Por princípio, sou avesso a proibições, imposições, coações. É verdade que os exageros ou os abusos levam muitos pais, educadores e professores a adotarem a famosa tática da proibição, mas tento resitir-lhe o mais que posso.
Nos últimos meses tenho assitido a uma pequena cruzada anti-telemóveis, nas escolas portuguesas. Não pertenço ao grupo e, mais do que uma vez, já declarei que ele deve ser cada vez mais usado na sala de aula, pois é um instrumento que permite multiplas funções e interações.
Acho pobre a justificação de que «os miúdos aproveitam logo para ir a sites de diversão, fazer pesquisas indevidas, fazer um uso virado para o lazer e não orientado para o objetivo da aula». Comigo sempre aconteceu ao contrário. Sempre que autorizei o uso do telemóvel dentro da sala de aula, ele tornou-se útil a grande parte dos alunos, retirando dúvidas momentâneas, permitindo a leiura de livros ou documentos inacessíveis naquele momento, tornando a aula mais interativa e participada.
Não sou um fundamentalista do uso do telemóvel pelos alunos, mas acho pouco inteligente tentar contrariar uma realidade que já se impôs, que é apresentada como o futuro da comunicação e do ensino, que facilita a interação entre docente e discente.
O que é necessário é ir libertando dependência do aluno do telemóvel quando tal não o beneficia de todo: no convívio inter pares, na relação com os pais, quando assitem a espetáculos artísticos ou desportivos. E mesmo aí sem proibir. Fazê-los perceber que há que disfrutar a companhia dos colegas, dos pais, dos irmãos e dos amigos. É o que tenho feito com os meus e tem resultado.
Obviamente haverá sempre quem se mantenha terrivelmente obcecado e precise de uma intervenção mais enérgica e assertiva, mas esses não são a maioria.
Entretanto seria interessante que as escolas ganhassem espaços e divertimentos, onde os alunos pudessem usar a sua criatividade e capacidade de interagir com os colegas offline. Muitas escolas ou agrupamentos de escolas investeram zero em material, equipamentos ou atividades que ocupem os tempos livres dos alunos.
É confrangedor que em 2018, mil e tal alunos tenham umas mesas de ping-pong sem rede, uns matrecos avariados e uma sala enorme com três ou quatro mesas redondas e uma dúzia de cadeiras numa enorme salão vazio, sombrio, e sem graça para se divertirem nos intervalos, há mais de vinte anos, sem que nenhum responsável (professor, direção, associação de pais, autarquia) toma a iniciativa de o melhorar o panorama.
É sempre mais fácil culpar o telemóvel.
GAVB
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