É provável que, nos próximos dias, os oitenta mil alunos que ainda não sabem as suas notas as venham a conhecer.
Também é muito provável que elas não correspondam à justa avaliação do seu
trabalho.
Quem já participou num conselho de turma, sabe perfeitamente que é
raro não haver alteração de notas e que tal é decisivo para a transição, para a
média final do aluno, para a candidatura ao quadro de mérito.
Isso tudo ficará
em causa. O ministério da educação diz que os alunos têm direito à avaliação. É
um facto, todavia, devia acrescentar que as suas ilegais notas informativas, as
suas chantagens inadmissíveis ditarão uma avaliação injusta e pior do que aquela
que o aluno poderia obter.
Não haverá honestidade intelectual para admitir
isso.
Além da derrota dos fundamentos
de um sistema de avaliação em que 93% dos alunos foram avaliados, durante este
ano letivo, esta semana assistiremos também à derrota da escola pública
enquanto baluarte da democracia e do estado de direito. Três ou quatro
professores decidirão por dez; as leis do país serão desrespeitadas, porque
temos um governo autista e diretores com medo que o próximo ano comece “torto”.
Não será desta maneira que começará melhor. Têm medo de não ter tudo pronto a
horas? Terão algo muito pior: professores totalmente desiludidos com os seus
diretores, zangados uns com os outros, descrentes na escola enquanto lugar de
liberdade, democracia e justiça.
Estarão reunidas as piores
condições para fazer uma próxima “temporada” de grande qualidade, porque os docentes se
sentirão traídos e desesperançados.
Que tipo de rendimento se pode esperar de
gente com este estado de alma, daqui a dois meses? Não é verdade que para
ensinar qualquer um serve. Não é verdade que um professor desmotivado, desiludido,
desencantado ensine da mesma maneira que um professor comprometido com a Escola.
Não nos venham com discursos
bonitos, com apelos à nossa responsabilidade, à nossa paixão pelo ensino,
quando o destruíram, com requintes de malvadez, a nossa confiança em que nos devia defender, quando nos desrespeitaram com
prazer.
Não nos peçam que “vistamos a camisola” da Escola com alma, quando
agora querem um papel. Se querem um papel, é um papel que terão, mas não só
agora.
Durante a próxima semana não
derrotarão a greve nem a luta dos professores. Um terço é sempre menos de
metade, um terço é a vitória dos batoteiros. Um terço é uma derrota das
grandes.
Ficaram com um papel, uma ata ilegal, uma pauta com notas suspeitas.
Façam bom proveito. Conseguirão fazer História.
GAVB
Parabéns ao autor deste texto! Quem é ou foi professor percebe o que ele diz e sente !
ResponderEliminarMuito bem dito! Esse é, certamente, o sentimento da maioria... dos outros 2/3.
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