No último quartel do século XV, quando os povos peninsulares se preparavam para descobrir o mundo que existia para lá da Europa, o cavaleiro alemão, Nicolau Popplau, oriundo da Silésia, viajou pelo continente europeu, entre 1483 e 1486, e fez uma paragem em portugal.
A sua estadia no nosso país permitiu-lhe fazer um interessante retrato dos portugueses, que foi muitas vezes recordado, nos últimos cinco séculos.
«Os portugueses são entre si e para o seu rei, com exceção da nobreza, muito mais leais que os ingleses; nem são tão cruéis e desasinados como estes. No comer e no beber mais moderados. São mais feios, de cor morena e cabelo preto. Dados a folgar , não gostam de trabalhar e por isso não dão hospedagem para ganhar dinheiro, nem a nacionais, nem a viajantes. São grosseiros, gente sem bondade nem misericórdia, incluindo a própria corte do rei. [...] Muitos vivem unicamente de pão e água. Há poucas mulheres belas, que parecem mais homens que mulheres, porém têm olhos geralmente negros e formosos; penteiam-se sem exagerados adornos no cabelo, cobrem o colo com um pequeno laço de lã, ou com um laço de seda; deixam mirar livremente a a cara e trazem o vestido e a camisa decotados, de maneira que se pode ver metade do seio; da cintura para baixo trazem muitas saias, por isso o revés do corpo parece garboso e grande como um ganso de São Martinho, e tão volumosos que, deveras o digo, não hei jamais visto coisa assim maior.»
O discurso do alemão é tão desconcertante como ambivalente, misturando elogios e críticas de gosto bastante duvidoso, até porque uma das qualidades dos portugueses mais gabadas externamente é a hospitalidade e, atualmente, o país ganha bom dinheiro com o turismo. No entanto, no meio do texto do alemão ficou cravada aquela frase, "Dados a folgar não gostam do trabalho", que, tenho a impressão, constituiu o fio condutor do pensamento do alemão médio sobre os portugueses.
Não deixa de ser curioso que a nossa opinião sobre certos povos se baseia em algo tão frágil como a opinião, muito subjetiva, do nossos conterrâneos que, em determinado momento, visitaram um dado país e entraram em contacto com um número pequeno de habitantes desse território. Ou seja, não raras vezes, assentamos a nossa avaliação sobre um povo num preconceito, numa observação magoada ou uma impressão de dois ou três dias. É muito pouco e muito leviano.
GAVB
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