Dar tudo a todos! Fazer com que todos (ou quase todos)
atinjam a meta da escolaridade obrigatória com sucesso! – eis o grande desígnio
da escola pública em Portugal.
É um excelente princípio, mas não pode consumir todos os
recursos, todas as estratégias de ensino. A escola pública tem de olhar além do
abandono escolar, além da indisciplina, além da cumprimento da escolaridade
obrigatória, alocando recursos, repensando atuações para fazer avançar aqueles
que cumprem com facilidade o fundamental e almejam saber mais e melhor.
Muitas aulas são pensadas em função dos alunos mais fracos
ou medianos. O ritmo, as estratégias de aprendizagem, a condescendência com
alguma indisciplina, a exigência, a avaliação… quase tudo o que importa tem por
objetivo recuperar quem insiste em estar desatento, em não cumprir com as suas
obrigações, em ser indisciplinado. O professor consome grande parte do seu
tempo em arquitetar estratégias de recuperação para os alunos com mais
dificuldades, o que em muitos casos se confunde com desleixo, desinteresse,
desrespeito. Pouco ou quase nada fica para aqueles que cumprem com os seus
deveres e manifestam vontade em aprender, evoluir.
São esses alunos que suportam com estóica paciência a turma
barulhenta da sala ao lado, o colega de carteira que insiste em boicotar a
aula com graçolas impertinentes, o consecutivo adiamento de testes, a falta de
atividades desafiantes.
Quando os professores decidem marcar quatro ou cinco testes
numa semana pensam quanto será difícil para um bom aluno obter excelentes resultados
em todos eles? Pensam como será frustrante para esses alunos terem sido
cumpridores, atentos, colaborantes e não terem tido mais do que uns minutos da
atenção do seu professor durante semanas?
Quando chega o momento da avaliação, um aluno fraco ou
mediano pode falhar metade das respostas ao seu teste que conseguirá o seu
objetivo, já o bom aluno ficará aquém do pretendido se falhar três perguntas. Conheço
muitos bons alunos que sentem uma revolta imensa ao verificar que o seu
trabalho não é reconhecido nem apreciado com justiça.
Além da sala de aulas, da mentalidade dos professores, há
também a considerar o espaço e as atividades extracurriculares que a escola
pública oferece (ou não oferece) aos seus melhores alunos. Que motivação
encontra um aluno numa escola velha, feia, claustrofóbica, que nada tem para oferecer a um aluno com desejo de descoberta e conhecimento?
Onde não existem espaços atrativos de convívio, onde não há atividades extracurriculares
que vão além do lápis e do papel, onde a falta de recursos é gritante...
Como quer a Escola Pública preservar os seus melhores
alunos se não tem laboratórios a funcionar, se é desconfortável, se não aposta
em atividades extracurriculares adequadas aos tempos em que vivemos, se trata
com desleixo e desprezo aqueles que melhor a servem?
Os quadros de mérito são fantásticos, os diplomas também,
mas acho que eles trocariam isso por uma Escola que os fizesse melhores e mais
felizes.
GAVB
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