A pergunta é feita pela jornalista Catherine Price no seu mais recente livro.
Se estivéssemos a falar de pessoas, acho que todos estariam mais descansado quanto ao fim rápido da relação, mas como estamos a falar de algo "smart", sem alma nem coração, telecomandado pela elite da inovação científica, não é nada certo que a obsessão termine sem fazer estragos.
Price escreve uma espécie de manual de desintoxicação do telemóvel que parte de duas premissas: a vontade do smartphone-dependente em largar o vício e a consciência de que terá de ser um processo gradual e não definitivo.
Tal como com outros vícios convém assumir a dependência para a tratar. É igualmente importante reconhecer a supremacia do adversário e ter consciência que, numa primeira fase e fruto de muito esforço e persistência, apenas conseguiremos circunscrever a fera.
A senhora Price aconselha, num primeiro momento, a usarmos outras formas de aceder a net, numa espécie de ligação de substituição.
Na minha perspectiva, uma forma eficaz é usarmos a força do «bicho» contra o próprio. Grande parte da nossa dependência, está relacionada com a utilização das redes sociais. Saber a resposta a um comentário, ver os likes nas fotos ou a resposta à mensagem que deixamos faz-nos ir vezes sem conta ao telemóvel, num tique nervoso que nos desgaste psicológica e fisicamente.
O modelo das redes sociais tornou-nos seres humanos diferentes: mais ativos, mais opinadores, mais ousados mas também mais cobardes. Está na altura de invertermos as regras do jogo. Menos opiniões e mais acção. Trocar os likes por um elogio de viva voz, optar por encontros presenciais em vez do uso do chat ou da câmara. Ganhar o hábito de desligar o telemóvel uma ou duas horas durante o dia; deixá-lo em casa quando se vai ao café, por exemplo.
Fomos capturados por uma máquina smart, mas não invencível. Tal como em qualquer jogo, temos novamente a eterna luta Homem/máquina, sendo que o grande desafio para o humano é deixar de estar obsessivamente apaixonado pela máquina.
Temos de nos voltar a apaixonar por pessoas, alguém que nos possa desiludir e nos permita... voltar a apaixonar.
GAVB
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