Apesar de ninguém o admitir abertamente, o cinema perde espectadores de forma acelerada um pouco por todo o mundo. Só o inusitado aumento do preço dos bilhetes tem permitido que as receitas vão cobrindo as vorazes despesas da indústria cinematográfica. No entanto, este truque não é sustentável por muito mais tempo e a chegada em força da Netflix ao mercado ao europeu bem como a disponibilização do streaming dos filmes mais recentes poucas semanas após a sua estreia ditarão o fim deste modelo de negócio.
Respondendo ao desafio, a Alamo Drafthouse, uma pequena cadeia de cinemas do Texas, inventou uma fórmula de atração de espectadores às suas sessões de cinema. Nas salas da Alamo não há lugares vazios e até há lista de espera.
E o que têm os filmes da Alamo Drafthouse que os outros cinemas não têm? Além do conforto das cadeiras e da qualidade do som, quem vai ver um filme na Alamo vai ver muito mais que um filme, porque a Alamo recriou o conceito de ida ao cinema, oferecendo um espetáculo total, que mistura cinema, teatro, comédia, networking.
Em cada sessão, instala-se na primeira fila o Master Pancake, que não é mais do que um trio de comediantes de rádio, que passam o filme a fazer comentários hilariantes às várias cenas e diálogos, produzem sons desconcertantes, substituem diálogos, criam uma alternativa aos momentos de silêncio, interrompem a exibição do filme e resolvem fazer um improvisado momento de comédia...
Apesar de um filme ser sempre o motivo central das intervenções, há espaços para oportunas conexões com a atualidade política, cultural ou social nacional ou local.
Claro que isto só pode ser feito por gente que conheça muito bem o filme, que não se alongue nas intervenções e saiba ser oportuno.
Obviamente que este conceito de Cinema Gourmet não é extensível a todos os filmes nem aplicável a estreias absolutas. Exige que já tenhamos visto o filme pelo menos uma vez, mas cria um mercado que julgávamos morto e atrairá muito mais gente às salas do cinema.
A ideia nascida no Texas chegará a Los Angeles daqui a um ano e estou certo que fará furor na Europa. Voltaremos a ir ao cinema para ver aquilo que temos guardado em DVD ou em ficheiros do computador, na esperança de perceber a transformação que os olhos do espetador/comentador fizeram daquele objeto artístico.
GAVB
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