar a cantar.
Reconhecido à fundação que tanto o tinha ajudado, Carreras resolveu associar-se a ela e, qual não foi o seu espanto quando, ao ler os seus estatutos, percebeu que o seu fundador, presidente e mais ativo colaborador era o seu arquirrival Plácido Domingo. Rapidamente percebeu que o madrileno se tinha mantido anónimo na ajuda, para que Carreras não se sentisse diminuído ou humilhado com aquela ajuda.
Algum tempo depois, num concerto de Plácido Domingo, em Madrid, Carreras surpreendeu o seu rival, subindo ao palco, e humildemente, de joelhos, pediu desculpas a Plácido Domingo. Este levantou-o, deu-lhe um forte e comovente abraço e a partir desse momento uma odiosa e incompreensível rivalidade tornou-se numa forte amizade.
Amigos para sempre!

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

VETAR A LEI DO TEMPO PARCIAL ATÉ É FÁCIL, O DÍFICIL É VOTAR A LEI DO TEMPO TOTAL


Entre a classe política portuguesa anda toda a gente com vontade de passar a mão no pêlo dos professores, como se estes não percebessem o sofisma dos vários partidos políticos. 

Mal cheirou a Rui Rio e ao PSD que o Presidente da República podia vetar o decreto-lei que contava apenas parcilamente o tempo de serviço dos professores, para efeitos de progressão na carreira, logo fonte dos sociais-democratas fez constar nos diversos órgãos de comunicação social que o partido laranja estaria disposto a vetar o diploma, caso o Presidente o vetasse. 

Esta posição do PSD é pura estratégia política e visa apenas não permitir que BE e PCP capitalizem politicamente o suposto veto presidencial.
Aliás Rui Rio já fez questão de deixar claro que espera um sinal de Belém, ao dizer que  
"O diploma ainda não se conhece, está para promulgação do Presidente da República, e só depois disso o PSD vai tomar uma posição em consonância com o documento. As posições que vão tomar o PCP e BE não faço a mínima ideia, nem sei se são coincidentes, mas, se forem, não é por isso que vou alterar a minha [posição]

Rio espera que Marcelo faça aquilo que nunca esteve programado fazer, pois o Presidente sempre deu cobertura à falta de palavra de António Costa aos professores. 
No entanto, quer o Presidente quer o PSD sabem que a posição dos professores assenta na mais elementar justiça e tentam minimizar os custos políticos, sociais e até educacionais que o desalento dos professores terá nos próximos anos.

Toda a oposição anda à cata do voto dos professores, mas são tão hipócritas que não fazem aquilo que está ao seu alcance, ou seja, fazer propostas de alteração à lei do próximo orçamento que inclua o pagamento, imediato ou faseado, de todo o tempo de serviço presado pelos professores portugueses. 

Rui Rio até diz o que o PSD faria, se fosse governo, ainda que com meias palavras e meios compromisssos, ao contrário do que sempre prometeu que seria a sua atuação política.
« Se fosse  o PSD [no governo] negociava com os professores, tentando arranjar um compromisso com equilíbrio orçamental, mas também no eixo do tempo e na forma para o reconhecimento dos nove anos. Pode ser com o tempo de reforma ou espaçado no tempo, há muitas formas com criatividade para o fazer»

Rui Rio e o PSD, assim como Jerónimo de Sousa e o PCP ou Catarina Martins e o BE têm uma grande oportunidade de mostrar que s suas palavras não são mais um exercício de hipocrisia política. Quem tem maioria para vetar, também a tem para aprovar. 

Infelizmente, atendendo ao percurso que a ILC dos professores, para a aprovação total do tempo de serviço prestado, estou em crer que as luzinhas de hoje não passam de fogo fáctuo. 

GAVB

domingo, 11 de novembro de 2018

DADOS A FOLGAR NÃO GOSTAM DO TRABALHO


No último quartel do século XV, quando os povos peninsulares se preparavam para descobrir o mundo que existia para lá da Europa, o cavaleiro alemão, Nicolau Popplau, oriundo da Silésia, viajou pelo continente europeu, entre 1483 e 1486, e fez uma paragem em portugal.
A sua estadia no nosso país permitiu-lhe fazer um interessante retrato dos portugueses, que foi muitas vezes recordado, nos últimos cinco séculos. 

«Os portugueses são entre si e para o seu rei, com exceção da nobreza, muito mais leais que os ingleses; nem são tão cruéis e desasinados como estes. No comer e no beber mais moderados. São mais feios, de cor morena e cabelo preto. Dados a folgar , não gostam de trabalhar e por isso  não dão hospedagem para ganhar dinheiro, nem a nacionais, nem a viajantes. São grosseiros, gente sem bondade nem misericórdia, incluindo a própria corte do rei. [...] Muitos vivem unicamente de pão e água. Há poucas mulheres belas, que parecem mais homens que mulheres, porém têm olhos geralmente negros e formosos; penteiam-se sem exagerados adornos no cabelo, cobrem o colo com um pequeno laço de lã, ou com um laço de seda; deixam mirar livremente a a cara e trazem o vestido e a camisa decotados, de maneira que se pode ver metade do seio; da cintura para baixo trazem muitas saias, por isso o revés do corpo parece garboso e grande como um ganso de São Martinho, e tão volumosos que, deveras o digo, não hei jamais visto coisa assim maior.»

O discurso do alemão é tão desconcertante como ambivalente, misturando elogios e críticas de gosto bastante duvidoso, até porque uma das qualidades dos portugueses mais gabadas externamente é a hospitalidade e, atualmente, o país ganha bom dinheiro com o turismo. No entanto, no meio do texto do alemão ficou cravada aquela frase, "Dados a folgar não gostam do trabalho", que, tenho a impressão, constituiu o fio condutor do pensamento do alemão médio sobre os portugueses. 

Não deixa de ser curioso que a nossa opinião sobre certos povos se baseia em algo tão frágil como a opinião, muito subjetiva, do nossos conterrâneos que, em determinado momento, visitaram um dado país e entraram em contacto com um número pequeno de habitantes desse território. Ou seja, não raras vezes, assentamos a nossa avaliação sobre um povo num preconceito, numa observação magoada ou uma impressão de dois ou três dias. É muito pouco e muito leviano.  

GAVB

sábado, 10 de novembro de 2018

A PASSWORD QUE FALTA AOS POLÍTICOS PORTUGUESES: #POUCA VERGONHA


Já todos sabemos que Emília Cerqueira, a deputada password, não é virgem, mas estava muito ofendida: inadmissível fazer um caso, quando o deputado comete uma ilegalidade, assinando por outro uma presença fraudulenta. 
O tom arrogante e desafiador com que dirigiu à comunicação social traduz bem o quadro mental e moral de muitos políticos portugueses: cometem ilegalidades, sim, e qual é o problema?
Para eles, nenhum, porque a lei não foi feita para eles. 

Rui Rio tinha prometido uma banho de ética na política, mas o que vemos da parte da deputada Emília Cerqueira e do deputado José Silvano é algo parecido com o lamentável caso Robles, em que durante alguns dias o Bloco de Esquerda fez a triste figura de defender o indefensável.

Vai muito mal o PSD se pensa que o caso da presença fraudulenta do deputado Silvano é um ataque à direção do partido. Infelizmente trata-se de mais um pontapé na ética que devia ser sagrada para qualquer político. 
O Bloco de Esquerda demorou alguns dias a afastar Robles; quanto tempo vai demorar Rui Rio a mandar a deputada Emília Cerqueira a partilhar password com as virgens da sua terra? 

Não é apenas no Brasil ou nos EUA que uma mentalidade medíocre, iníqua e nojenta ganha assustadoramente adeptos. Também em Portugal, a ética e a lei têm perdido largamente para a pouca vergonha de quem detém cargos públicos.

GAVB

terça-feira, 6 de novembro de 2018

TRAGÉDIA NO DOURO


Para os portuenses, a mais sinistra das invasões francesas foi a segunda, a de 1809, quando o começo da Primavera trouxe o terrível general Soult ao norte de Portugal, para, no espaço de duas semanas, tomar posse de uma parte significativa de um reino desordenado e indefeso.

Napoleão estava ávido de vingança, depois da humilhação sofrida em 1908, e por isso trouxe as tropas até Madrid e encarregou o Soult de arrasar o norte de Portugal. Chaves foi uma porta fácil de arrombar e Braga rendeu-se sem grande luta, o que muito enfureceu a população, que logo tratou de assassinar o seu fraco defensor, à paulada.

O Porto também não resistiu mais de três noites. A 29 de Março de 1808 a multidão desodenada tentou correr sobre as águas do Douro, tendo as famosas barcas como tapete salvador. Obviamente o frágil chão cedeu e vários alçapões se abriram naquelas centenas de metros que separam as margens do rio Douro. Para muitos milhares de portuenses, aquela foi a sua última noite. O povo falou em vinte mil mortos, mas relatos menos emotivos apontam para quatro mil portuenses que deixaram as suas vidas no Rio Douro. Acossados pelos franceses, pelas costas, os fugitivos empurraram-se a ânsia de alcançarem a outra margem, acabando, muitos deles por cair à água e afogarem-se na forte corrente que o rio trazia. 

A cidade chorou amargamente aquela desastre, mas Soult não ficou muito tempo a saborear a vitória. Mês e meio mais tarde, já o general Wellesley cruzava o Douro, vindo de Gaia, e obrigava o fanfarrão Soult a fugir, com o rabinho entre as pernas, para a Galiza. 

Os franceses ficaram pouco tempo na cidade e no país, mas o suficente para espalhar o horror e a destruição. O povo que tinha feio a revolução da "liberdade, igualdade e fraternidade" mostrava-se boçal, carniceiro, não respeitando tradições, pessoas, património. 

Para o Porto ficava aquela mancha histórica e social, que o tinha feito prder em toda a linha: as pessoas, os bens e o orgulho. 

GAVB 

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A FENPROF FOI À WEB SUMMIT

Imaginar Mário Nogueira, à porta do Altice Arena, a distribuir uns panfletos, sobre direitos laborais dos professores portugueses aos participantes da Web Summit,cria imediatamente vários cenários humorísticos. 

Os participantes portugueses ainda podem saber quem é o líder da Fenprof, mas os estrangeiros terão achado sui generis aquele modo tão século XX de reivindicar. 

Nogueira foi tentar senbilizar a Meca da desregulação das leis do trabalho, para os direitos não creditados aos professores? 
Certamente, o líder da Fenprof quis apenas captar a atenção dos media, porque os participantes da Web Summit estão nas antípodas dos simpatizantes da causa sindical. 

Se Mário Nogueira tivesse arriscado o seu Inglês e explicado, em poucas palavras, as razões da sua luta, ainda se arriscava a ganhar um convite para formar um startup sobre sindicalismo no século XXI. 

E talvez não fosse má ideia, pois se há coisa a que o governo, em particular, e a opinião pública em geral, prestam a maior vassalagem e fazem todas as reverências é às novidades tecnológicas. 
Qualquer «coisa» que dali saia soa logo a modernidade, a futuro, a desejo de investir largos milhões, mesmo que não se saiba bem o que é, para que serve ou até se resulta. 

O pessoal da Web Summit não quer saber de direitos laborais, nem de férias, nem dos catorze meses de salários, nem carreira profissional. Paddy Cosgrave apenas exige uns milhões de euros para promover estas cimeiras tecnológicas e outros tantos milhões para investimentos em startup's, que é como quem diz »empresas que prometem criar um modelo de negócio (não um negócio), escalável, reptível, em condições de extrema incerteza, ao redor de um produto, serviço ou plataforma».

Mário Nogueira devia ter trocado os panfletos por um voucher/convite e pedido uma audiência ao dito Paddy Cosgrave. Ele percebe bem mais do que o líder da Fenprof sobre o que fazer para Costa e Centeno abrirem os cordões à bolsa. 
E depois sempre podiam criar uma startup de manifestações sindicais, no sector da educação. É um modelo que precisa de ser muito aperfeiçoado, mas é altamente escalável (muitos professores ainda estão no sopé da montanha). Serviço já temos que chegue e plataforma [sindical] também; o que nos falta mesmo são os milhões de euros em dívida, mas não desesperemos. Para isso lá estará o mago Paddy Cosgrave par ensinar alguma coisa ao nosso grande líder... sindical. 
GAVB