Finalmente é atribuído a Manuel Alegre o maior prémio da
língua e literatura portuguesaS – o Prémio Camões. E ele mereceu-o totalmente.
Alegre é um poeta excecional. Apaixonado e apaixonante, interventivo,
concreto e idealista, opinativo, sem medo das palavras e das posições. É fácil
encontrar beleza singular na maioria dos seus poemas, porque nele respira um
talento Ímpar para fazer poesia.
E Manuel Alegre sempre soube fazer da poesia uma «coisa» de
todos e para todos. Mais do que uma arma de arremesso contra a ditadura, a sua
poesia era a defesa da liberdade, um grito contra opressão viesse ela da Pide
ou da Troika.
Talvez o envolvimento político que nunca abandonou nem renegou
tenha impedido que fosse o poeta consensual que merecia, mas Manuel Alegre
nunca soube ser de outra maneira. Talvez por isso o Prémio tenha chegado tarde,
mas o importante é que acabou por lhe ser feita justiça.
A poesia de Alegre aquece-nos o coração e a alma, mantendo
sempre um alto nível literário, porque Alegre não ficou parado na “Trova do
Vento Que Passa”, ele escreveu também belíssimos poemas sobre Eusébio (“Havia
nele a máxima tensão / Como um clássico ordenava a própria força / Sabia a
contenção e era a explosão / Não era só instinto era ciência / Magia e teoria
já só prática / Havia nele a arte e a inteligência / Do puro e sua matemática /
Buscava o golo mais que golo - / …. / Despido do supérfluo rematava / E então
não era golo - / Era poema.” ), como escreveu de modo certeiro
sobre o "Resgate" que Portugal foi alvo há pouco anos:
“…./ Por isso podem cortar / Punir / Tirar a música às vogais / Recrutar quem os sirva / Não podem cortar o verão / Nem o azul
que mora aqui / Não podem cortar quem somos!”
No
entanto, o melhor de um poeta é quando ele escreve sobre sentimentos e nisso Alegre também é fabuloso. De entre os vários poemas que escreveu escolho um de 1995, «Coisa Amar»
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
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