Etiquetas

quinta-feira, 8 de junho de 2017

MANUEL ALEGRE VENCE O PRÉMIO CAMÕES




Finalmente é atribuído a Manuel Alegre o maior prémio da língua e literatura portuguesaS – o Prémio Camões. E ele mereceu-o totalmente.
Alegre é um poeta excecional. Apaixonado e apaixonante, interventivo, concreto e idealista, opinativo, sem medo das palavras e das posições. É fácil encontrar beleza singular na maioria dos seus poemas, porque nele respira um talento Ímpar para fazer poesia.




E Manuel Alegre sempre soube fazer da poesia uma «coisa» de todos e para todos. Mais do que uma arma de arremesso contra a ditadura, a sua poesia era a defesa da liberdade, um grito contra opressão viesse ela da Pide ou da Troika.
Talvez o envolvimento político que nunca abandonou nem renegou tenha impedido que fosse o poeta consensual que merecia, mas Manuel Alegre nunca soube ser de outra maneira. Talvez por isso o Prémio tenha chegado tarde, mas o importante é que acabou por lhe ser feita justiça.


A poesia de Alegre aquece-nos o coração e a alma, mantendo sempre um alto nível literário, porque Alegre não ficou parado na “Trova do Vento Que Passa”, ele escreveu também belíssimos poemas sobre Eusébio (“Havia nele a máxima tensão / Como um clássico ordenava a própria força / Sabia a contenção e era a explosão / Não era só instinto era ciência / Magia e teoria já só prática / Havia nele a arte e a inteligência / Do puro e sua matemática / Buscava o golo mais que golo - / …. / Despido do supérfluo rematava / E então não era golo - / Era poema.” ), como escreveu de modo certeiro sobre o "Resgate" que Portugal foi alvo há pouco anos:

 “…./ Por isso podem cortar / Punir / Tirar a música às vogais / Recrutar quem os sirva / Não podem cortar o verão / Nem o azul que mora aqui / Não podem cortar quem somos!”

No entanto, o melhor de um poeta é quando ele escreve sobre sentimentos e nisso Alegre também é fabuloso. De entre os vários poemas que escreveu escolho um de 1995,  «Coisa Amar»

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.


Sem comentários:

Enviar um comentário